O peso das coligações partidárias italianas, segundo a AGI

Há pouco mais de duas semanas das eleições italianas, que se realizam no dia 4 de março, as últimas sondagens com divulgação permitida pela legislação eleitoral peninsular indicavam que a coligação de centro-direita, capitaneada por Silvio Berlusconi (Forza Italia) e Salvini (Lega Nord), deverá sair vencedora nas urnas, mas não em condições seguras de tranquila maioria. “A centro-direita poderia já ter a vitória no bolso” – publicou no último dia 17 o jornal “La Repubblica”.

“Se nas eleições de 4 de março [a centro-direita] conquistar de fato todos os colégios uninominais nos quais atualmente aparece em vantagem (mesmo de apenas um ponto) teria já a maioria no Senado, com 162 cadeiras, e estaria próximo de conquistá-la na Câmara, onde garantiria 316 cadeiras”, prossegue o jornal, assegurando que, para a coligação, “faltariam apenas 4 a mais para superar o número de 316”. Mas a essas alturas – acrescenta o jornal – “encontrar um pequeno grupo de ‘responsáveis’ certamente não seria impossível”.

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A análise do jornal coloca, assim, no centro do teatro eleitoral a importância dos resultados ainda não suficientemente avaliados dentro da Circunscrição Eleitoral do Exterior, onde têm direito ao  voto cerca de quatro milhões de eleitores – cerca de 1,3 milhão na América do Sul -, capazes de, outra vez, determinar a sorte do novo governo italiano, repetindo em nova versão fatos da eleição de 2006.

O jornal italiano vale-se de uma análise de Salvatore Vassalo, professor de Ciência Política da Universidade de Bolonha, sobre os resultados das últimas sondagens eleitorais, que não contam dados sobre os eventuais eleitos no exterior. Estes poderão, devido às regras eleitorais italianas, catapultar ao parlamento candidatos inscritos em partidos que, não ultrapassando a barreira dos 3%, ficariam sem cadeiras tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados.

Seria o cado de algumas coalisões que concorrem também na América do Sul, como a “Civica Popolare”, à qual se engajou a candidata Renata Bueno: nas últimas pesquisas, todos os institutos indicam que, na Itália, obterá ente 0,5 e 1% das preferências, enquanto a LeU – “Liberi e Uguali”, que inscreveu os candidatos Walter Fanganiello Maierovitch e Silvana Rizzioli, estaria entre 6 e 8% das preferências italianas. “Più Italia com Emma Bonino”, que no Brasil não inscreveu candidatos, abocanharia uns 4% segundo as mesmas sondagens.

A se confirmar essa tendência e admitindo que Renata Bueno consiga os votos necessários na área da América do Sul para sua reeleição, ela repetiria o feito da eleição exterior, quando se elegeu pela Usei – “Unione Sudamericana Emigrati Italiani”: ser a única parlamentar a representar no Parlamento italiano a coligação “Civica Popolare”.

Mesmo com números que garantiriam a presença de sua coalião no Parlamento, esse fantasma da barreira preocupava ontem o candidato Fanganiello que, em sua condição de jurista, foi consultado por Insieme sobre o assunto. Nesta manhã, entretanto, após trocar informações com a direção do partido, em Roma, ele disse que “o sistema eleitoral para o exterior não está vinculado à obtenção da barreira de 3%”, pois é regido pelo “sistema proporcional puro”.

Serviços de pesquisa italianos  – mais de uma dezena – como a SWG, arriscam um prognóstico: a centro-direita obteria entre 263 e 273 cadeiras na Câmara e entre 130 e 140 cadeiras no Senado; a centro-esquerda ficaria com um resultado que lhe garantiria entre 141 e 151 cadeiras na Câmara e de 63 a 71 no Senado, enquanto o M5S – Movimento Cinque Stelle, sozinho, abocanharia entre 174 e 184 cadeiras na Câmara e entre 92 a 100 cadeiras no Senado. ‘Liberi e Uguali’ teria entre 21 e 27 deputados e de 9 a 13 senadores. Nenhum dos institutos de sondagem arriscam prognósticos sobre alguma cadeira para “Civica Popolare” de Lorenzin.

Entretanto, na média, todas as sondagens confirmam as tendências dos últimos seis meses: Maioria certa não existe. A centro-direita, que é a coalisão que está na frente das três tendências, no máximo poderia chegar a obter 296 cadeiras, ou seja, 20 a menos do que seria necessário para governar sozinha (consensos entre 37 e 38%). M5S (com consensos entre 27 e 28%) e centro-esquerda (consensos entre 27,6 e 39,6%) estão mais distantes disso. Para um governo pós 4 de março, se se confirmarem essas tendências, seria  necessária uma coalisão que até agora nem se imagina como seria costurada, havendo quem fale em “governo técnico” ou, mesmo, novas eleições.

Internamente, dentro da coalisão de centro-direita, Forza Italia de Silvio Berlusconi oscila – conforme o instituto de pesquisa – entre 15 e 16%, enquanto a Lega Nord, de Salvini, dança entre os 13 e os 14%. O terceiro partido da coalisão – Fratelli d’Italia – tem consensos que vão de 4,5 a 5%, enquanto a chamada “quarta perna”, ou seja, “Noi con l’Italia UDC” estaria entre 2 e 3%. Dentro da centro-esquerda, tirando “Liberi e Uguali” e “Potere al Popolo”, nenhuma outra lista se configura em condições de superar a barreira necessária para colocar algum representante sobre uma cadeira do Parlamento italiano.

Como de agora até o dia das eleições não podem mais ser divulgados os resultados das sondagens, diversos mecanismos já testados em outras eleições continuarão a fornecer elementos para sinalizar a tendência do eleitorado que continua bombardeado pela cada vez mais intensa campanha eleitoral. Berlusconi, por exemplo apareceu recentemente na televisão para firmar um  “compromisso com os italianos”, lembrando seu famoso “contrato” de 2001, depois de mais uma de suas frases de efeito como “O fascismo está morto e sepultado; o perigo é o antifascismo”.

Por sua vez, Matteo Renzi passou a ‘namorar’ o atual presidente do Conselho de Ministros, Paolo Gentiloni, como um provável primeiro ministro em seu lugar, tudo para tentar pacificar os ânimos, fenômeno que na centro-direita também é explorado com a troca de gentilezas entre Salvini e Berlusconi que, no caso de vitória do primeiro, garantiria o Ministério do Interior a Berlusconi que, por sua vez, prefere ali o próprio Salvini sem, entretanto, quem seria o premiê.