Vista aérea da cidade de Siderópolis, cuja população discute a volta para o nome original de Nova Belluno. (Foto PM Siderópolis)

Com um percentual de quase 90% de descendentes de imigrantes italianos sobre a população total calculada em torno de 15 mil habitantes, Siderópolis, situada no Sul de Santa Catarina e distante 215 quilômetros de Florianópolis, vê crescer o movimento para o retorno a seu nome original – Nova Belluno, ou Belluno.

Quem informa é João Lazzaris Neto, depois da celebração (dia 15) de missa em comemoração ao 127º aniversário de colonização da área, durante a qual o prefeito Hélio Cesa informou aos presentes na cerimônia que estava “iniciando o movimento para fazer a mudança do nome do município”.

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Segundo Lazzaris Neto, o prefeito disse que a volta ao nome original do lugar “é uma questão de justiça, porque a mudança do nome de batismo em 1893 (chamava-se simplesmente Belluno), foi estabelecida em 1943 pelos militares por conta da II Guerra Mundial”. Depois de muitos anos e com “muita luta e dificuldades de abnegados – disse ele – conseguimos colocar o assunto para a decisão popular. O assunto já foi submetido pelo prefeito à Câmara Municipal e obteve parecer favorável.

Ao comunicar o fato a Insieme, Lazzaris Neto o fez também para o presidente da ABM – ‘Associazione Bellunesi nel Mondo’, Oscar de Bona, que se disse “muito feliz por essa concreta possibilidade de reparo de uma injustiça”, e que “toda a ABM está com vocês e faremos de tudo para estarmos presentes também nós”.

Siderópolis é um dos tantos municípios, associações e entidades brasileiras que foram obrigados a mudar nome durante o período da II Guerra Mundial, por ordem do então governo de Getúlio Vargas. Seu nome (que em grego significa a cidade do ferro) foi dado em função da exploração mineral para a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN que, entre outras coisas, fabricava ferro e aço para a indústria bélica internacional.

Uma campanha elaborada pela Família de Siderópolis da ABM narra a história que culminou com a mudança de nome da localidade e pede que os adeptos da proposta de retorno ao nome original difundam a verdade dos fatos ocorridos no passado: O documento, que cita inclusive nomes de italianos presos durante o perído da ditadura Vagas, tem como título “A verdadeira história da troca de nome de Nova Belluno por Siderópolis em 1943”. Transcrevemos abaixo os os principais trechos.

Localização de Siderópolis no mapa do Brasil e de Santa Catarina (Wikipedia).

“Fortes motivos econômicos na Itália, aliados à necessidade do Brasil em povoar o seu território, na iminência de ocupação desta região por outros países, o governo brasileiro, firmou acordos binacionais com o governo italiano, trazendo, assim, milhares de italianos para nossa região. Nenhum livro de história sobre a nossa cidade de Nova Belluno conta a verdade sobre alguns fatos que culminaram com a mudança de forma brutal e violenta para: Siderópolis. Só com a história se aprende a não cometer os erros do passado.

Estes dados foram colhidos junto a pessoas que ainda vivem em Nova Belluno: Albino Pagani, Olga Savaris, Hilário Olivo, Alda Savaris, Vitor Cesa, Angélica Cesa, Mário Feltrin, Maria Bez, Maria Pattel, são pessoas que estão aí para contar a brutalidade vivida e fatos pitorescos.

• 1891 – Criação da Colônia de Nova Veneza e dos núcleos de Belluno, Treviso, Belvedere e Jordão.

• 25/04/1893 – Instalação solene da Colônia de Nova Veneza, com festas em Nova Veneza (sede) e estendidas para os núcleos de Treviso, Belluno, Jordão e Belvedere.

• 23/08/1913 – Criado o Distrito de Nova Belluno pela Lei Municipal no. 60, da comarca de Urussanga,SC.

• 1938 – As eleições para Presidente do Brasil não são realizadas. Getulio Vargas cria o Estado Novo e governa o Brasil em regime de ditadura até a sua deposição em 1945.

• Setembro de 1939 – Explode a 2a. Guerra Mundial. De um lado os países do eixo-“Roberto’ – Roma, Berlim, Tóquio – ou Itália, Alemanha, Japão. Do outro lado ficaram Estados Unidos, França, Inglaterra e URSS.

• 09/04/1941 – Criada no Brasil a C.S.N. e , após um acordo diplomático denominado Acordos de Washington, o Brasil ganha dos Estados Unidos, através da C.S.N. A Usina de Volta Redonda, RJ., para produzir ferro e aço que seriam utilizados pelos aliados fabricarem armamentos durante a 2a. grande guerra.

A etimologia da palavra Siderópolis, (sider em grego = ferro; polis em grego = cidade) nos leva à homenagem que os comandantes fizeram, deste nome, para a atividade siderúrgica, que acabava de ser instalada pelo Governo Federal no RJ.

• 1941 – a C.S.N. é instalada no Distrito de Nova Belluno, para extrair carvão mineral para alimentar a Usina de Volta Redonda e assim fabricar armas; neste mesmo ano tem inicio a construção da estrada de ferro e do túnel.

• 1942 – O Brasil entra na 2a. Guerra Mundial, aliando-se aos Estados Unidos.

• 1941, 1942 1943 – Começam em Nova Belluno as perseguições aos italianos e seus descendentes, com a proibição de falarem a única língua que sabiam além do confisco de suas terras que seriam usadas para a mineração.

• 31/12/1943 – Sob forte influência dos generais e militares que administravam a C.S.N. e através do Decreto Lei Estadual no. 941, o interventor do Estado de Santa Catarina, Nereu Ramos, Governador não eleito, mas sim nomeado, sem nenhuma consulta ao povo ou aos fundadores, em represália aos italianos, apaga o nome do Distrito de Nova Belluno; Nova Belluno passa a se chamar Distrito de Siderópolis. Era o Estado Novo da era Getulio Vargas impondo o seu modo de vencer. Houve confronto inevitável: era a guerra entre o Brasil e Estados Unidos contra a Itália.

• 1945 – Final da 2a. Grande Guerra e fim do Governo de exceção de Getulio Vargas.

Esta é a parte da história que ninguém escreveu.

As nossas memórias vivas estão indo embora. O Sr. Vittalino, o sr. Giovanni, o sr. Beppi, etc. sentiram na carne esta imposição. Morreram muito magoados.

• 11/11/1958 – Os Vereadores de Siderópolis (Nova Belluno), srs. José Feltrin, João Sonego, João Cesa e Delírio Egidio Ubialli, entram na Câmara de Vereadores de Urussanga, com o projeto de emancipação no. 3/58, indicando, para o novo município, o nome de Nova Belluno. Através de uma manobra, o vereador de Urussanga, sr. Manoel Nicolazzi, entra com uma emenda, e como os vereadores de Urussanga eram maioria, aprovaram, e trocaram o nome proposto para o novo município que seria de Nova Belluno para Siderópolis.

Na véspera da sessão da Câmara de Vereadores de Urussanga, os “comandantes” da C.S.N. ofereceram aos Vereadores de Urussanga, uma grande festa em Urussanga; no dia seguinte houve a sessão e foi mantido o nome de Siderópolis!!!!!! Uma derrota histórica para aqueles que tanto sofreram e tanto perderam. É como acontece hoje, nas sessões das Câmaras de Vereadores, a minoria, quando sabe que não vai ter êxito , se abstem da votação.

Duas pessoas estranhas ao município mudaram o nome tradicional: Sr. Nereu Ramos interventor do Estado Novo e o Sr. Manoel Nicolazzi, Verador de Urussanga. Pura ingerência.

• 27/04/1990 – Promulgada a Lei Orgânica do Município que permite aos cidadãos decidirem sobre a volta do nome: Nova Belluno ou Belluno.

Lei Orgânica do Municipio de Siderópolis (Nova Belluno), promulgada em 27 de abril de 1990. Título III – Ato das disposições finais e transitírias: “Art. 15. – O município providenciará consulta prévia mediante plebiscito, em data a ser determinada por Lei Complementar, visando consultar o povo se deseja continuar com o nome de Siderópolis ou trocar e passar a usar um dos nomes conhecidos anteriormente: Nova Belluno ou Belluno, nomes tradicionais da data da sua fundação.” Prefeito: José Antonio Périco; Vereadores: Antonio Oscar Roberge; João Antonio Aléssio, Vittorio Ghelere, Valmir F. Comin (Deputado), Lucio Ubialli(Ex-Prefeito), Clesio Salvaro (Ex-Deputado; Prefeito de Criciuma), João Batista Réus Vieira (Indio), Antonio Espíndola Ramiro(Dico) ; Ademir Mota da Silva (Milo)

• 26/04/2009 – Associazione Bellunesi Nel Mondo-Famiglia di Sideropolis, assume a tarefa do resgate do antigo nome: Nova Belluno ou Belluno.

O Povo de Siderópolis-Nova Belluno e da região precisam saber toda a verdade. ( Siderópolis (Sider: Ferro; polis: cidade). Cidade do ferro? Aonde? Ferro aqui? O que nos deixaram? Os lucros e as pessoas foram embora.

Como poderiam os nossos antepassados, fundadores desta cidade reagir pela mudança de nome? Nem falar a única língua que sabiam lhes era permitido! Depois da missa, aos domingos, espiões, fiscais, olheiros, os acompanhavam até os bares para prendê-los se falassem a língua italiana. Jogar a “mora” ou a “bocha” nem pensar, era cadeia na certa. Eles não saiam de casa para não correrem o risco e quando precisavam de algo, para não serem denunciados, se comunicavam por gestos. Era um horror!

Como diz a D. Amélia: interessante porque hoje se paga para aprender a ler e escrever em Italiano e no passado quem tentasse ia para a cadeia. Foram presos : Alexandre Conti, Giggio Olivo (pai de Hilário, Tóio, Dino,Olinda, Luiz (falta o sobrenome), Beppi Cesa, Marcos Savaris, Joana Fontanella, Calixto de Mattia, Silvestrin Venturini, Geronimo Feltrin, Carlo Peterle, Antonio Vendrame Sétimo Gamba e sua mulher Vittória, e muitos outros.

Ainda hoje, no entorno rural e no próprio bairro do Rio Fiorita, quando cidadãos se dirigem à sede dizem: vou a Belluno! Então, não é só formalizar?

A C.S.N. foi uma empresa muito generosa para os seus empregados. Deu-lhes todo tipo de apoio, desde moradia, padaria, açougue, até educação de elevadíssimo nível. Temos aqui, graças à C.S.N. muitos filhos ilustres, profissionais dignos. Ninguém tira o mérito da C.S.N., esta grande empresa do passado. Ela tem muita importância e marcou a sua passagem nesta cidade ! Temos por ela o maior carinho. Merece ser lembrada sempre. Por isto os vereadores do passado renderam a ela homenagem dando-lhe até nome de Rua e a muitos dos seus funcionários, como por exemplo: Porfírio Feltrin., Túlio Rodrigues Lopes, Lutenai dos Santos, Bernardino Neto…

Porém, nossa economia, hoje, é movida por recursos vindos, principalmente, do exterior, dos cidadãos que tem a dupla cidadania que lá trabalham. Nenhuminvestimento na cidade, hoje, é fruto das Carboníferas que por aqui passaram. E, se hoje nós condenamos a Ditadura Militar de 1964 por cometer injustiças e arbitrariedades e buscamos todos os direitos que temos para corrigir os seus erros, é o mesmo caminho: Fazer justiça que ainda não foi feita aos nossos antepassados, e ainda tirar algum proveito, para nós e nossos filhos!

Só queremos, através deste resgate, fazer justiça e com isto, eu, você, seu filho, seu neto, poderemos, no futuro, tirar algum proveito que certamente acontecerá. Os responsáveis pela troca de nome foram os generais e militares do Rio de Janeiro em represália à Itália, sua inimiga de Guerra.

Estas foram as causas. Se você aderir, faremos historia. Seremos a geração que resgatou a tradição! Faremos história sim. Você dirá a seu filho ou neto: eu contribui com esta história. Eu faço parte dela! A comissão”.