O ex-premier italiano e ex-ministro do Exterior, Massimo D'Alema (Foto Ansa/Insieme)

“Vocês não terão mais seus representantes no Senado. Terão apenas os 12 representantes na Câmara dos Deputados, eleitos, além disso, com aquela lei eleitoral – o Italicum – que exclui vocês seja da contagem dos votos que determinam o prêmio de maioria, seja do segundo turno”. Assim o ex-primeiro ministro da Itália e um dos expoentes do Partido Democrático, Massimo D’Alema, escreve numa carta dirigida aos italianos no exterior, pedindo a eles que votem ‘Não’ no Referendum já em andamento fora da Itália e que, na península, ocorrerá no próximo dia 4.

O sistema previsto pela reforma que D’Alema combate dentro do próprio partido do atual primeiro ministro Matteo Renzi “confinará – segundo ele – os italianos no mundo a um mero papel de espectadores”. “O ‘Não’ que estamos pedindo a vocês – diz ainda o ex-premier da Itália – não é apenas para defender os vossos direitos, mas também para bloquear uma ‘reforma’ que humilha o papel das autonomias, reduz a função do Parlamento e concentra os poderes no governo nacional, sem um sistema adequado de contrapesos e controles”. Segundo D’Alema, além de muitos aspectos negativos, “este é o significado de fundo da reforma Renzi”.

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A carta de D’Alema sucede àquela em que Renzi dirigiu também a todos os italianos no mundo pedindo-lhes o voto pelo ‘Sim’ e que causou muitas críticas contra ele no Parlamento e fora dele, inclusive por envolver a estrutura consular e o avanço sobre dados protegidos pela lei da “Privacy”, uma vez que se valeu do endereçário oficial dos eleitores inscritos na rede consular para fins partidários. D’Alema começa sua carta dizendo que o ‘Sim’ ou o ‘Não’ requerido pelo referendum constitui uma decisão importante para mudança ou não da “nossa constituição”, porque ela também pertence aos italianos no mundo que, através da Circunscrição do Exterior, conta com 12 deputados e seis senadores “que introduzimos durante os governos do Ulivo de 1996 a 2001”, modificando os artigos 48, 56 e 57 da Constituição hoje em vigor.

Com o referendum – prossegue a carta de D’Alema – pede-se a mudança de “muitos artigos da Carta”  e também para que vocês renunciem “à representação de vocês no Senado, uma vez que o Senado mudará de função e representará aquelas autonomias territoriais – regiões e municípios – com os quais vocês mesmos mantêm muitas relações culturais, afetivas e mesmo materiais, sobretudo os que continuam a possuir uma casa, um terreno na Itália, onde vão para passar férias ou para estudar; ou quem participa de intercâmbios culturais e comerciais”.

A seguir, o texto, na íntegra e em italiano, da carta: Roma 16/11/2016 –  Care e cari connazionali, in questi giorni siete chiamati a votare al referendum per decidere se cambiare oppure no la nostra Costituzione. È una decisione importante per la nostra democrazia e la nostra rappresentanza. Per “nostra” intendo anche quella degli italiani nel mondo, cioè quella Circoscrizione estero fatta di 12 deputati e 6 senatori che introducemmo durante i governi dell’Ulivo del 1996-2001, con la modifica degli articoli 48, 56 e 57 della Costituzione, quella oggi in vigore.

Con il referendum vi si chiede di cambiare molti articoli della Carta e di rinunciare alla vostra rappresentanza in Senato, poiché il Senato cambierà funzione e rappresenterà quelle autonomie territoriali – regioni e comuni – con le quali voi stessi mantenete molti rapporti culturali, affettivi e persino materiali, soprattutto per chi di voi continua ad avere in Italia una casa, un terreno, vi si reca in vacanza o per studiare. Per chi partecipa a scambi culturali o a interscambi commerciali.

Sarebbe stato importante avere proprio nel Senato delle autonomie territoriali i rappresentanti diretti della Circoscrizione estero, chiamati ad occuparsi del raccordo tra le regioni e i comuni, in materie che riguardano gli italiani nel mondo, dall’internazionalizzazione delle piccole e medie imprese alla tassazione locale sui beni immobili, dagli interscambi culturali alla promozione turistica, all’associazionismo regionale.

Ma ciò non avverrà. Non avrete più i vostri rappresentanti in Senato. Avrete solo 12 rappresentanti alla Camera dei Deputati, eletti, inoltre, con quella legge elettorale, l’Italicum, che vi esclude sia dal conteggio dei voti che determinano il premio di maggioranza, sia dal ballottaggio.

Questo sistema confinerà gli italiani nel mondo in un ambito di esclusiva testimonianza.

Voi, però, avete il potere di fermarlo votando No al referendum.

Il No che vi chiediamo non è soltanto per difendere i vostri diritti, ma anche per bloccare una “riforma” che umilia il ruolo delle autonomie, riduce la funzione del Parlamento e concentra i poteri nel governo nazionale, senza che vi sia un sistema adeguato di contrappesi e controlli. Al di là di tanti aspetti negativi, questo è il significato di fondo della riforma Renzi.

Non voglio dilungarmi sugli aspetti tecnici, che pure, trattandosi della legge fondamentale dello Stato, sono importanti e che hanno indotto i maggiori costituzionalisti italiani a parlare di un bicameralismo pasticciato e confuso. Mi basta aver sottolineato le sostanziali ragioni politiche che hanno spinto, non a caso, anche l’Associazione Nazionale Partigiani d’Italia a opporsi a questa riforma e a mobilitarsi perché essa non venga approvata.

Per tutti questi motivi è importante votare No, chiedendo così al Parlamento di ripensare l’impianto della riforma e di proporre soluzioni che siano più rispettose delle tradizioni democratiche del nostro Paese.

Un caro saluto, Massimo D’Alema