Instado a resumir numa frase curta o sentido de sua candidatura a deputado no Parlamento Italiano, o advogado Luis Molossi, que abre a entrevista em vídeo dizendo-se um “colono de Nova Bassano”, no Rio Grande do Sul, escolheu, após demorada consulta aos seus, a seguinte frase: “Molossi, sempre em movimento pela cidadania plena”.

Ele justifica a escolha, palavra por palavra. Primeiro, seu nome, o candidato; “sempre em movimento” porque “desde os 15 anos [vai] sempre em frente, abrindo caminhos e novas frentes”; “movimento” é o próprio Maie – o partido (recentemente, outros assim se apresentam em todo o mundo) que coordena no Brasil. Finalmente, “cidadania plena” tem a ver com direitos, deveres, bem-estar, língua e cultura – “minhas batalhas”, segundo suas explicações.

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Não é a primeira vez que o advogado e contador Molossi concorre. Na eleição de 2013 obteve 12.5012 votos, ficando na primeira suplência em toda a América do Sul) e, segundo diz, é devido a tantos apoios recebidos que decidiu entrar na briga de novo, confiante na, pelo menos, dobra desses números. Além dos candidatos de outros partidos, terá concorrência dentro do próprio Maie: além de outros nomes ainda não confirmados oficialmente pelo onipresente Ricardo Merlo, que concorre desta vez ao Senado, dividirá números com o também advogado Walter Petruzziello.

Conselheiro do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Paraná e Santa Catarina, presidido por Petruzziello, Molossi faz questão de dizer que se considera um “cidadão 100% porque eu entendo, falo e escrevo na língua italiana”. E, embora a lei não exija o conhecimento da língua para alguém ter sua cidadania italiana por direito de sangue reconhecida, ele defende que as pessoas que buscam seus direitos pensem também sobre seus deveres e, “podendo, façam um curso de língua italiana”.

Molossi prefere não se “apresentar como um político”, embora refira seu trabalho voluntário na comunidade, sempre buscando “o benefício do coletivo”. Pede para que seja esquecido “o individualismo que permeia boa parte de nossos representantes” e lamenta o personalismo, o “culto à cadeira”, o “fazer a foto com o ministro”: É preciso trabalhar, pois falta muito, dá para fazer mais, muito mais, em lugar de reuniões e coquetéis “que não levam a nada”. “Política se faz junto com a comunidade, e nunca no individual, sempre no coletivo”, diz ele.

O candidato lembra os milhares de ítalo descendentes que estão na fila aguardando o reconhecimento de seu direito (a cidadania italiana), enquanto os consulados – ele diz que tem os números – são superavitários, como o de Curitiba que, com nove funcionários apenas, arrecadou ano passado um milhão e 150 mil euros – “um trabalho extraordinário”, elogia. Do cônsul aos funcionários, são todas pessoas que dão o melhor de si, mas o que falta, segundo ele, são políticas que retornem “para a nossa empresa, nossa filial aqui – vamos tratar dessa forma – o que é aqui arrecadado”. Ele lembra que desde que foi instituída a “taxa da cidadania”, foram arrecadados somente no Brasil cerca de 16 milhões de euros.

Molossi defende a necessidade de manifestações da comunidade como a que ocorreu em 12 de outubro último, diante do Consulado Italiano de SP, ou, mais recentemente, quando da apresentação de emenda propondo a alteração do valor da “taxa da cidadania”. Segundo ele, não fosse a mobilização da comunidade, estaríamos entrando em 2018 com uma taxa fixada em 400 euros. “A mobilização – defende o candidato – tem que acontecer o tempo todo” e “tenho orgulho de dizer que em 7 de abril e 12 de outubro, nós mobilizamos as redes sociais e a comunidade”, com os resultados que todo mundo sabe.

O candidato Luis Molossi reconhece na dificuldade para a obtenção do “passaporto rosso” por parte dos cidadãos italianos no Brasil outro grave problema a ser enfrentado. Diz que diariamente recebe solicitações de ajuda e orientação de pessoas que querem o passaporte e adverte: “não vamos aqui discutir o motivo; muitas vezes é, realmente, para ir a Miami fazer compras, mas se é um direito, não temos que discutir isso”. O chamado “monstro informático” precisa ser enfrentado, “precisamos de soluções imediatas e encontrar uma forma para resolver esse assunto, pois não é possível que, criando uma dificuldade para obter um passaporte, você alimente toda uma estrutura de despachantes que acabam faturando com isso” – uma atividade que “não é ilegal, mas é imoral”. “Esse monstro” precisa ser eliminado, afirma Molossi.

Contra qualquer limite geracional no ‘ius sanguinis’, Molossi fala também sobre o projeto que pretende ampliar o ‘ius soli’ na Itália e entra no campo da difusão da língua, da cultura e do ‘Made in Italy’ – outro assunto que relaciona entre os preferidos seus.

Ao final, perguntado qual seria seu primeiro ato caso eleito ao Parlamento, ele volta-se novamente para sua ‘aldeia’ – Nova Bassano, no Rio Grande do Sul: “Sem falso moralismo, eu telefonaria para o prefeito de Nova Bassano, dizendo para ele: olha, Nova Bassano, uma cidade de 12 mil habitantes, tem um representante no Parlamento Italiano”. Claro: Nova Bassano como alusão às pequenas comunidades vênetas e berço em novo mundo da maior parte dos ítalo descendentes, maioria filhos de colonos, do Brasil e da América do Sul.