Luis Molossi em Nova Bassano-RS, durante a campanha eleitoral de 2013 (Foto Desiderio Peron / Arquivo Revista Insieme)

A manutenção das seis cadeiras no Senado é o resultado de maior significado para os italianos no exterior saído das urnas referendárias que impuseram fragorosa derrota a Matteo Renzi, presidente do Conselho de Ministros do governo italiano, na votação deste domingo, segundo o coordenador no Brasil do Maie – Movimento Associativo Italiani all’Estero, advogado Luis Molossi.

Em caso de uma possível dissolução do Parlamento e convocação de novas eleições, Molossi se diz candidatavel: “nosso nome está na lista do presidente do Partido, na merecida quota Brasil”, afirmou ele em entrevista à redação de insieme. O premier Renzi anunciou sua demissão ao reconhecer e assumir a derrota ainda no meio do processo de apuração. Uma das hipóteses é a convocação de novas eleições após a reformulação da lei eleitoral italiana, declarada inconstitucional pela Corte suprema do país.

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Ainda segundo Molossi, ao contrário do que se apregoou durante a campanha, o resultado eleitoral não deverá trazer problemas para comunidades itálicas como a brasileira: “Não acredito que piore o que não está nada bom no que tange ao tratamento dado aos italianos no exterior”, observou, ao criticar o envolvimento de todo o ‘Sistema Itália no Brasil” em torno do ‘Sim’. Confira a entrevista concedida por Molossi, cujo partido, sob a presidência do ítalo-argentino Ricardo Merlo, também esteve engajado pelo ‘Sim’.

Venceu o Não. Melhor para a Itália?

Desde o momento que a campanha ganhou força, as pesquisas indicavam o ‘Não’ como vencedor. Então a maioria do eleitorado não teve dúvida e em nenhum momento. O problema foi o Primeiro Ministro Renzi vincular este resultado ao seu governo. Muitos eleitores votaram contra o Governo Renzi e a condução da economia e não pelas mudanças constitucionais propostas. O mesmo ocorreu com o Cameron no Brexit na Inglaterra, que perdeu a disputa e se demitiu. Já me manifestei que as reformas tinham propostas boas, mas que devia-se votar separadamente e não simplesmente ‘Sim’ e ‘Não’.

Que significa para os italianos no exterior este resultado?

De imediato, a manutenção dos postos dos 6 Senadores dos italianos no exterior, 2 na América do Sul, que seriam extintos e, claro, determinaria uma perda de representação importante, uma conquista muito recente e que, evidentemente, determinaria uma corrida ainda mais acirrada para a Câmera dos Deputados, já que os postos em disputa seriam apenas estes, 12 no mundo, 4 na América do Sul.

Como interpreta a participação dos eleitores no exterior, especialmente os do Brasil?

Ainda não temos os números definitivos, mas os dados até o momento indicam uma participação na média de outras eleições, em torno de 20% a 25%. No caso do resultado, temos mais de 80% a favor do ‘Sim’, o que era esperado, em razão da intensa participação e campanha explícita de todo o Sistema Itália no Brasil, até mesmo com a visita da Ministro Boschi para inaugurar comitês  em favor do mesmo, dos 3 representantes eleitos, sendo que 1 deles fez campanha aberta pelo SIM, mesmo tendo o Presidente do partido defendido publicamente o ‘Não’. E os Comites, exceto o de Curitiba, que se manteve neutro, teve 100% dos demais a favor do ‘Sim’.

Os defensores do ‘Sim’ falavam que, prevalecendo o ‘Não’, teríamos problemas no exterior, tipo fim do direito de voto, continuidade das filas e coisas do gênero. Acredita em castigos?

Não acredito que piore o que não está nada bom no que tange ao tratamento dado aos italianos no exterior, especialmente no tempo de espera para o reconhecimento da cidadania e um simples passaporte. Para o fim do direito do voto teremos que enfrentar outra alteração constitucional e não me parece crível que se esteja querendo propor algo do gênero imediatamente após uma derrota como esta. Não acredito em castigos para quem aprovou com mais de 80% a proposta do Governo Renzi, mesmo tendo sido castigado sistematicamente nos últimos anos com cortes de todo tipo, por todos os governos.

Como analisa a representação parlamentar na área da América do Sul, especialmente a do Brasil, toda ela vinculada ao ‘Sim’?

É realmente um resultado surpreendente, que indica o empenho de todos os atores políticos e administrativos, especialmente no Brasil, em favor do ‘Sim’. Estranhamente bem diferente dos eleitores italianos, que, como vimos, fizeram exatamente o contrário, justamente pelo desejo de “mandar para casa” o Primeiro Ministro. A questão da fila já está resolvida, segundo os nossos deputados, comemorando a recuperação de 30%, ou seja, Eu$ 90,00, dos Eu$ 300,00 cobrados há 2 anos, como acabei de escrever e que está no meu site e na Revista Insieme on line, quando indico que 30% da taxa revertida aos consulados somente poderá ser avaliada com os devidos resultados, dentro de mais 2 anos, ou seja, ao final de 2018. Claro que se efetivamente aprovada no iter que a lei determina. Mas os candidatos já tem a plataforma pronta para as próximas eleições, como “conquistas realizadas”. Cedemos 100%, recuperamos 30% e somos o máximo! Já outros parlamentares tem se esforçado muito em fazer boas fotos, aprender italiano e como fazer política. Foi uma boa escola de mais de 3 anos…

Aposta na antecipação de eleições? Seria candidato e a quê?

Depende da aceitação da anunciada – para o dia de hoje – demissão do Primeiro Ministro Renzi ao Presidente Mattarella que, considerando ainda a maioria do PD no Parlamento, poderá pedir que permaneça e solicite a fiducia para pouco mais de um ano e até o final da atual legislatura. Poderá até haver outra opção de transição até o início de 2018, quando outro Primeiro Ministro possa a vir a ser convocado e até mesmo um governo técnico, como ocorreu com Mario Monti. E se, efetivamente, houver a dissolução do Parlamento e novas eleições, em 90 dias, certamente nosso nome está na lista do Presidente do Partido, na merecida quota Brasil. Se ele e os nossos colegas da direção do Maie entenderem que sou o melhor candidato, o serei. A Deputado, naturalmente, considerando ser atualmente o primeiro suplente do Maie América do Sul, não eleito por combinações desfavoráveis e lamentáveis dos caprichos da política.

Outras considerações que queira fazer.

Estamos tranquilos. Continuamos as nossas lutas, nosso trabalho em favor da Comunidade Italiana aqui residente, com ideias, questionamentos, cobranças, até mesmo buscando mais esclarecer os eleitores sobre como se pode fazer a boa política, sem as velhas e perigosas estratégias de chegar ao poder a qualquer custo, sem preparo, sem conhecimento, sem propostas fatíveis. Não entendemos porque certas pessoas querem estar lá apenas por capricho ou vaidades, com apoios financeiros e de estrutura muito fortes, como é comum nos políticos de sempre, seja na Itália que no Brasil. Espero que as pessoas estejam entendendo e amadurecendo nestas questões, tão importantes e muito discutidas atualmente no nosso Brasil. Mas não é nada fácil…