Mariano Gazzola, presidente Maie na Argentina. (Foto Divulgação/Facebook)

“Nós italianos no exterior precisamos de dirigentes políticos de verdade e não de “peões” a serviço dos partidos romanos”. A afirmação é do ítalo-argentino Mariano Gazzola, vice-secretário para a América Latina do CGIE – Consiglio Generale degli Italiani all’Estero, ao comentar a repercussão que obteve a divulgação dos índices de produtividade dos parlamentares italianos, que colocam o deputado Fabio Porta (PD) em terceiro lugar na classificação geral.

A posição de Gazzola, que é também presidente do Maie – Movimento Associativo Italiani all’Estero na Argentina, coloca mais lenha na fogueira ardente em que se transformaram as relações entre os deputados Porta e Ricardo Merlo – este classificado em 480º lugar no item produtividade, entre os 630 deputados com assento no Parlamento Italiano.

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“Nosso ‘Onorevole’ – observa Gazzola, referindo-se a Porta -, que hoje se orgulha desta posição na tabela, na legislatura passada terminou na 369° posição. Então antes – nos anos de 2008 a 2013 – não trabalhava, e agora sim?”. Um dos temas que divide as duas correntes é exatamente a taxa dos 300 euros, cobradas desde meados de 2014, para cada processo de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue. Os integrantes do Partido Democrático (que dá sustentação ao governo) votaram em peso pela aprovação da medida. Merlo acha absurdo que se cobre pelo reconhecimento de um direito.

Em artigo publicado em diversos canais da mídia eletrônica, Gazzola defende Merlo e desmerece o trabalho da Associação Openpolis, que desenvolve importante trabalho de informação sobre a atividade parlamentar italiana em todos os níveis desde 2008. “Na arapuca do exibicionismo caem todos, mais cedo o mais tarde, até mesmo os parlamentares”, afirma Gazzola, cujo artigo integral publicamos na sequência:

“Na semana passada, Openpolis – a associação que, trabalhando com os ‘open data’, procura promover a participação cívica – publicou o seu “índice de produtividade parlamentar”, que seria uma espécie de “classificação” dos representantes no Parlamento Italiano.

A mesma organização Openpolis esclarece que este índice não reflete que o trabalho de um certo parlamentar seja bom ou ruim, mas tem o objetivo de fazer crescer a autoestima daqueles parlamentares que, verificando estar na “parte alta” da tabela, logo correrem a publicar a notícia na grande rede.

Come se fossem crianças que, na segunda-feira, voltando à escola, exibem triunfantes o troféu ganho no domingo no torneio paroquial de futebol infantil, com um grito de “sou um grande campeão”.

Na arapuca do exibicionismo caem todos, mais cedo o mais tarde, até mesmo os parlamentares. Assim, nos ocorre de um dos nossos eleitos no exterior, publicar nas redes sociais etiquetando os nomes de todos os seus contatos – dirigentes da comunidade italiana e não apenas – a foto da classificação que o coloca em 3º entre 630 deputados no quesito “produtividade”.

Pecado é que tanta produtividade tenha sido usada para apoiar, nos últimos 4 anos, um governo de esquerda que destruiu a rede Consular, nos encheu de taxas (como os Eu$ 300 sobre o direito de cidadania) cortou sistematicamente os fundos para a promoção da língua e cultura italiana no exterior, etc, etc…

Voltando à tabela de classificação Openpolis, é evidenciado, porém, que entre todos os parlamentares das diversas forças políticas italianas, aqueles realmente importantes, que determinam a agenda, aqueles que tomam as decisões, enfim, os políticos que contam, estão na parte final da tabela.

Por exemplo: Roberto Fico e Alessandro Di Battista (dois conhecidos expoentes do M5S) estão na posição 369°, Silvio Berlusconi (na legislatura precedente) era 577°; Giorgia Meloni (Presidente de Fratelli d’Italia) na posição 489°, Matteo Orfini (Presidente e secretário ad interim do PD) é 609°; Pier Luigi Bersani (ex-secretário PD) somente chega em 611°.

Interessante verificar, por exemplo, na legislatura anterior, o atual Ministro da Justiça (e concorrente à secretaria do PD) Andrea Orlando, está no 473° lugar, o atual Ministro do Exterior Angelino Alfano (líder da NCD) era 491°, enquanto o atual Primeiro Ministro Gentiloni (sempre na legislatura anterior) acabou na posição 469°.

Na Câmera Alta, no Senado, o índice coloca entre os melhores senadores por produtividade parlamentar Antonio Razzi (61° entre 315)… Sim, exatamente: Razzi é um que está entre os mais “produtivos”!

Nosso Onorevole, que hoje se orgulha desta posição na tabela, na legislatura passada terminou na 369° posição. Então antes – nos anos de 2008 a 2013 – não trabalhava, e agora sim?

Se tal classificação comportasse alguma consequência medida cientificamente, o índice de produtividade Openpolis pareceria determinar inversamente a possibilidade de ser reeleito na circunscrição do exterior.

Vejamos, então, por exemplo, o caso do Deputado classificado em 2°lugar na Câmera dos Deputados na legislatura precedente, Franco Narducci: Narducci perdeu a eleição com os votos de preferência dos colegas classificados muito abaixo dele na mesma tabela.

Qual é, então, a conclusão?

Que um eleito no exterior estar entre os primeiros na classificação Openpolis, para nós, não só não conta nada, mas não é também um bom sinal para a sua própria reeleição: para nós italianos no exterior é mais importante ter verdadeiros dirigentes políticos eleitos, que levam adiante um projeto autônomo e independente de construção política de poder, ao invés de termos “peões”, diligentemente sentados nos bancos do parlamento, para votar de acordo com as diretrizes dos partidos romanos, distantes da nossa realidade.”