“Nós queremos dizer isto claramente: o Maie [Movimento Associativo Italiani all’Estero] é a favor do ‘ius sanguinis’ sem nenhuma restrição, isto é, não queremos nenhuma restrição à possibilidade de transmissão da cidadania italiana e somos contra o ‘ius soli’ assim como apresentado por este governo [do PD]”, afirmou o deputado Ricardo Merlo em entrevista gravada à revista Insieme, falando a propósito do debate estabelecido no Parlamento Italiano até o último momento antes de sua dissolução, dia 27, pelo presidente Sergio Mattarella.

O assunto, conforme prometeram lideranças partidárias italianas – entre outros, a coligação ‘Liberi e Uguali’ -, deverá retornar ao debate na próxima legislatura. Amplos setores da Igreja Católica também já se manifestaram a favor do ‘ius soli’ que, de certa forma, já está em vigor na Itália, mas sem a amplitude pretendida pelos recente projeto que chegou a ser aprovado na Câmara mas não obteve a maioria no Senado.

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Segundo Merlo, que é candidato ao Senado nas próximas eleições parlamentares italianas, marcadas para o dia 4 de março próximo, desde que o governo italiano, sob a maioria do PD – Partido Democrático, começou a “pressionar” pelo ‘ius soli, “começaram a enfraquecer” o ‘ius sanguinis’, isto é, a transmissão da cidadania italiana pelo direito de sangue de que se valem ítalo descendentes no Brasil, por exemplo, para obter o reconhecimento da cidadania italiana . “Quem credita nisso, vota em nós” disse o parlamentar duas vezes eleito com a maior votação da Circunscrição Eleitoral do Exterior.

Merlo vem sendo duramente criticado por sua posição a respeito do tema por partidos italianos de esquerda e, inclusive, acusado de “traição” a seus ancestrais, que ao migrarem para a América do Sul, aqui – como milhares de outros imigrantes – se beneficiaram do ‘ius soli’ que agora nega à nova imigração italiana.

“Como pode alguém que é descendente de imigrantes ser contra esse direito que permitiu a seus pais, a seus avós, a seus bisavós de tornarem-se argentinos, brasileiros, uruguaios? – questionou em entrevista a insieme o coordenador para os italianos no exterior da coligação ‘Liberi e Uguali’, Claudio Bernabucci, explicando que “esse direito ao ‘ius soli’ foi aquele que permitiu o nascimento da nação brasileira, da nação argentina”.

Referindo-se a Merlo, ele disse que “um argentino que diz ser contra esse princípio está simplesmente cometendo uma traição – peço que diga exatamente assim – uma traição a seus antepassados. Traição à imigração tradicional italiana’. Mas Merlo observa que enquanto se pretende introduzir o princípio do ‘ius soli’, dificulta-se a concessão do direito de sangue, inclusive com a cobrança da chamada taxa da cidadania.

No vídeo que gravamos com Merlo no início de dezembro, o parlamentar é muito claro em sua posição: “Eu digo a todos os ítalo brasileiros a todos os ítalo sulamericanos: Quando o PD e o governo da maioria começaram a pressionar pelo ‘ius soli’, quando aprovaram o ‘ius soli’ na Câmara, onde votamos contra, começaram a enfraquecer o ‘ius sanguinis’. Isso não é uma coisa casual”.

“Nós dizemos sim ao ‘ius sanguinis’, não ao ‘ius soli’. Quem acredita nisso, vota em nós; quem acredita que se deve limitar a cidadania [por direito de sangue] e dar mais facilidades a imigrantes da África e do Oriente Médio que vêm à Itália para obter a cidadania, votam no PD ou em outras forças políticas”.

Segundo o parlamentar ítalo argentino “hoje, um filho de imigrante que nasce na Itália, aos 18 anos pode decidir se quer a cidadania italiana ou não. Eu não sei o motivo pelo qual nós devemos facilitar aos imigrantes extra comunitários enquanto instituem uma taxa e criam problemas àqueles que querem a transmissão da cidadania pelo ‘ius sanguinis’. Não há sentido nisso”e, por isso, “nós somos totalmente a favor do ‘ius sanguinis’ e contra o ‘ius soli’”.

“E depois” – diz mais Ricardo Merlo -, “veja a loucura que cometeu este Partido Democrático: possuindo o ‘ius sanguinis’, querem acrescentar o ‘ius soli’ temperado – eu digo que, no fundo, eles querem acabar com o ‘ius sanguinis’ – e enquanto isso (e hoje a imigração não é mais como há 40 anos) alguém que vive 10 anos na Itália, tem filhos que podem obter a cidadania italiana, e depois volta ao Afeganistão, à Síria ou a um país da África, tem também a possibilidade depois de transmitir a todos os descendentes afegãos, por exemplo, a cidadania (italiana) pelo ‘ius sanguinis’. É mesmo uma loucura com o timbre do Partido Democrático”.

Merlo conclui a entrevista dizendo: “Nós entendemos que existem pessoas que pensam diversamente de nós, mas nós pensamos assim: sim ao ‘ius sanguinis’, não ao ‘ius soli’”.