“Essa manifestação foi um sonho realizado”, desabafou o ex-presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Recife, engenheiro Salvador Scalia, logo após encerrado o protesto do dia 12 na Avenida Paulista, diante do Consulado Geral da Itália em São Paulo.

Depois de atuar cerca de 10 anos no chamado “sistema de representação” dos italianos no exterior, Scalia decidiu cair fora, desiludido. “As reuniões eram inúteis e secretas”, diz ele em vídeo. “Passei dez anos reclamando lá, mas ninguém sabe, ninguém viu”.

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Scalia era o único ítalo-brasileiro a presidir um Comites em sua época, e desde o início se batia contra o descaso das “filas da cidadania”, pois sempre entendeu que, além de ilegais, elas significam uma forma velada de simplesmente negar um direito de sangue a milhares de pessoas.

No vídeo ele lembra que depois que deixou a representação, conseguiu se realizar em sua luta muito mais nas redes sociais. Ele é participante ativo de diversos grupos do FaceBook, entre eles o “Área Livre”, que, embora seja um grupo fechado, soma hoje cerca de dez mil inscritos interessados nos temas relacionados às filas da cidadania, à emissão de passaportes e, de forma geral, à qualidade dos serviços consulares italianos dispensados aos cidadãos.

Assim como o papel das redes sociais, Salvador Scalia destaca, no vídeo, o papel da cobertura da imprensa aos temas relacionados à italianidade, enfatizando o trabalho da Revista Insieme e seu site: A última reunião do Intercomites, realizada em Curitiba, foi a primeira que se tornou praticamente “pública” depois que grandes trechos dos debates foram gravados em vídeo e publicados no canal Youtube da Revista Insieme.

Numa espécie de desabafo, Scalia justifica porque abandonou o ‘sistema de representação’, ou seja, os Comites: “Eu não suportava mais participar daquelas reuniões inúteis e secretas. Secretas porque a Embaixada [onde normalmente são realizadas as assembleias, nr] não permitia que a imprensa tivesse acesso”.

Segundo Scalia, não apenas as filas são ilegais. “As ilegalidades cometidas pela rede consular italiana aqui no Brasil são muitas e a gente precisa enfrentar essa situação”, diz ele, abordando também a questão política: “Nós temos que olhar atentamente essa questão das eleições para a gente votar em pessoas que realmente nos represente”.

“Os nossos representantes eleitos no Brasil, com o voto dos ítalo brasileiros, como eu considero, não estão nos representando bem”, assegura Scalia, dizendo saber que os “partidários deles vão discordar, mas acho que precisamos melhorar esse voto”.

Para Scalia, “nossos representantes têm que ser mais incisivos”. Fazendo alusão à justificativa dada por alguns para não estar presentes no dia 12, ele afirma: “A batalha não é somente no Parlamento. A batalha é também na justiça e é nas ruas também, em manifestações como esta”.