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A recente visita da ministra italiana Maria Elena Boschi, das Reformas e Relações com o Parlamento, está ganhando na imprensa italiana uma dimensão bastante diversa daquela propalada na Argentina, Uruguai e Brasil, onde ela esteve no final do mês, em companhia do deputado Fabio Porta e sua colega Renata Bueno. Difundida como uma viagem meramente institucional, de estreitamento das relações bilaterais dos três países sul-americanos com a Itália, integrantes da oposição ao governo do premier Matteo Renzi, questionam a natureza e objetivos de sua viagem, que teriam tido por finalidade apenas fazer campanha pelo “Sim” no referendum marcado para o início de dezembro próximo.
A ministra empresta o nome ao conjunto de reformas aprovadas com margem estreita de votos no Parlamento que pretendem alterar o funcionamento e composição do Senado, extinguir as Províncias e promover uma série de mudanças na Constituição italiana em busca da simplificação e governabilidade, alterando também a lei eleitoral e dando mais força ao presidente do Conselho de Ministros. No referendo, os italianos deverão concordar ou não com as mudanças e do processo participarão também os italianos residentes fora da Itália, num total de quase quatro milhões de eleitores. Caso as mudanças sejam aprovadas, entretanto, os italianos no exterior perdem, simplesmente, sua representação no Senado.
Na condição de ministra, Boschi contou com o apoio logístico de embaixadas e consulados dos três países que visitou. Sua viagem nem havia ainda terminado e, já no sábado o jornal “Il Fatto Quotidiano” chamava atenção para “a missão pouco institucional de Boschi na América do Sul: propaganda pelo Sim patrocinada pelos italianos” (“Referendum, la missione poco istituzionale della Boschi in Sud America: propaganda per il Sì a spese degli italiani”. Como certo, o jornal dava o valor de 12.625 euros gastos com passagens, negando outros gastos (mas falava-se em 300.000 euros). A matéria reportava que a assessoria da ministra assegura não ter constado da agenda oficial nenhum ato de partido e que eram falsas as informações publicadas anteriormente pelo mesmo jornal sob o título “La missione farlocca di Boschi a caccia di italiani all’estero” (a falsa missão de Boschi à caça de italianos no exterior).
Mas enquanto o governo italiano se esforça por desmentir, a realidade dos fatos ocorridos na América do Sul mostrou coisa diversa: a ministra, além de fazer publicamente a defesa das reformas, acabou também incentivando e fazendo campanha pelo “Sim” ao se reunir com representantes dos “Comitês do Sim”, organizados em diversas capitais pelo Partido Democrático – PD. Em Porto Alegre, por exemplo, em sua entrada no Brasil (29/09) vinda de Montevideo, a ministra se deteve, antes da recepção organizada pelo cônsul Nicola Occhipinti no salão do Grêmio Náutico União, em reunião com integrantes do “Comitê do Sim”, junto aos quais se deixou inclusive fotografar tendo ao fundo um banner com a propaganda do partido. Em São Paulo, foto compartilhada por Fabio Porta em sua página no Facebook traz a ministra ao lado de Porta e Bueno diante de um grande banner com o apelo “Basta un Sì”.
Fabio Porta, Renata Bueno e Maria Elena Boschi, em São Paulo (Foto Facebook)
“Italianos no exterior, Boschi e Porta na outra parte do mundo para promover o “Sim” no referendum”, noticiava o periódico on-line “Ecodaipalazzi.it”. “Porta e os comitês pelo Sim na América do Sul encontram a ministra Boschi”, divulgava no início de outubro a “Agenzia Internazionale Stampa Estero – Aise”, com base num comunicado distribuído pelo próprio parlamentar, em que ilustrava o comitê de São Paulo, presidido pelo ex-senador Edoardo Pollastri, instalado que foi com a participação do próprio premier Matteo Renzi, em sua visita ao Brasil.
Ao postar fotos com integrantes do comitê pelo “Sim” de Porto Alegre, a deputada Renata Bueno escreveu sobre “a missão da ministra das Reformas Maria Elena Boschi para a campanha do “Sim” no referendum sobre a reforma constitucional” (Brasile – Missione del Ministro per le Riforme Maria Elena Boschi per la campagna del SI al Referendum sulla Riforma Costituzionale).
Em função do ocorrido, lideranças contrárias à aprovação da reforma Renzi-Boschi informam que solicitarão das Embaixadas e representações diplomatico-consulares da Itália na América do Sul a mesma disposição, propaganda e organização dispensados à campanha pelo “Sim” capitaneada pelo PD – Partido Democrático quando enviarem seus “Comitês pelo Não”.
