(Português BR) ’Il cuore di Zoldo batte ancora a Siderópolis’: A profunda conexão entre Val di Zoldo e o Sul Catarinense

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A relação entre Val di Zoldo e o sul de Santa Catarina transcende fronteiras e gerações, unindo dois mundos distantes por laços culturais, familiares e de trabalho que persistem até hoje. Desde o final do século XIX, a pequena e resiliente comunidade de Zoldo tem sua história de emigração gravada nas memórias familiares e nas tradições das cidades de Siderópolis, Cocal do Sul e Urussanga.

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Esses laços entre Val di Zoldo e Santa Catarina não apenas moldaram o passado, mas ainda hoje se refletem em números significativos nos registros do Aire – Anagrafe degli Italiani Residenti all’Estero, demonstrando uma continuidade cultural que se perpetua por meio da cidadania italiana por descendência e do vínculo com as gelaterias na Europa.

Emigração Zoldana e o Impacto no Sul de Santa Catarina – No final do século XIX, mais de 200 zoldanos, distribuídos em 37 famílias, partiram da Itália para o Brasil, em busca de melhores condições de vida e oportunidades. Essa migração representava, para Val di Zoldo, uma saída forçada pela pobreza e pela crise industrial que afetava a região. Essas famílias embarcaram em uma jornada até o Brasil, onde muitos se estabeleceram na então Colônia de Nova Veneza, mais precisamente nos núcleos de Rio Jordão e Nova Belluno, atualmente pertencente ao município de Siderópolis.

Sobrenomes como Fontanella, Panciera, Scussel, Lazzaris, Remor, Sommariva, Toldo, Campo, Vittoria, Capeler, Zampolli, De Silvesto, Cercenà, entre outros, tornaram-se parte do cenário social do sul de Santa Catarina, e são lembrados até hoje por seus descendentes que ainda mantêm vivas as tradições e o idioma vêneto-brasileiro.

O gemellaggio oficializado entre Forno di Zoldo e Siderópolis em 1994 celebra anualmente esse elo, permitindo que as gerações de descendentes mantenham viva a cultura e a língua italiana e perpetuem as memórias dos pioneiros. Esses descendentes não se consideram apenas brasileiros: sentem-se também italianos, reivindicando uma identidade que é tão autêntica quanto a de quem permaneceu na Itália. A cidadania italiana por descendência (iure sanguinis) não é, para eles, uma mera formalidade burocrática, mas sim o reconhecimento de um vínculo de sangue.

Em dois vídeos que documentam esse gemellaggio, o primeiro, feito em 1994, captura o reencontro emocional entre as comunidades de Zoldo e Nova Belluno, simbolizando um reencontro de raízes compartilhadas e o orgulho de pertencer a uma tradição transcontinental. Em 2024, um segundo vídeo comemora os 30 anos dessa irmandade, mostrando que, apesar da distância, o vínculo permanece vibrante e significativo para ambas as comunidades. Esses registros são um lembrete do quanto o Brasil e a Itália compartilham de uma história comum, que não pode ser esquecida ou apagada.

Reconhecimento da Identidade Zoldana no Sul Catarinense – Os registros do Aire revelam que cerca de 461 ítalo-brasileiros desses três municípios reconheceram a cidadania italiana tendo um antepassado em Val di Zoldo, e a soma total das inscrições de pessoas com ancestrais em Val di Zoldo, Longarone e Soverzene (municípios vizinhos) é de 1.336 pessoas.

Essa proporção impressionante evidencia o impacto duradouro da emigração e reflete o quanto a identidade zoldana permanece viva entre os descendentes no sul de Santa Catarina, e como a cidadania italiana, para essas famílias, representa não apenas uma formalidade, mas uma reafirmação de suas raízes.

Gelaterias: Uma Tradição Zoldana Sustentada pela Mão de Obra Catarinense – Além do vínculo cultural, a tradição dos gelatieri (produtores de sorvete), iniciada por zoldanos que migraram para a Alemanha e outros países da Europa no século XX, representa hoje um dos aspectos econômicos mais evidentes dessa profunda conexão entre Val di Zoldo e Santa Catarina.

Estima-se que mais de 2.000 ítalo-brasileiros da região catarinense, muitos deles descendentes de zoldanos, estejam empregados no setor de gelaterias na Alemanha e em outras partes da Europa. Esse setor tornou-se uma tradição zoldana ao longo das décadas, sendo mantido, em grande parte, pela força de trabalho dos descendentes ítalo-brasileiros, que, com cidadania italiana, facilitam o intercâmbio laboral e cultural entre as duas comunidades.

A presença desses descendentes no setor de gelatarias europeias reforça a conexão econômica entre Zoldo e o Brasil, ao mesmo tempo que destaca a importância dos zoldanos no mercado de sorvetes artesanais. Alguns desses trabalhadores conseguiram, inclusive, abrir suas próprias gelaterias, levando o nome e a tradição de Zoldo para além das fronteiras italianas, numa rede migratória que mescla o sonho da ascensão econômica com o retorno às raízes culturais.

Uma Identidade que Transcende Fronteiras – A ligação entre Val di Zoldo e o sul de Santa Catarina vai muito além de uma história de emigração; é um exemplo de como a identidade italiana pode perdurar em contextos distantes, sustentada pela cultura, pela tradição familiar e pelo trabalho. O gemellaggio entre Zoldo e Siderópolis e os dados do Aire são provas de que a história e a memória coletiva de Zoldo continuam a bater no coração dos descendentes ítalo-brasileiros, que veem na cidadania italiana não apenas um documento, mas uma reafirmação de pertencimento e um laço que nenhuma distância pode romper.

Na próxima celebração do gemellaggio, convidamos as autoridades e a comunidade de Zoldo a refletirem sobre essa conexão e a redescobrirem o valor do intercâmbio cultural e econômico com seus «irmãos» sul-catarinenses. Afinal, o coração de Zoldo bate ainda em Siderópolis e nas demais cidades do sul de Santa Catarina, numa conexão que transcende o tempo, o espaço e as circunstâncias.


*Artur Bianchini é especialista em cidadania italiana jure sanguinis, sócio e fundador da Dante Cidadania Italiana; C.T.U (Consulente Tecnico D’Ufficio) Consultor Técnico como tradutor/intérprete no Tribunal de Pavia (PV); ex Ausiliario di Polizia Giudiziaria presso il Pubblico Ministerio (Auxiliar de Polícia Judiciária no Ministério Público); foi também idealizador e correspondente da Prefeitura de Pedras Grandes-SC para o Patto di Amicizia e Gemellaggio entre Pedras Grandes-SC e Belluno-BL