Em meio à visita ao Brasil do Presidente da Itália, Sergio Mattarella, o embaixador Rubens Ricupero destacou-se como a única voz da comunidade ítalo-brasileira ao fazer breve pronunciamento na sede do Cebri – Centro Brasileiro de Relações Internacionais, no Rio de Janeiro. Ricupero ressaltou o imenso capital de afeto e boa vontade que os brasileiros nutrem pela Itália, sugerindo que o país europeu aproveite melhor esse potencial.
Logo após, Insieme procurou ouvir o diplomata italo-brasileiro para aprofundar o tema que ele abordou diante de Mattarella. Durante a vídeo-entrevista que concedeu no último dia 30/07, Ricupero compartilhou suas raízes, explicando que seus quatro avós chegaram ao Brasil em setembro de 1895, todos provenientes do sul da Itália. Estabeleceram-se no bairro do Brás, em São Paulo, uma região marcada pela forte presença italiana na época. Ricupero recordou sua infância no Brás, onde viveu até os 22 anos, imerso na cultura italiana. Sua eposa é de origem trentina.
Questionado sobre suas observações ao presidente Mattarella, Ricupero enfatizou a falta de percepção dos italianos sobre a significativa e influente comunidade ítalo-brasileira. Ele destacou que, enquanto os italianos reconhecem a importância de suas comunidades nos Estados Unidos, Argentina, Austrália e Canadá, subestimam a vitalidade e a contribuição dos descendentes de italianos no Brasil.
Ricupero mencionou que, durante seu tempo como embaixador em Roma, e acompanhando visitas de autoridades italianas ao Brasil, ficou evidente o espanto dos italianos ao verem a força da comunidade ítalo-brasileira. Ele lembrou um evento no Palestra Itália, onde milhares de descendentes italianos, organizados por suas Comunas de origem, impressionaram profundamente o então presidente Oscar Luigi Scalfaro em visita ao Brasil. Ele mostrou-se decepcionado com aspectos da visita de Mattarella.
O embaixador também criticou a política cultural italiana, sugerindo um esforço mais dinâmico e moderno para ensinar a língua e promover a cultura italiana no Brasil. Ele citou o exemplo da Japan House em São Paulo, um modelo de sucesso de promoção cultural e integração.
Ao abordar a questão da cidadania italiana, Ricupero reconheceu as dificuldades enfrentadas pelos ítalo-brasileiros, incluindo longas filas e burocracia. Ele sugeriu um esforço maior do governo italiano para simplificar esses processos e promover um vínculo mais profundo com a Itália, além de apenas conceder o passaporte.
Em suas considerações finais, Ricupero expressou a importância de manter viva a chama da herança italiana no Brasil, incentivando o aprendizado da língua e o conhecimento da cultura e história italianas. Ele acredita que isso não apenas enriquece a identidade ítalo-brasileira, mas também contribui para a diversidade cultural do Brasil.
A entrevista completa com o embaixador Rubens Ricupero será publicada na edição de agosto (299) da Revista Insieme.