“Não sou um homem “marqueteiro”, não crio minha imagem, eu a construo, não faço promessas, sem estar realmente disposto a tentar cumpri-las”.

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u CURITIBA – PR – Precisamos renovar a política italiana, diz o senador Edoardo Pollastri nesta longa entrevista ao jornalista Desiderio Peron, editor da Revista Insieme. Depois de cerca de 20 meses de atuação no Parlamento italiano, ele é candidato à reeleição e faz questão de expor claramente o que pensa sobre diversos assuntos, inclusive sobre a questão do reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue. “”Penso que houve um mal-entendido”, diz Pollastri, ao ser questionado sobre a acusação de ter defendido idéias contrárias às de seus eleitores. “Minhas declarações tinham como intuito explicar, independentemente dos partidos políticos, qual era o clima dentro do Parlamento italiano”, acrescenta ele.

Pollastri afirma que está perfeitamente afinado com as idéias e propostas do Partido Democrático, de centro-esquerda, acha “maravilhoso” o cenário sul-americano em que brotam múltiplas candidaturas e divisões, e não vê risco algum de problemas de natureza étnica neste processo em que é exaltada a italianidade em contraponto à brasilidade ou a outras nacionalidades em que se situa a maior comunidade de ítalo-descendentes do mundo, ou seja, a América do Sul, especialmente o Brasil. Pollastri se diz mais preparado agora para o exercício do mandato e sonha com a construção do argumento da grande Itália no mundo. Mas também entende que a forma de representação dos italianos no exterior junto ao Parlamento precisa ser repensada. Confira a entrevista, na íntegra.

 

n Sua recandidatura ao Senado tem o slogan – Andar Avante, o que significa?

POLLASTRI – Quando fui eleito em abril/06 como senador dos ítalo-sul-americanos, assumi compromissos durante a minha campanha que, desde o primeiro dia do meu mandato, busquei concretizar.

Relembrando: prometi me empenhar em reivindicar todos os direitos dos italianos no exterior, principalmente, nas questões assistenciais e previdenciárias, adequar a rede consular com o intuito de melhorar o atendimento e reduzir as filas para reconhecimento de cidadania, apoiar intercâmbios e parcerias entre empresas e favorecer a pesquisa e a cooperação cultural entre as regiões.

No entanto, como você pode imaginar, é difícil entender o funcionamento da máquina do estado italiano nas questões jurídicas e administrativas, mas com muito empenho e dedicação, aliado à bagagem de experiência que levei comigo pelo fato de ter sido presidente de associações, entidades assistenciais e econômicas e da própria Câmara Ítalo-Brasileira, fui conseguindo me adaptar e produzir resultados muito mais rápidamente do que seria possível imaginar.

Dessa forma, passei a fazer parte de comissões de interesse da comunidade dos italianos no exterior, apresentar emendas, discutir com meus pares (outros senadores) projetos comuns, aliás, saiu recentemente na imprensa italiana, que eu fui o senador que mais trabalhei com 96% de presença nas sessões parlamentares, sou conhecido como ‘il Brasiliano’.

E por tudo isso é que conseguimos apoio para que neste governo de centro-esquerda aprovássemos no Senado um incremento para o orçamento previsto de 2008, da ordem de E$ 32 milhões de euros para que o “Ministério dos Italianos no Exterior” pudesse se empenhar em resolver diversas questões relacionadas a nós, os italianos no exterior.

Este montante foi obtido graças às duas frentes de trabalho que atuei: A primeira foi a apresentação de uma emenda que resultou num aumento de 18 milhões de euros em relação ao orçamento de 2007. Este incremento de recursos levou ao acréscimo dos fundos para a assistência sanitária aos italianos no exterior, aumento dos financiamentos para a formação e a assistência escolar (cursos de língua italiana).

A segunda frente de trabalho foi junto ao Senador Micheloni, onde apoiamos a emenda de iniciativa governamental que destina 14 milhões de euros a mais no orçamento de 2007 para serem investidos nas redes consulares e em projetos diversos voltados a coletividade no exterior. São estes fundos que permitiram a estipulação de apólices de seguros a favor dos indigentes de origem italiana em alguns países da América do Sul, incluindo Brasil. Além disso, estes fundos financiarão uma força tarefa composta de 15 pessoas vindas do Ministério do Exterior da Itália, na tentativa de normalizar a situação dos pedidos de cidadania e melhorar o atendimento ao cidadão ítalo-sul-americano.

Pra você ter uma idéia do meu empenho e respeito aos meus eleitores, na sessão de aprovação da emenda que fiz para aumentar em 18 milhões o orçamento do “Ministério dos italianos no Exterior”, fui o único que passou a madrugada toda discutindo, pedindo, forçando a aprovação de tal emenda e… conseguimos.

Portanto, quando uso meu slogan – “andar avante”, significa: fizemos muito até aqui neste mandato de 20 meses, portanto, queremos e podemos fazer muito mais neste segundo mandato a que, com muito orgulho, estou me candidatando.

 

n Qual contabilidade faz desse período de 2 anos em que esteve no Senado ?

POLLASTRI – Considero positiva a minha atuação junto ao Senado Italiano representando os ítalo-sul-americanos. Não sou um homem “marqueteiro”, não crio minha imagem, eu a construo, não faço promessas, sem estar realmente disposto a tentar cumpri-las, muitas vezes peco por não divulgar muitos dos projetos e programas que criei apenas porque eles ainda estão em tramitação, e não quero criar falsas expectativas, pois podem demorar a serem avaliados pelas comissões no Senado.

Comecei minha vida profissional como professor, fui vice-reitor, diretor de escola, e cheguei a postos importantes tanto em associações como em empresas e na Câmara Ítalo-Brasileira, portanto não foi criando uma imagem, mas construindo uma vida de trabalho que cheguei até aqui.

Além disso, sei que fiz o meu melhor, cumpri com ética, seriedade e responsabilidade o mandato que me confiaram e sei também, que posso fazer muito mais, agora que já conheço os trâmites da máquina pública e tenho credibilidade juntos aos demais senadores, pois me conhecem e respeitam o meu trabalho, por isso “Andar Avante”.

Para você ter idéia do reconhecimento pelo meu trabalho no Senado, fui convidado (único senador convidado), a fazer parte do comitê de “ouvidoria”, isto é, “ombudsman” do Senado Italiano, composto em sua maioria por juízes, que tem a função de receber críticas, sugestões, reclamações e que deve agir em defesa imparcial da comunidade contra o Estado.

 

n Em solo italiano viceja a idéia de que os italianos no exterior não poderiam ter o direito de eleger ou fazer cair o governo. O Senhor entende como válida a fórmula de representação parlamentar dos interesses dos italianos que vivem no exterior, misturada à representação plena como ocorre hoje?

POLLASTRI – Pensando como um cidadão residente na Itália, realmente é muito frágil a situação de um governo que, para se manter, precisa dos votos de deputados e senadores eleitos no exterior. 

Pense na instabilidade que isso cria no dia a dia do cidadão comum, que pode sofrer com questões econômicas (inflação), ou mudanças no rumo da economia pela troca de governos, enfim, não dá para conviver com esta situação.

Creio que os ítalo-sul-americanos também compreendem essa preocupação do italiano de lá, e, por isso mesmo, considero e concordo que seja discutido amplamente um novo sistema eleitoral, que seja mais inteligente e representativo dentro do Parlamento Italiano. Mas não se aproveitando de casuísmos, de aprovações em finais de mandatos, mas que seja feito através de uma discussão ampla e plena, que se inicie e termine com uma solução definitiva e não uma solução tapa-buraco para as futuras eleições.

 

n O Sr. foi cobrado como um parlamentar que defendeu idéias contrárias à de seus eleitores, como ficou notório no debate (Rai) sobre as filas da cidadania. Que pensa disso agora ?

POLLASTRI – Penso que houve um mal-entendido naquela ocasião, a afirmação de que defendi idéias contrárias aos meus eleitores é totalmente infundada.

Procurei ser prático sobre a questão e informar aos cidadãos, explicando o que estava acontecendo no Parlamento italiano sobre a reforma da lei referente à cidadania, reforma esta que terá ainda amplos debates.

As minhas declarações tinham como intuito explicar, independentemente dos partidos políticos, qual era o clima dentro do Parlamento Italiano, orientado a colocar uma limitação na questão do reconhecimento de cidadania, diante do fato que dezenas de milhões de descendentes italianos seguindo o princípio do “jus sanguinis”, têm o direito de ter reconhecida a cidadania italiana, fato que obviamente gera problemas; como por exemplo, o  impacto na rede consular que, com as atuais estruturas, levaria décadas para finalizar os processos  de reconhecimento requeridos.

Gostaria de ressaltar mais uma vez, que a questão delicada do problema da limitação temporal da descendência “jus sanguinis”, que já suscitou tantas discussões, não faz parte de nenhum projeto de lei, e todas as opiniões expressas sobre a questão são atualmente apenas cogitações, no meio de um debate aberto sobre um tema particularmente delicado.

E nessa questão é bom esclarecer bem isso, pois na época, em função de notícias confusas e algumas vezes sem fundamentos, acabou-se gerando a sensação que eu estava indo a favor desta limitação, o que, repito, nunca ocorreu de verdade, até porque não há projeto de lei sobre isso.

 

n Sua preferência por uma candidatura vinculada a um partido político – PD, lhe oferece mais tranquilidade e possibilidade de reeleição, ou ela decorre de uma escolha pessoal ?

POLLASTRI – Precisamos renovar a política na Itália, fugir dos mesmos partidos políticos tão arraigados a antigos valores e aos mesmos dirigentes, e é isso que o Partido Democrático representa: um ar fresco na política italiana.

O Partido Democrático vem trazer, na figura de Walter Veltroni, a possibilidade de algo novo, com a experiência desses 20 meses de governo, uma visão mais coesa e focada nos principais problemas que a Itália precisa enfrentar, mas com idéias inovadoras, valorizando, por exemplo, os jovens e as comunidades no exterior.

Portanto, faço parte desse novo partido, o Partido Democrático, por considerá-lo o mais próximo das minhas convicções pessoais que são: a necessidade de reformas na área política, reformas tributárias, reformas econômicas, e por acreditar que este processo de avanço das conquistas dos italianos no exterior está apenas começando, e somente através de um partido novo, com idéias inovadoras, pode-se fazer a diferença para voltarmos a ter uma Itália moderna, ocupando um lugar de destaque neste mundo globalizado. E principalmente porque a visão do PD é a mesma que a minha, ao se respeitar e valorizar seus compatriotas e descendentes espalhados pelo mundo inteiro, estaremos construindo uma força ímpar como nação, que nenhum outro país possui, mas que, infelizmente, a Itália ainda não conseguiu articular.

 

n Suas propostas e compromissos básicos de campanha se afinam mais com os compromissos partidários ou com os problemas e aspirações da comunidade sul-americana, sem dúvida a maior comunidade de ítalo-descendentes do mundo?

POLLASTRI – Todo aquele que se propõe a entrar em um partido político deve estar em linha com as bases ideológicas do partido que escolheu. É preciso ser coerente e aliar a sua convicção política pessoal àquela do partido em questão, do contrário não haveria o menor sentido integrar tal equipe. Portanto, estou de acordo com as propostas e os compromissos partidários que, por sua vez, ao serem analisados mais profundamente, estão absolutamente em linha com as aspirações e reivindicações dos italianos no exterior, nas questões assistenciais e previdenciárias, na melhor adequação da rede consular, no apoio aos intercâmbios entre as diversas regiões do globo e a Itália. De outro lado, o próprio PD igualmente espera que nós, candidatos, representemos o partido de forma ética e responsável, e que nós, como seus representantes, correspondamos às expectativas da população italo-descendente que nos elegeu junto aos órgãos governamentais, não só da Italia, mas do mundo todo. É o que venho fazendo.

Eu acredito que a Itália muito negligenciou a força dos italianos residentes no exterior. Todos nós sabemos que podemos recolocar a Itália numa posição de excelência na economia global através da ajuda conjunta dos italianos no exterior. E essa população, tendo o direito de voto e fazendo-se participativa, será a base para o desenvolvimento mútuo, haverá benefícios sócio-culturais, no sentido de incrementar, valorizar e disseminar a cultura italiana no mundo, até mesmo incentivos públicos e fiscais, com especial empenho junto aos Patronatos, Comites, Associações e Consulados.

 

n Como enxerga as múltiplas divisões com que a comunidade ítalo-sul-americana se apresenta para essas eleições?

POLLASTRI – Isso é maravilhoso!!! Sou favorável à diversidade cultural, pensar que cada ítalo-descendente carrega consigo esta riqueza cultural é salutar, e é a prova efetiva da democracia na Itália.

Temos diversas listas (chapas) em toda a América do Sul, formadas por pessoas diferentes, com experiências diversas, membros da comunidade italiana e isso tudo só faz somar e fortalecer nossos laços e nossa integração.

O que precisamos é direcionar toda esta riqueza cultural na busca por soluções aos problemas comuns e é por isso que a escolha de um candidato é tão importante, pois deve-se levar em consideração a experiência do candidato, suas opiniões, o trabalho por ele desenvolvido junto à comunidade, suas intenções e, acima de tudo, sua capacidade de realizar.

 

n Esta “outra Itália” (ou os italianos no exterior) tende à integração e interação global, ou à formação de um sentimento itálico que pode ser conflituoso com a histórica vocação multi-étnica de países como o Brasil ?

POLLASTRI – Se voltarmos na história dos países latinos americanos e a Itália, veremos que, no passado, esta região recebeu inúmeros italianos em razão das condições precárias de vida em tempos de guerra. Desde esse período, então, estamos todos ligados.

O fato é que somos todos italianos, que apenas não convivem no mesmo território, mas todos trazem consigo a italianidade em suas raízes.

E por isso, inúmeras são as possibilidades de desenvolvimento conjunto, através do intercâmbio cultural e comercial. Nosso objetivo é exatamente este, estreitar e fortalecer as relações entre a América do Sul e a Itália, com a finalidade de crescermos juntos.

Um bom campo para isso é a questão do meio ambiente, a preocupação com o aquecimento global e as parcerias conjuntas para tratar de questões como reflorestamento, energias renováveis, gestão de resíduos, onde a Itália poderia financiar projetos que o Brasil e demais países da América Latina definissem como prioritários.

O fato de ter conquistado tantos feitos no Senado, foi exatamente porque busquei seguir esta fórmula: ter objetivos concretos e tornar efetivo o meu trabalho. E estes são os meus objetivos.

Na questão relativa ao sentimento itálico, creio que ele é mais benéfico do que prejudicial para os países que acolheram nossos antepassados, pois se formos, mais uma vez, olhar para a história, vemos que nós, italianos no exterior, não só nos adaptamos, como nos integramos perfeitamente aos diversos costumes e culturas dos  países que nos receberam. Não creio, portanto, que haverá conflitos por questões de etnia pois o equilíbrio, a isonomia de direitos e a cidadania serão a base para unificar ainda mais quem compartilha da italianidade.

 

n Uma mensagem especial aos eleitores ítalo-sul-americanos, e principalmente, ítalo-brasileiros.

POLLASTRI – Não há como exercer a cidadania italiana sem se interessar pelas coisas da Itália, sua cultura, sua língua, seus valores, e também, em se interessar em participar da sua vida política. O direito ao voto é, para mim, além de um motivo de orgulho e reconhecimento de nós, italianos no exterior, uma oportunidade de mostrar que estamos conscientes da importância desse privilégio que é ser cidadão italiano.

Assim, creio que é muito importante ter a consciência do voto e fazer uma boa avaliação dos candidatos, pois para que o governo possa compreender onde precisa investir, quais as carências e deficiências no trato com os ítalo-descendentes, é necessário que estes se manifestem. E a melhor forma de se manifestar é votando. Portanto, peço que não desperdicem essa oportunidade de participar e, assim, serem ouvidos. Pois o voto é o instrumento que o cidadão tem nas mãos para mudar sua realidade, melhorando ou piorando suas condições e oportunidades.

Tendo em vista nossas metas realizadas em 20 meses de Parlamento Italiano, tenho orgulho de novamente me candidatar ao senado e finalizo a entrevista com a certeza que serei reeleito para concluir minhas propostas de campanha e meus objetivos.

 

n Outras considerações que julgar necessárias.

POLLASTRI – Agradeço a toda a Comunidade Italiana da América do Sul, em especial a do Brasil, por terem me dado a oportunidade de representá-los neste primeiro mandato, por terem aprovado o meu trabalho durante esses 20 meses que exerci meu mandato no Senado e, finalmente, por terem me apoiado nesta nova candidatura.