u CURITIBA – PR – O Brasil, com 28 milhões de descendentes, tem 192 mil eleitores, enquanto a Argentina, com apenas 15 milhões de descendentes, tem 440 mil eleitores. Não deveria ser o contrário?.

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Quem faz a pergunta, em tom mais que provocatório, é a candidata a uma vaga de deputado no Parlamento Italiano pela Circunscrição Eleitoral do Exterior, Cláudia Antonini, do Rio Grande do Sul. Ela, que se define uma ‘italo-brasiliana come te!’ continua suas perguntas: “Quanto tempo leva para ser reconhecida uma cidadania na Argentina… mais de 10 anos, como no Brasil? Com certeza não!” E arremata: “Claro que os cidadãos italo-argentinos têm que ser bem representados – ninguém discorda disto. A pergunta que fica é: Nós, ítalo-brasileiros, a maior comunidade italiana do mundo, merecemos ficar fora?  Ah, se fosse futebol! Tenho certeza que todos saberiam de que lado temos que jogar…”

“Corremos um grande risco – adverte ela – se não dermos nossos votos à listas com chances reais de eleger residentes no Brasil.”.

Na verdade, o processo das eleições já está em andamento: o material eleitoral já chegou às mãos dos eleitores que, em muitos casos, já votaram e devolveram os envelopes pré-selados por correio aos consulados. O prazo final para os consulados receberem os votos é dia 10, às 16 horas, o que significa que os envelopes precisam ser postados antes disso para serem computados. Enquanto isso, os candidatos continuam sua campanha na tentativa de mobilizar o maior número possível de cidadãos italianos. Em todo o mundo o processo é o mesmo. Dias 13 e 14 as eleições acontecem dentro do território italiano.

Confira, a seguir, as idéias e propostas de Cláudia Antonini nesta entrevista exclusiva ao jornalista Desiderio Peron, editor da revista Insieme:

n Quem é Claudia Antonini?

CLAUDIA ANTONINI – Uma ítalo-brasileira com cidadania reconhecida que estudou e trabalhou no Brasil e na Itália e que conhece a realidade dos dois países. Sou formada em comunicação, mestre em relações públicas européias, tradutora-intérprete de italiano e gerencio uma assessoria para reconhecimento de cidadanias. Também sou apaixonada pelas causas que abraço. No tempo livre aprofundo a genealogia de minha família, dileto em gastronomia e aprecio música e artes plásticas.

 

n Por quais motivos é candidata no PD?

CLAUDIA ANTONINI – Por sentir-me, há muitos anos, frustrada com as respostas que obtenho para os problemas da comunidade italiana e pelo fato do PD ter uma parte de seu programa voltada claramente para os italianos no exterior.

 

n Suas propostas, em linhas gerais, quais são?
CLAUDIA ANTONINI
– 1. Potencialização da rede consular com funcionários locais (ítalo-brasileiros com cidadania residentes aqui) que tenham condições técnicas para o trabalho.
2. Incremento de intercâmbios entre Universidades brasileiras e italianas visando facilitar a validação de diplomas e títulos.
3. Aprovação de uma lei que elimine de fato as restrições da transmissão da cidadania por via materna para os nascidos antes de 1948.
4. Concessão de um visto diferenciado para os que têm direito à Cidadania Italiana, estão em fila de espera, e desejam estudar e/ou trabalhar na Itália.
5. Assistência gratuita dos patronatos aos oriundos que estiverem na Itália buscando o reconhecimento da cidadania.
6. Fiscalização do uso dos recursos enviados pela Itália para o fomento de atividades de intercâmbio e ensino da língua e cultura italiana.

 

n Imagina que uma candidatura feminina pode abrir espaço privilegiado na comunidade?

CLAUDIA ANTONINI – Acho que as mulheres possuem um grande potencial e enorme capacidade de articulação com organizações não-governamentais e diferentes entidades. Somos presença necessária e atuante. No Brasil, por exemplo, chefiamos quase um quarto das famílias e portanto temos que, cada vez mais, participar da vida política. Uma pesquisa da Vox Popoli (CNT), evidenciou que o eleitor dá maior credibilidade à mulheres por achá-las mais honestas e eficientes.

Participar politicamente é um passo importante, e benéfico a todos; imagine que, segundo a Revista Estudos Feministas de Florianópolis, desde que começamos a participar como parlamentares palavras como participação, presença, mobilização, discriminação, exclusão, valorização, igualdade e desigualdade tornaram-se recorrentes nos discursos políticos o que é altamente positivo para a comunidade como um todo.

 

 

n Quais problemas aponta como mais importantes na comunidade ítalo-descendente da América do Sul, em especial, do Brasil?
CLAUDIA ANTONINI
– Veja bem Peron, para determinar minhas propostas fiz uma enquete com os usuários de 3 comunidades Orkut das quais participo como moderadora há um bom tempo. São mais de 200 mil pessoas no total entre cidadãos, pessoas em aguardo de cidadania e  outros interessados. Quando comecei a receber as sugestões classifiquei-as por incidência e a ordem é a mesma em que propus – incrivelmente eram todas possíveis, factíveis, ou seja, ninguém quer algo impossível, basta encontrar a via correta para alcançar estes objetivos e creio que, neste caso, o vínculo com um partido que tenha força no parlamento se torne fundamental.

 

n E as “filas da cidadania”… o que de verdade existe nessa alegada falta de condições de atendimento?
CLAUDIA ANTONINI
– Falta entendimento sobre o que pode propiciar uma real melhoria nas condições de atendimento dos consulados. Muitos reclamam de funcionários descorteses, do desejo italiano de bloquear as cidadanias ou até do fim da cidadania! Mitos, fofocas, falácias! Gerados, é claro, por um círculo vicioso difícil de romper. O funcionário consular acaba por se tornar descortês frente a pressão de uma enorme comunidade insatisfeita. Ele trabalha sempre “em atraso”, “ineficiente”, para a demanda que existe. Não creio que seja animador para ninguém. Três são as ações concretas que podem resolver o problema e fazer com que tenhamos um circulo virtuoso e não vicioso:

1 – Na votação do orçamento italiano deve se lutar por capítulos específicos sobre o tema que determinem verba para tanto.

2 – Na contratação de funcionários devemos insistir na seleção de pessoal in loco, ou seja, italianos residentes no Brasil, bilíngües, que tenham passado pelo processo de reconhecimento da cidadania e vivido aqui e lá – isso facilitaria o atendimento e diminuiria os custos.

3 – Desburocratização e informatização dos processos nos pontos possíveis para que se torne mais ágil.

 

n  Em sua campanha, você fala que não somos cidadãos de segunda categoria. Além de sermos sul-americanos, temos outro problema: Os italianos no exterior são quase ignorados dentro da Itália. Como superar isto?

CLAUDIA ANTONINI – Informando, a falta de informações é a alavanca que incrementa todos os preconceitos. A mesma falta de informações impede que acordos na área comercial, científica e cultural aconteçam pois ninguém vai pesquisar sobre o Brasil se tiver um monte de ofertas de outros países já sobre a mesa, ou seja, material pronto, propostas já articuladas, objetivas. Não podemos pretender que nos descubram, nós é que temos que criar esta visibilidade. É a visibilidade unida à informação direcionada que vai fomentar as trocas em todos os âmbitos.

 

n Pelo fato de ser mulher e ítalo-brasileira, tem percebido melhor receptividade do eleitorado?

CLAUDIA ANTONINI – Tenho tido uma ótima resposta da comunidade. Não sei se isto irá se converter em votos mas do que realmente lembram – e tem sido supreendente o quanto isto foi importante para muitas pessoas – é a série de artigos que fiz aqui na Insieme e que depois foi reproduzida ‘ad infinitum’ por inúmeros veículos, eletrônicos e não, chamada “Cidadania passo-à-passo”. Foram cerca de 20 capítulos ensinando a fazer a própria cidadania, descrevendo minuciosamente, em linguagem o mais simples possível cada detalhe do processo, os possíveis percalços e como resolvê-los. Sei que ainda hoje a série é reproduzida e usada por muitos oriundos. Outro projeto meu que muito tem auxiliado na divulgação da campanha é a participação há anos do projeto do banco de dados genalógicos da ‘Massolin de Fiori’ que hoje já conta com mais de 350 mil fichas de italianos emigrados e seus descendentes. É um projeto voluntário dirigido por Carlos Nozari que será uma grande fonte para as futuras gerações de oriundos. Acredito que o fato de ser ítalo-brasileira gere identificação com o eleitorado composto em mais de 90% de italianos nascidos no exterior – que já passaram, como eu, pelo processo de reconhecimento da cidadania. Já o fato de ser mulher, parece-me, encontra um terreno muito propício na atualidade, basta pensarmos nas candidaturas de Dilma Rousseff , Hillary Clinton, Michelle Bachelet, Cristina Kirchner, ou em todas as mulheres atuantes e muito capazes que se apresentam para pleitos no Brasil e no mundo.

 

n Que pensa sobre a organização dessas eleições, o voto por correspondência, as alegadas possibilidades de fraude, etc. Tem alguma sugestão?

CLAUDIA ANTONINI – Acho que onde há consulados e agências consulares deveria haver urnas para os residentes. Mais de 80% do eleitorado reside nestas localidades. Os restantes sim, devem receber por correspondência pois é a forma mais simples de fazer com que tenham acesso ao direito de votar. Claro que também acho o voto por correspondência passível de fraude mas só um análise profunda do procedimento eleitoral e a consciência que o processo tem que atingir italianos residentes em todo o planeta podem trazer uma solução adequada para o problema.

 

n Outras considerações sobre o tema que gostaria de fazer.

CLAUDIA ANTONINI – Corremos um grande risco, se não dermos nossos votos à listas com chances reais de eleger residentes no Brasil. 

O artigo de Insieme sobre os brasileiros “que levam nossa água para os moinhos argentinos” é bem específico. Mas vejamos os números:

Brasil – 28 milhões de descendentes – 192 mil eleitores

Argentina – 15 milhões de descendentes  – 440 mil eleitores

Não deveria ser o contrário???

Quanto tempo levará para ser reconhecida uma cidadania na Argentina, mais de 10 anos como no Brasil? Com certeza não!

Claro que os cidadãos italo-argentinos têm que ser bem representados – ninguém discorda disto.

A pergunta que fica é: Nós, ítalo-brasileiros, a maior comunidade italiana do mundo, merecemos ficar fora?  Ah, se fosse futebol! Tenho certeza que todos saberiam de que lado temos que jogar…