Andrea Matarazzo analisa norma eleitoral italiana que o elimina da contenda. (Foto TC/SP)

“Não há, pelo menos por hora, como falar em mandato de senador italiano”, afirma o ex-embaixador do Brasil em Roma, Andrea Matarazzo, que se diz “honrado” pelo fato de ver seu nome lançado ao Senado, como candidato, nas próximas eleições para a renovação do Parlamento Italiano.

Entrevistado em São Paulo, na sede da empresa Metalma que, com origem na Matarazzo Holding, está sob seu comando, Matarazzo viu inviabilizada a candidatura de seu nome em função de novas normas introduzidas na lei eleitoral italiana vetando nomes que nos últimos cinco anos tenham exercido cargos públicos em outro país.

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“Sempre deixei claro que precisava refletir sobre essa possibilidade – disse ele – mas veio a emenda na lei eleitoral restringindo candidaturas no exterior. Sendo assim, não há, pelo menos por hora, como falar em mandato de senador italiano”.

Segundo Matarazzo, a restrição é inconstitucional e a deputada Renata Bueno, também segundo ele, entrou com recurso tentando reverter a situação. O ex- embaixador faz campanha para Bueno em sua reeleição. Veja o que disse Matarazzo:

Senado Italiano – “A candidatura como senador pela circunscrição América do Sul foi uma hipótese aventada que recebi com muita satisfação. A emenda que o Parlamento aprovou, impedindo candidaturas no exterior de pessoas que tenham, nos últimos cinco anos, ocupado cargos públicos e administrativos, elimina candidaturas como a minha, pois fui vereador na cidade de São Paulo entre janeiro de 2013 a dezembro de 2016. Foi um manobra inconstitucional, que muito chamam de “manobra Matarazzo”.

Recurso Judicial – A deputada (ítalo-brasileira) Renata Bueno, eleita na circunscrição exterior pela América do Sul, com quem tenho conversado bastante, entrou com um recurso judicial em relação a essa emenda, sustentando que a interpretação a ser dada não abrange cargos em parlamentos. Na verdade, essa emenda criou parlamentares de duas categorias, com impacto direto na América do Sul, possibilitando uma reserva de mercado. É um verdadeiro absurdo impedir que um italiano com sucesso político no seu país seja impedido de levar toda essa experiência ao parlamento italiano . No governo do Estado de São Paulo fui Secretário da Cultura e também de Energia. No governo do presidente Fernando Henrique fui ministro-chefe da Secretaria de Comunicações e Embaixador em Roma. Na cidade de São Paulo ocupei os cargos de secretário de Serviços e secretário de das Subprefeituras e fui eleito para a Câmara Municipal com 117 mil votos.

Perfil do parlamentar no exterior – Quando fui chamado a conversar sobre a candidatura ao senado, refleti sobre o assunto com um grande senso de responsabilidade e não como um desejo pessoal. O senador que é eleito pelas comunidades italianas no exterior não está limitado a trabalhar somente em relação a esses eleitores. O mandato do senador é pleno, ou seja, ele vai interferir em todo e qualquer assunto da vida política, econômica e cultural da Itália. Portanto, precisa estar em sintonia com tudo o que acontece no cotidiano do país. É preciso ter domínio língua italiana de modo a interagir plenamente com a realidade local para que seu voto tenha legitimidade e seja compatível com a realidade da Itália.

Apoio para 2108 – Vou dar todo meu apoio à candidatura da deputada Renata Bueno. Estive em Roma este ano, conversei com muitos e vi o quanto Renata é respeitada na Câmara. É preciso que se vote consciente. Não dá para pensar em eleger candidatos que tem ou tiveram ligações com o PT. Não podemos correr o risco de exportar para a Itália um modelo que tanto mal fez ao Brasil.

Italianidade hoje – “Não diria que a italianidade vai se perdendo, mas sim se diluindo. Existe uma história da imigração que jamais se perderá.Eu venho de uma família de imigrantes (Francesco Matarazzo, nascido em Castellabate, província de Salerno, imigrou para o Brasil em 1881, quando tinha 27 anos de idade e se tornou um dos maiores empresários do país). Sempre acompanhei a história dos meus antepassados que foram pioneiros na industrialização em São Paulo, e coordenei uma biografia da família. As histórias da imigração italiana no Brasil não se perderão pois elas deixaram raízes. Veja que a maior empresa de laranja do mundo ainda está nas mãos da e família fundadora,os Cutrale. Os maiores produtores mundiais doe soja são os Maggi, família de origem italiana na sua terceira geração. A mesma coisa no setor do açúcar e álcool, com os Ometto. Essas histórias bem como com aquelas dos Matarazzo, Crespi, Martinelli está presente permanentemente. Mas ela se dilui,pois a novas gerações não sabem ao certo como essas histórias foram construídas. Vejo isso na minha própria família,com meus sobrinhos e sobrinhos-netos distantes desse passado.

Difusão da memória – Veja o caso dos “Circolos” Italianos espelhados pelo Brasil. No passado eles foram fortes para agregar os imigrantes que chegavam no início do século XX. Hoje, com toda tecnologia existente as pessoas se reúnem cada vez menos. Para ver filmes não precisa ir ao cinema .Dá para assistir de casa, seja pela TV a cabo ou Netflix. Até para conversar com um amigo não precisa mais estar com ele fisicamente, basta usar o whatsapp em texto ou em vídeo, em tempo real. Para jogar, dá fazer isso pelo computador .Mas os “circolos” precisam continuar sendo locais de agregação da italianidade. Devem servir também como difusão da memória da imigração, agregando projetos nesse sentido.