Não durou mais que quatro horas a proposta de Diego Mezzogiorno de colocar urnas nas sedes das Câmaras Municipais de algumas cidades catarinenses para a coleta dos votos retardatários nas eleições por correspondência para o Parlamento italiano. Assim que ela foi publicada no site de Insieme, passaram a chegar indicações de que a proposta era inviável do ponto de vista jurídico, mesmo palpite de muitos que, nas redes sociais, manifestaram-se pela oportuna iniciativa mas com óbices de natureza jurídica.

“Acho que a ideia é ótima em termos de ajuda ao exercício do direito de voto, dentro de um processo cheio de contradições, mas temo pela inconstitucionalidade da iniciativa”, disse o candidato a deputado Walter Fanganiello Maierovitch (LeU), o primeiro a se manifestar, ainda antes do meio-dia. Ele se baseava em parecer emitido por juristas romanos imediatamente consultados por sua coligação. Pouco após as 14 horas, Mezzogiorno comunicava a “retirada da intenção de apoio ao recolhimento dos votos atrasados do Estado de Santa Catarina”.

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A intenção de Mezzogiorno era colocar, até o final do dia de hoje, urnas nas sedes das Câmaras Municipais de Itajaí, Urussanga, Brusque, Blumenau, Florianópolis, São José, Balneário Camboriú, Tubarão e Joinville.  Em seu perfil no Facebook, o candidato Fanganiello postou vídeo em que comenta o caso.

https://www.facebook.com/walter.fanganiellomaierovitch/videos/10212097126764739/

Tal iniciativa – escreveu ele – “visava ajudar o direito de voto aos ítalo-descendentes e italianos de SC que não têm consulado e teriam dificuldade de fazer chegar os votos em um consulado que está em outro Estado”, em Curitiba, Paraná. “Peço desculpas se houve alguma mobilização ou locomoção até alguma Câmara de vereadores de algum município, mas o voto seria invalidado, segundo órgãos italianos que acabam de me alertar”, explicou.

Nas redes sociais, o assunto passou a ser tema de debate, incluindo aspectos sobre as distâncias dos eleitores das sedes consulares. Henrique Lazarotti, por exemplo, acha “totalmente inadequado uma pessoa recolher votos dos outros. Isso deveria ser denunciado. A ideia é boa mas deveria ser executada por uma autoridade em colaboração com as autoridades brasileiras. Cabe inclusive denuncia sobre esses fatos”, escreveu ele. Nandinha Piromalli escreveu achar que a “iniciativa merece aplausos”, mas ela externa sua concordância plena com o Henrique: “Acho, inclusive, que pode ser motivo, razão, argumento para requerer perante a justiça italiana a anulação da totalidade dos votos da América Meridional.”

Outros, como Antonio Spadim, manifestaram parabéns pela iniciativa, acrescentando ser “uma pena que isso não tenha sido proposto, ou mesmo apoiado, como uma alternativa pelo próprio consulado uma vez que este tem a ciência que nem todos votos chegam em tempo hábil de serem assinalados e retornados”.

Em algumas redes, o debate descambou também para o sumiço de nomes das listas de eleitores que já haviam votado em pleitos anteriores. Em resposta a Salvador Scalia, que defendeu a modernização desse “sistema jurássico”, Fabiola Cechinel, acrescentou: “[sistema] que vai do não recebimento das cédulas por tantos – mesmos estando estes com endereço e informações corretas nos consulados (caso de famílias pai e filha receberam as cédulas, mas mãe e outros dois filhos não)”.

Fonte que pede sigilo de seu nome explica que em todas as eleições italianas existem os “coletores” de votos, um serviço informal geralmente organizado por tendências partidárias e candidatos isoladamente. Para garantir, em tempo, a devolução aos consulados das cédulas votadas, essas pessoas dão-se ao trabalho de organizar malotes e encaminhá-los aos correios ou, mesmo, transportá-los até as sede consulares. Uma prática que, segundo outros, é também exercida no âmbito de grupos familiares e de patronatos, associações e assemelhados, inclusive por escritórios particulares, ligados ou não aos candidatos em disputa.