Enquanto o governo já pensa no pós-pandemia criando uma ‘task force’ para a reconstrução do País e a Itália se prepara para um período mais longo de quarentena que deverá durar até os primeiros dias de maio, os cidadãos confinados refletem sobre a situação. E choram a perda causada pela pandemia de uma geração que viveu a guerra e reconstruiu o país com suas mãos calejadas sem ao menos poder dizer adeus.

“Tristes, silenciosos, como talvez tenham sido humildes e silenciosas suas vidas, feitas de trabalho e de sacrifícios, eles vão embora” – diz um texto que circula nas redes sociais da Itália – referindo-se aos avós que “se vão sem um carinho, sem que ninguém lhes apertasse a mão, sem mesmo um último beijo”, embora tenham sido eles que reergueram o País, devastado pela Segunda Guerra Mundial. O texto é atribuído a “F. Marcellitti”, e é comentado por Claudio Piacentini, tradutor da revista Insieme, em sua nona tele-entrevista sobre a situação italiana.

PATROCINANDO SUA LEITURA

Piacentini comenta sobre essa “Páscoa diferente” que a sociedade italiana está passando e analisa inclusive os motivos pelos quais o governo está esticando o prazo da quarentena, antes prevista para ser encerrada no próximo dia 13. Embora os números estejam em queda, há o temor de uma “realimentação” do processo de contágio.

O texto referido por Piacentini chora o fim da geração que reconstruiu a Itália, e vai abaixo transcrito e traduzido:

“Se ne vanno.
Mesti, silenziosi, come magari è stata umile e silenziosa la loro vita, fatta di lavoro, di sacrifici.
Se ne va una generazione, quella che ha visto la guerra, ne ha sentito l’odore e le privazioni, tra la fuga in un rifugio antiaereo e la bramosa ricerca di qualcosa per sfamarsi.
Se ne vanno mani indurite dai calli, visi segnati da rughe profonde, memorie di giornate passate sotto il sole cocente o il freddo pungente.
Mani che hanno spostato macerie, impastato cemento, piegato ferro, in canottiera e cappello di carta di giornale.
Se ne vanno quelli della Lambretta, della Fiat 500 o 600, dei primi frigoriferi, della televisione in bianco e nero.
Ci lasciano, avvolti in un lenzuolo, come Cristo nel sudario, quelli del boom economico che con il sudore hanno ricostruito questa nostra nazione, regalandoci quel benessere di cui abbiamo impunemente approfittato.
Se ne va l’esperienza, la comprensione, la pazienza, la resilienza, il rispetto, pregi oramai dimenticati.
Se ne vanno senza una carezza, senza che nessuno gli stringesse la mano, senza neanche un ultimo bacio.
Se ne vanno i nonni, memoria storica del nostro Paese, vero patrimonio di tutta l’umanità.
L’Italia intera deve dirvi GRAZIE e accompagnarvi in quest’ultimo viaggio con 60 milioni di carezze.” Grazie… (F. Marcellitti)

Eles vão embora.
Tristes, silenciosos, talvez como tem sido humilde e silenciosa a vida deles, toda feita de trabalho, de sacrifícios.
Vai embora uma geração, aquela que viu a guerra, provou seus odores e privações, entre a fuga para um refúgio antiaéreo e a busca desesperada por qualquer coisa que matar a fome.
Vão-se mãos endurecidas por calos, rostos marcados por rugas profundas, memórias de dias passados sob o sol escaldante ou sob o frio intenso.
Mãos que removeram escombros, amassaram cimento, dobraram o ferro em camiseta e chapéu de papel jornal.
Vão-se aqueles da Lambretta, do Fiat 500 ou 600, das primeiras geladeiras, da televisão em preto e branco.
Eles nos deixam embrulhados num lençol, como Cristo no sudário, aqueles do ’boom’ econômico que, com seu suor, reconstruíram nossa Nação, presenteando-nos com o bem-estar do qual impunemente nos aproveitamos.
Vai-se a experiência, a compreensão, a paciência, a resiliência, o respeito, qualidades que foram esquecidas.
Vão-se embora sem um carinho, sem que ninguém lhes aperte a mão, sem nem mesmo um último beijo.
Vão embora os avós, memória histórica de nosso País, verdadeiro patrimônio de toda a humanidade.
A Itália inteira deve dizer-lhes obrigado e acompanhá-los nesta última viagem com 60 milhões de carícias. Obrigado…” (Texto atribuído a F. Marcellitti)