”Amanhã irei a Porto Alegre para testemunhar a proximidade da Itália com as populações afetadas pelas enchentes”, diz Mattarella

Enquanto o presidente Lula ressaltava a contribuição dos imigrantes italianos para o desenvolvimento do Brasil e agradecia o apoio da Itália em questões ambientais e de direitos humanos, o visitante presidente Sergio Mattarella enfatizava a colaboração brasileira em áreas como comércio, ciência, tecnologia e cultura. Assim se encerrava, no começo da tarde de hoje, em Brasília, a primeira etapa da visita do Presidente da República Italiana ao país que abriga a maior comunidade itálica do mundo por ocasião das celebrações do sesquicentenário do início da grande imigração italiana no Brasil.

Mattarela, que fez um discurso um pouco mais longo que o de Lula, também mencionou a importância de fortalecer os laços econômicos e a parceria estratégica entre os dois países, especialmente em um momento de desafios globais. Antes dos pronunciamentos, os dois líderes discutiram a portas fechadas várias questões de cooperação e temas internacionais.

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Os dois presidentes falaram depois da assinatura de diversas declarações de intenções no campo da ciência e da educação, e da renovação do acordo de reciprocidade no reconhecimento da carteira de habilitação, que beneficia tanto brasileiros na Itália quanto italianos no Brasil. Lula agradeceu a recente ajuda humanitária da Itália ao Rio Grande do Sul, onde o mandatário italiano estará em visita nesta terça-feira. Assim que foi recebido no Palácio do Planalto, Mattarella foi agraciado com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais honrosa comenda brasileira a chefes de Estado.

O pronunciamento de Mattarella foi feito em italiano e vai, traduzido, transcrito na íntegra: “Eu desejo agradecer muito ao presidente Lula pelo que ele disse e pela calorosa recepção que reservou a mim e à delegação que me acompanha. Sou grato pelo convite para realizar esta visita. Ele me convidou no ano passado durante nosso encontro em Roma e sou realmente grato por isso. E esta minha visita, como o Presidente gentilmente lembrou, abrangerá vários lugares neste país esplêndido país. Visitarei Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, mas amanhã de manhã, antes de tudo, irei a Porto Alegre para testemunhar a proximidade da Itália com as populações afetadas pelas enchentes que causaram tantas vítimas e danos tão graves.

Agradeço ao presidente Lula pelas palavras que usou em relação à Itália, mas nossa amizade é realmente sólida, como sempre se vê, mesmo nos momentos de compromisso especial. Este ano, 2024, é um ano particularmente significativo para nossas relações entre Brasil e Itália em vários aspectos. No ano em que o Brasil preside o G20 e a Itália o G7, como o presidente Lula lembrou há pouco, este ano marca o 150º aniversário do início da migração italiana para o Brasil. O presidente Lula também mencionou isso. Os primeiros emigrantes italianos aqui no Brasil encontraram acolhimento e oportunidades de vida, assim como ocorreu posteriormente para muitos outros que os seguiram e chegaram aqui, neste grande e acolhedor país.

Há outra comemoração que gostaria de destacar de maneira especial, que é o desembarque na Itália do contingente brasileiro que lutou na Itália ao lado dos aliados. Esse desembarque ocorreu exatamente oitenta anos atrás, em 16 de julho de 44. Renovei ao presidente Lula o reconhecimento da República Italiana pela contribuição dos jovens brasileiros para nossa libertação da opressão nazista e fascista.

Constatamos juntos o excelente andamento das nossas relações bilaterais e isso é motivo de satisfação. Concordamos, como o presidente Lula destacou há pouco, em interpretá-lo também como um incentivo para aumentar ainda mais a amplitude da nossa colaboração em todas as áreas de interesse comum. Isso vale certamente, antes de tudo, para as relações econômicas e comerciais. Há um forte compromisso das empresas italianas aqui no Brasil, tanto em setores tradicionais quanto em setores mais avançados e de maior valor agregado. Esse compromisso das empresas italianas é algo que pretendemos apoiar e encorajar em Roma para estimular a colaboração entre empresas brasileiras e italianas no esforço comum de crescimento econômico e comercial.

Desejo também destacar a amplitude das colaborações nos campos cultural, científico e tecnológico. Os acordos assinados há pouco abrangem tanto a área econômica e comercial quanto a área cultural e científica.

Esta relação de colaboração cultural entre a Itália é particularmente ampla. Dela surgiram, ao longo do tempo, iniciativas de grande relevância. Existe uma relação de atração recíproca que deriva do fascínio que a cultura brasileira exerce sobre os italianos e da resposta brasileira à expressão da cultura italiana. Basta pensar na profunda amizade que surgiu no século passado entre dois grandes expoentes da poesia mundial, Vinicius de Moraes e Giuseppe Ungaretti. Gostaria de acrescentar que a Bossa Nova, senhor Presidente, que a Bossa Nova e o Samba, dos quais ele foi um extraordinário embaixador no mundo, encontraram na Itália um grande favor, influenciando nossos músicos e inaugurando uma temporada de preciosas colaborações artísticas que continuam até hoje de forma feliz.

Também é de grande importância a relação colaborativa entre universidades, com muitos acordos existentes, como os assinados esta manhã entre universidades brasileiras e italianas, bem como no campo da ciência e da tecnologia.

Para a Itália, o Brasil representa um parceiro de ponta para alguns setores particularmente avançados no plano científico e tecnológico. Lembramos a presidência comum do Brasil no G20 e na Itália no G7 este ano. Há muitas sinergias que Brasil e Itália manifestaram em muitos aspectos dm relação a estas responsabilidades.

Quanto aos temas colocados no centro da agenda internacional, messa ocasião, penso nas mudanças climáticas, na transição energética, na segurança alimentar, no compromisso indispensável para superar as desigualdades. São esses os temas que decidem o futuro das jovens gerações e das que virão. Registramos, portanto, com satisfação, as consonâncias que caracterizam os trabalhos desses dois grandes conselhos multilaterais de tão grande relevância.

Agradeci ao presidente Lula por sua presença no summit na Itália e na Puglia, no G7, nas semanas passadas. Assegurei a ele, naturalmente, o compromisso italiano para o pleno sucesso do summit do G20 no Rio de Janeiro, começando pelo grande projeto que o Brasil lança para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Nesse contexto, também falamos naturalmente sobre questões alarmantes que marcam a vida internacional. Particularmente, quanto ao conflito na Ucrânia, surpreendentemente desencadeado com a agressão por parte de um membro permanente do Conselho de Segurança, a Federação Russa. E quanto à condição do conflito israelo-palestino. Concordamos plenamente que o mundo precisa genuinamente de paz.

Essa é uma aspiração comum difundida entre os povos e concordamos sobre a importância de trabalhar, em primeiro plano, para alcançar uma paz que só pode ser justa para ser duradoura, baseada no direito internacional, no respeito pelos outros Estados e no respeito pelas regras da ONU. O respeito à dignidade igual de cada Estado é um princípio irrenunciável da política internacional. Na Ucrânia foi violado e isso precisa ser restaurado, buscando de todas as formas, persistentemente, caminhos para a paz.

Quanto ao Oriente Médio, concordamos não apenas sobre a avaliação dos horríveis ataques terroristas do Hamas, em 7 de outubro, com o sequestro de reféns e, por outro lado, com os imensos sofrimentos da população civil de Gaza, que tem um número imenso de vítimas entre mulheres e crianças. Concordamos sobre a necessidade de finalmente colocar na mesa a perspectiva e a única solução possível dos dois Estados, a única que pode proporcionar segurança e perspectivas de desenvolvimento para ambos os povos. Essa espiral de ódio precisa ser interrompida porque se repete periodicamente e em medidas cada vez mais alarmantes, cada vez mais graves.

Finalmente, gostaria, recordando também o conteúdo do nosso colóquio em Roma um ano atrás, com o Presidente Lula, lembrar a importância que o Presidente mencionou há pouco sobre a relação entre Mercosul e União Europeia e, portanto, a importância histórica do acordo entre Mercosul e União Europeia. Consideramos indispensável alcançar rapidamente essa decisão histórica que diz respeito a um acordo entre duas grandes realidades de colaboração e paz, que são Mercosul e União Europeia, em benefício do mundo. Esse tecido de colaboração entre integrações continentais é um elemento que garante e promove a paz no mundo.

Apreciamos muito o que foi dito no Rio de Janeiro, em dezembro, no encontro entre chefes de Estado e de governo dos países do Mercosul, sobre a importância de alcançar rapidamente o acordo.

Gostaria de concluir, senhor Presidente, agradecendo novamente, lembrando mais uma vez o caráter excepcional do vínculo que une meu país ao Brasil, também graças à presença aqui da maior comunidade no mundo de ascendência italiana. Agradeço novamente ao Presidente Lula pelo convite e por sua amigável hospitalidade e pelo convite para ver este grande país amigo. Obrigado, senhor Presidente.”