CURITIBA – PR – Sem alguma lembrança – nem da parte da
Itália, nem do Brasil – transcorreu, no último dia 4, o aniversário do naufrágio
do navio Sirio que, em 1906, dois dias após ter partido do Porto de Gênova para
o Brasil, naufragou com 1.700 passageiros e 127 tripulantes a bordo, entre eles
cerca de 700 imigrantes italianos, dos quais 300 morreram no ato e 200 foram
dados como desaparecidos para sempre.
A tragédia, lembrada em letra de música
que no Brasil do Estado Novo teve proibida sua execução, se junta à tragédia de
outros milhares de imigrantes que desapareceram na travessia do Atlântico e
também nos primeiros tempos, após a chegada no novo destino. No Sul do Brasil,
por exemplo, aos imigrantes italianos foram entregues terrenos em meio a
florestas inexploradas e à época sem qualquer meio de comunicação. A ausência de
qualquer lembrança sobre a data demonstra apenas que o sacrifício de milhares de
imigrantes é uma história cheia de tragédias e sucessos até hoje pouco
documentada e menos ainda lembrada quer na Itália, quer no Brasil. Na Itália,
uma iniciativa parlamentar assumida pelo deputado Fabio Porta, do Brasil, quer
tornar o estudo da emigração italiana matéria obrigatória na rede escolar.

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O Naufrágio  –  No site “novomilenio.inf.br”, a
tragédia do naufrágio do navio Sirio é assim contada: Em 4 de agosto de 1906, um
navio de passageiros, o Sírio naufragou nas costas da Espanha, próximo às Ilhas
Formiga, junto ao Cabo Palos, em viagem regular na linha de Gênova (de onde
saíra dois dias antes) para o Brasil e países da Bacia do Prata. Eram 16 horas,
e o capitão José Piconne (de 68 anos e 46 de experiência na profissão) estava
descansando, ficando o comando da embarcação sob a responsabilidade do terceiro
oficial, quando se ouviu um ruído ensurdecedor e um grande impacto fez o navio
inteiro sacudir. O comandante, além de não controlar o pânico resultante, foi um
dos primeiros a abandonar o navio.

Construído em 1883 em Glasgow, na Escócia, o Sírio era um moderno
transatlântico na época, com 129 metros de comprimento e 4.141 toneladas, com
motor de 5.323 cavalos-vapor, tendo feito sua primeira viagem em 15/6/1883. A
embarcação transportava cerca de 1.700 passageiros (embora só pudesse levar
1.300, e 127 tripulantes), entre eles cerca de 700 imigrantes italianos, dos
quais 300 morreram no ato e 200 ficaram desaparecidos. Os que conseguiram se
salvar, perdendo todos os seus pertences, foram abrigados pelas populações do
Cabo Palos, de Cartagena e de Alicante.

A embarcação espanhola Jovem Miguel recolheu cerca de 300 náufragos, mas foi
obrigada a se afastar, deixando ainda centenas de pessoas no mar, já que a
explosão das caldeiras do Sírio e seu rápido afundamento colocaram essa
embarcação em perigo. Já o navio francês Marie Louise, mais distante, ao chegar
ao local da tragédia só encontrou destroços.

O comandante do Sírio foi preso em Cartagena, como culpado pelo sinistro,
pois costumava aumentar seus rendimentos embarcando clandestinos no litoral
espanhol e teria para isso se aproximado demais dos arrecifes. Além disso, como
havia uma espécie de competição entre os navios quando à rapidez nas viagens, o
Sírio viajava em velocidade elevada (17 nós, ou 31,5 km/h), incompatível com o
local (o Bajo de Fuera, que se transformaria num cemitério de embarcações) e
mais perto da costa do que deveria. O naufrágio foi presenciado por outros
navios mercantes, por ser região de intenso tráfego marítimo.

Entre os passageiros, estavam também inúmeras autoridades religiosas que
voltavam de Roma. Assim, morreu nessa tragédia o monsenhor José Camargo de
Barros, bispo de São Paulo, com 48 anos de idade, além do prior da Ordem dos
Beneditinos de Londres, oito missionários que vinham para o Brasil, salvando-se
entretanto o arcebispo do Pará, Homem de Melo.

Testemunhas afirmam que dom José Camargo de Barros morreu devido à agressão
de um tripulante que lhe tirou o salva-vidas, quando ele abençoava aqueles que
iam se atirando nas águas. Também morreu o cônsul da Áustria no Rio de Janeiro,
Leopoldo Poltzer.

Esse naufrágio ficou marcado profundamente na memória da colônia italiana no
Brasil, que – três gerações depois – ainda canta, com muita tristeza: “Il Sírio,
il Sírio, la misera squadra; per molta gente la misera fin…”. Nessas famílias,
há um dito ritmado, transmitido de pai para filho: “quem não souber por quem
rezar, reze por aqueles que estão no mar”.

Letra da música – Em todas as comunidades italianas no
Brasil é conhecida a canção “Il Sirio”. Mesmo que não com a letra original, a
música era cantada também durante o Estado Novo (quando foram fechadas
associações, escolas e se proibiu falar a língua italiana), com outras palavras.
Uma delas, começava assim: “À beira da estrada / no desfiladeiro / …” A
palavra sírio aparecia apenas no refrão, mas com a conotação de alguém natural
da Síria: “Um sírio, um sírio / é a última prece / com que adormece / nas mãos
do senhor”.

 

A letra da música que lembra o naufrágio é a seguinte:

E da Genova
In Sirio partivano
Per l’America
Varcare i confin

Ed a bordo
Cantar si sentivano
Tutti allegri
Del suo destin

Urtò il Sirio
Un orribile scoglio
Di tanta gente
La misera fin

Padri e madri
Bracciava i suoi figli
Che si sparivano
Tra le onde
del mar

E fra loro
Un vescovo c’era
Dando a tutti
La sua benedizion