u A história não se esgota em eventos, mas se perpetua no tempo. Opiniões convergentes e divergentes sobre o papado de João Paulo II se fundamentam em conceitos diferentes. Viagens, qualquer papa pode fazer. Reformas também. Então, onde está o específico do papado de João Paulo II? Sucesso para uns e fracasso para outros. Tanto assim que a ala Ratzinger e Ruini divulgaram à Imprensa que “Depois de Wojtyla uma revolução papal se faz necessária”
O prof. Pietro di Marco, da Universidade de Firenze, atribui a influência de João Paulo II ao fato de ter tornado visivel a invisibilidade da Igreja. Ele fez uma leitura própria dos sinais dos tempos: “Ensinou e praticou a sacra doutrina e também a sacra milícia.” João Paulo II foi doutrina-vida. Este é o seu atestado papal, coerente com seu lema, que também encabeça o testamento – Totus Tuus ego sum…Sou todo teu, Senhor! Esta vivência o atestou para o mundo como o homem de Deus.
Quero ser tão ingênuo como ele e tão ingênuo quanto os países que aceitaram sua visita, correndo riscos de segurança, com investimentos por vezes criticados pelos cidadãos. Será que todos o receberam apenas como chefe de Estado? Não sabiam que também era chefe religioso? E se João Paulo tivesse usado sua condição de chefe religioso, fazendo proselitismo, não seriam incoerentes os países, em recebê-lo? E não teria o Papa contra si todas as religiões cujas lideranças visitou, com elas orou, fazendo de Assis o nascimento de uma humanidade fraterna? A ingenuidade foi tão genuína que João Paulo se tornou o centro da nova humanidade, unida em defesa da vida, do amor, da fraternidade, da paz e da fé. A humanidade dos filhos de Deus.
Ele avançou no ecumenismo? Sim, dentro de seu propósito Totus tuus. Se todos somos de Deus e Deus é de todos, o encontro de todos os que vivem sua fé em Deus transcende a qualquer denominação religiosa. Não é João Paulo II o deslogado do tempo, os deslocados somos nós, distantes ainda de um ecumenismo concreto.
Doutrina de Cristo não depende do papa, sua interpretação sim. Avanços da biogenética depende dos cientistas e do bom senso, mas ser fraterno e amar a todos reconhecendo-lhes o direito de filhos de Deus depende de cada um de nós.
A grande herança que João nos deixa é a concomitante consciência mundial de que todos somos irmãos, e Deus é nosso Pai. O resto são palavras ao vento.