CURITIBA – PR – Somente uma semana depois que o Supremo Tribunal Federal mandou soltar o ex-terrorista Cesare Battisti da cadeia brasileira, onde estava desde 2007, o Intercomites conseguiu organizar uma nota de protesto contra a decisão. “Escrevemos estas linhas, entristecidos, pela decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal a respeito da extradição de Cesare Battisti”, divulgou esta noite o presidente de turno da entidade que representa os Comites (Comitati degli Italiani Residenti all’Estero), Gianluca Cantoni, acrescentando: “Tiveram a coragem de deixar este sujeito em liberdade, e lhe (sic) estão concedendo o visto de residência permanente!”
A nota traz a assinatura de Rita Blasioli (presidente do Comites de  São Paulo; Silvia Alciati (de Belo Horizonte); Adriano Bonaspetti (de Porto Alegre); Gianluca Cantoni (de Curitiba); Franco Perrotta, (do Rio de Janeiro) e Salvador Scalia (do Recife).
Por divergirem da posição tomada, não assinaram a nota os delegados brasileiros perante o CGIE (Consiglio Generale degli Italiani all’Estero), Walter Petruzziello (Curitiba), Claudio Pierroni e Antônio Laspro (São Paulo), e Mario Araldi (Minas Gerais). Segundo Insieme apurou, eles deverão divulgar nas próximas horas uma nota muito mais contundente, em que defendem, entre outras coisas, a suspensão de todos os festejos do “Momento Italia-Brasile” , já manifestada isoladamente pelo conselheiro Walter Petruzziello. Tal posição, submetida à apreciação dos presidentes dos Comites, não obteve a adesão da maioria.
A branda e tardia posição dos presidentes dos Comites, segundo algumas informações, representaria um alinhamento total à orientação emanada de setores da Embaixada da Itália no Brasil, cujo titular, Gherardo La Francesca, foi chamado à Itália para explicações logo após a decisão do STF.
Eles, entretanto, afirmam na nota que são “representantes eleitos da Comunidade Italiana”, alguns  nascidos na Itália, e que “residentes neste maravilhoso País”, não estão de acordo “com esta decisão”. “Com todo o respeito aos Senhores Ministros – concluem a nota sem apresentar os fundamentos da causa –  é uma decisão suicida do ponto de vista Constitucional”.
O comportamento brasileiro no caso Battisti foi condenado, imediatamente após a soltura do criminoso, pelo deputado Fabio Porta, eleito pelo voto direto dos ítalo-brasileiros e sul-americanos para o Parlamento Italiano que, entre outras coisas, defendeu recurso italiano perante o tribunal internacional de Haia. Porta observou, assim como o presidente italiano Giorgio Napolitano e todas as principais lideranças políticas italianas, independentemente de cor partidária, que o Brasil rompeu com os acordos internacionais celebrados entre as duas nações ao negar a extradição de Battisti que veio ao Brasil na condição de foragido da Justiça, usando inclusive de documentação falsa.
Enquanto isso,  na Itália, a grande maioria já se manifesta pelo boicote à Compa Mundial de Futebol que será realizada no Brasil. Outras iniciativas de protesto já tomam corpo faz tempo. Por exemplo, a cidade italiana de San Polo di Piave, na região do Vêneto, suspendeu o projeto de geminação (cidade irmã) com o município catarinense de Arroio Trinta como forma de protestar contra a libertação do ex-militante Cesare Battisti, condenado na Itália por sua participação no assassinato de quatro pessoas.
Os atuais presidentes dos Comites, assim como os demais conselheiros, tiveram seus mandatos prorrogados por decreto, depois que as eleições, que deveriam ter sido realizadas em 2009, foram adiadas duas vezes. “Após os atos do ex-ministro da Justiça, Tarso Genro e do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva –  afirmam eles – , tínhamos a convicção que o Supremo Tribunal Federal teria superado os eventuais obstáculos jurídicos, ouvindo as reclamações e os desejos do povo brasileiro, não permitindo a liberdade de uma pessoa reconhecida como criminosa em toda a Europa”, dizem os signatários da nota.
Eis a nota do Comites, escrita em italiano e endereçada ao embaixador Gherardo La Francesca:

Ill.mo Sig. Ambasciatore Min. Gherardo la Francesca
Scriviamo queste righe molto amareggiati, per la decisione presa dal Supremo Tribunale Federale a riguardo dell’ estradizione di Cesare Battisti.
Dichiariamo, come rappresentanti eletti della Comunitá, alcuni di noi nati in Italia e residenti in questo meraviglioso Paese, che non siamo assolutamente d’accordo con questa decisione!
Vogliamo esprimere la nostra piú assoluta disapprovazione e affermare che questa decisione non rappresenta il pensiero e il desiderio della maggior parte del popolo brasiliano.
Dopo gli atti dell’ ex Ministro della Giustizia Tarso Genro e dell’allora Presidente Luiz Inacio Lula da Silva, avevamo la convinzione che il Supremo Tribunale Federale avrebbe superato  gli eventuali ostacoli legali ascoltando i reclami e i desideri del popolo brasiliano, non permettendo la libertá di una persona, riconosciuta come criminale in tutta l’Europa!
Purtroppo ci eravamo illusi!
Hanno avuto il coraggio di lasciare questo soggetto in libertá e gli stanno concedendo il visto di residenza permanente!
Il Senatore brasiliano Pedro Taques (PDT-MT) in un discorso in aula ha detto, criticando la decisione, che questa potrebbe trasformare il Paese in “una fossa di criminali”.
Con tutto rispetto ai Signori Ministri é una decisione suicida dal punto di vista costituzionale.
I Presidenti Comites Brasile,
Rita Blasioni – San Paolo
Silvia Alciati – Belo Horizonte
Adriano Bonaspetti – Porto Alegre
Gianluca Cantoni – Curitiba
Franco Perrotta – Rio de Janeiro
Salvador Scalia – Recife

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A nota traz a seguinte tradução:

Escrevemos estas linhas, entristecidos, pela decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal a respeito da extradição de Cesare Battisti.
Declaramos, como representantes eleitos da Comunidade Italiana, alguns de nós nascidos na Itália, residentes neste maravilhoso País, que não concordamos com esta decisão!
Desejamos expressar a nossa absoluta desaprovação, afirmando que esta decisão não externa o pensamento e o desejo da maioria do povo brasileiro.
Após os atos do ex-ministro da Justiça, Tarso Genro e do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tínhamos a convicção que o Supremo Tribunal Federal teria superado os eventuais obstáculos jurídicos, ouvindo as reclamações e os desejos do povo brasileiro, não permitindo a liberdade de uma pessoa reconhecida como criminosa em toda a Europa!
Infelizmente a nossa era uma ilusão!
Tiveram a coragem de deixar este sujeito em liberdade, e lhe estão concedendo o visto de residência permanente!
O senador Pedro Taque (PDT-MT) subiu à tribuna para lamentar a decisão do Supremo e dizer que o Brasil estaria se transformando em um “cafofo de criminosos”.
Com todo o respeito aos Senhores Ministros, é uma decisão suicida do ponto de vista Constitucional.”