Em homenagem aos 150 anos da imigração italiana no Brasil, uma equipe  de ciclistas amadores da Região do Vêneto está realizando um percurso de cerca de 1.400 quilômetros em bicicleta na região Sul do Brasil. O trajeto foi iniciado dia 16/10 em Campinas-SP e vai terminar em Garibaldi, no Rio Grande do Sul, dia 23/10, na última das nove etapas do percurso intitulado “Dal Veneto al Brasile ripercorrendo la strada dei nostri emigranti 1879-2023”.

Depois de terem enfrentado muitas dificuldades, ontem, no trajeto Curitiba-Joinville, os ciclistas seguem hoje (20) para Florianópolis. A descida da serra pela BR-376 em dia chuvoso e com tráfego intenso tirou de “combate” mais da metade dos ciclistas devido a repetidos estouros de pneus, conforme se pode verificar no vídeo que acompanha esta matéria. O trajeto foi considerado “muito perigoso”.

PATROCINANDO SUA LEITURA

O estoque de câmaras de reposição foi completamente esgotado e a equipe aguardava recuperá-lo em Joinville, viajando no veículo de apoio, enquanto os demais seguiam pedalando. Um dos coordenadores do grupo presidido por Andrea Dal Col observou que “nem de longe nossas dificuldades se equiparam àquelas passadas pelos imigrantes” do final do século 19. As bicicletas todas foram trazidas da Itália.

Em Curitiba, os ciclistas foram recebidos na sede da Prefeitura pelo assessor chefe de Relações internacionais, Rodolpho Zanin Feijó, ao lado do cônsul honorário do Brasil em Trento, Alberto Piz – um ponto de referência do grupo. Durante as conversas, Piz lembrou do inconcluso “gemellaggio” entre Curitiba e Treviso, sugerindo que os ciclistas levassem ao sindaco da cidade italiana o apelo para a retomada das tratativas abandonadas no curso de uma eleição no município.

A maioria dos integrantes do grupo é da cidade de Conegliano Veneto – “a terra do prosecco”, na província de Treviso – que mantém “gemellaggio” com Garibldi-RS, etapa final da epopeia ciclística, no próximo domingo.

Na apresentação da iniciativa, patrocinada pela Região do Vêneto e por diversas empresas da localidade, o presidente Andrea Dal Col explica que “Alè Azzurri é um grupo de amigos de Conegliano e arredores que partilham o amor pelo ciclismo, um desporto que permite ir longe apenas com a força das pernas e a vontade da mente, e que, no final do esforço, adoram o convívio com os produtos típicos e essenciais da região do Vêneto, entre os quais obviamente nunca falta o bom vinho”.

Ele explica também que, ao longo dos anos de atividade, os ciclistas Alè Azzurri, inscritos na A.S.D. “Ospedale Marenese Gino Bartali”, têm-se revelado viajantes incansáveis, curiosos, ávidos por guardar e aprender com diferentes culturas, aventurando-se com as suas bicicletas em viagens bastante longas e em locais “fora da cidade”, para levar as cores e bandeiras da Cidade de Conegliano em manifestação de causas justas”, que ele historia:

• em 2018, o muro de Ca’ del Poggio foi ligado ao muro de Grammont, na Bélgica: foram percorridos 1.300 km entre Itália, Áustria, Alemanha, França e Bélgica;

• em 2019, o 75º aniversário do desembarque dos aliados na Normandia foi celebrado em memória de todos os caídos. A recepção por parte da administração de Caen (França) foi comovente, entregando-nos as chaves simbólicas da cidade que, por sua vez, foram entregues ao prefeito de Conegliano, Fabio Chies;

• em 2020, para agradecer aos médicos albaneses que vieram 1a Itália para tratar os doentes infetados pela Covid19, e não conseguindo chegar a Tirana, o grupo percorreu o percurso que unia simbolicamente as cidades de Conegliano, Bérgamo e Roma, onde, a embaixadora Anila Bitri nos acolheu calorosamente. Entregámos aos médicos o produto mais representativo do nosso território, ou seja uma magnun di Prosecco e uma obra em vidro de Marco Varisco;

• em 2021, o itinerário foi pensado para combinar dois patrimônios da Unesco: as Colinas Prosecco e o Sassi de Matera, separados por aproximadamente 1.200 km; ao longo do caminho, inúmeras associações desportivas e grupos políticos uniram-se para promover o desporto entre os jovens com o slogan “nunca desistimos”;

• em 2022 a viagem teve como destino Tirana-Albânia, 1.300 km de percurso, ao longo do qual fomos recebidos com carinho, graças também à ajuda do nosso conterrâneo técnico e comentarista de futebol Gianni Biasi e foi significativa a hospitalidade da Embaixadora Aila Biti, o prefeito de Tirana e o ministro da Saúde”.

Segundo Andrea, tais iniciativas “contam com o patrocínio da Região do Veneto, do Município de Conegliano e de muitos amigos”.

O presidente do grupo observa que “para o ano de 2023, a Alè Azzurri pretendeu levantar ainda mais a agulha, ao planear uma viagem ao Sul do Brasil, e mais precisamente aos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, para refazer as rotas dos nossos antepassados ​​vênetos, que preservam e transmitem zelosamente a história, os costumes e as tradições do Vêneto”.

Por que Brasil? E por que essa região do Brasil? Andrea responde: “Porque muitos italianos, inclusive a maioria vênetos, desde o final do século XIX, emigraram para o Sul do Brasil com a esperança de uma vida melhor, estimulados pela promessa de ter uma terra própria para cultivar, comendo frutas exóticas e conhecendo os lugares caracterizados por temperaturas amenas”.

“A maioria dos emigrantes – observa – eram agricultores capazes de trabalhar a terra e habituados ao sacrifício, mas também incentivados a cultivar grandes sonhos: o Brasil representava a esperança de uma vida melhor e um grande desafio laboral e empresarial”.

Assim, explica que “o percurso dos Alè Azzurri nasceu, da necessidade de refazer os caminhos percorridos por aquelas famílias vêneta que, no final do século XIX, fugindo da pobreza, da fome e em busca de futuro e de esperança, se enraizaram naquelas zonas, destacando-se pela grande vontade de trabalhar, pelo amor à família e às tradições, sem apagar, ou mesmo transmitir às gerações seguintes, as memórias da sua terra natal. Conscientes disso, temos o desejo de trazer, daquele Veneto de onde tantos partiram em busca de esperança e de futuro, uma saudação através da nossa bela língua, que todos ainda hoje entendem e falam, principalmente aprendida em casa, para manter vivo o vínculo com a terra de origem”.

Campanilismo à parte, “de Conegliano, em particular, queremos manter viva a cultura do bom vinho, visto que, nestas regiões que vamos visitar, a Festa da Uva tornou-se, graças aos vênetos da época, não menos constitutiva da identidade de Brasil que o Samba ou a Capoeira”.

E finaliza: “A viagem é também a vontade e a curiosidade de vivenciar em primeira mão e levar para casa o testemunho do que os nossos conterrâneos têm sido capazes de realizar: PERENCIN, VIZZOTTO e PERENZIN na cidade de Campinas famosa pela produção de café; PERENCIN, DENIS, BORTOLETTO, ZANIN, DE STEFANI e ZANARDO perto de São Paulo; PERENZIN, GALLON, DE NONI, MARANGONI, PAGNAN, ZANIN, CESCA e BORTOLETTO que estabeleceram-se mais ao sul, nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande, locais de produção de vinho”.

Participam da aventura: Bazzo Michele, Bortolotto Andrea, Bronca Davide, De Ioris Lino, Michelet Andrea, Montinaro Elio, Nardi Alfredo, Perencin Michele, Christian Zanarotti, allém do presidente Andrea Dal Col.