Silvia Alciati, em imagem de 30 de janeiro, durante o anúncio oficial da da Coligação 'Civica Popolare'.(Foto Desiderio Peron /Arquivo Revista Insieme)

A proximidade de alguns candidatos ao Parlamento Italiano com instituições e órgãos italianos, como Consulados, Comites – ‘Comitati degli Italiani all’Estero’, CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, está gerando alguma confusão, e até denúncias no seio de comunidades italianas e de partidos antagônicos na disputa eleitoral em curso.

A mais recente vem de Minas Gerais, conforme denúncia encaminhada à secretaria brasileira do PD – Partito Democratico, e envolve a candidata Silvia Alciati, um dos três conselheiros do Brasil no CGIE, a presidente do Comites local, Silvana Sica, fazendo dela protagonista até a cônsul Aurora Russi. Tudo em função da dupla atividade momentânea de Alciati, que é também candidata a deputado na coligação de centro-esquerda “Civica Popolare”, com Renata Bueno.

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A candidata, que não consta ter-se licenciado do CGIE a partir da sua candidatura a deputado, conforme a denúncia estaria comparecendo em eventos organizados com a chancela do Consulado Italiano local, onde estaria sendo apresentada inclusive como “nossa candidata” e aproveitando a oportunidade para encontros de orientação sobre procedimentos eleitorais.

“Na minha opinião [o que está ocorrendo], é errado”, disse o secretário geral do PD no Brasil, Andrea Lanzi, ao encaminhar o material à redação de Insieme, contendo, além de uma descrição detalhada dos acontecimentos, algumas imagens de capturas de telas com postagens em redes sociais e vídeos que pretendem comprovar o relato escrito. O relato se refere à “somatória de duas atividades” distintas: “A missão consular de emissão de passaportes e uma festa em homenagem à Cônsul organizada pelo ‘Circolo’ de Poços de Caldas”. Eis o relato:

“Em um dos vídeos Silvia [Alciati] e Silvana [Sica] dizem que vão ao Sul de Minas para encontrar a comunidade e para seguir a missão consular. Não se falou nada com os membros do Comites sobre a missão consular e nem sobre a reunião com a comunidade. Silvana diz que a Missão foi anunciada no site do Consulado. Isso aconteceu no dia 14/12/2017. A Missão aconteceu no dia 25 e 26 de janeiro de 2018.

Nenhuma informação nos foi enviada diretamente por email. Será que temos que ler todos os dias o site do Consulado para exercer nossas prerrogativas, que não [são] particulares, mas públicas? Na conta twitter, por exemplo, com a qual o Consulado tem buscado dar maior publicidade, pelo canal ser mais acessível, nada foi publicado. Ao telefone, Silvana diz que não foi convidada pelo consulado e que Silvia teria sido convidada na qualidade de CGIE. Se o Comites não foi convidado, mas sim o CGIE, eu pessoalmente vejo uma coincidência muito estranha e infeliz, considerando a candidatura de Silvia. Ora, o organismo territorial é o Comites e não o CGIE.

“Silvia não representa os ítalo-mineiros somente. Representa os ítalo-brasileiros, assim como [Cesare] Villone e [Rita] Blasioli. Villone e Blasioli foram convidados? Não teria sido mais conveniente, além de correto pela função territorial, um convite ao Comites ao invés de um convite ao CGIE?

No áudio 02, Silvana diz com todas as palavras que Silvia foi convidada pelo Consulado enquanto CGIE. Nesse mesmo áudio diz que ela e Silvia foram como candidata e apoiadora.

Em relação à reunião com a comunidade. Como se verá por uma das imagens usou-se o Comites para convocar uma reunião, no âmbito da festa, para discutir com a comunidade o “exercício do voto”. A reunião foi convidada no nome de Comites e Cgie. Dentro do contexto de um evento não oficial mas com foco na figura da Cônsul, é claro que tivemos centenas de pessoas. Se você analisar o número de eleitores em Poços de Caldas isso tem um impacto significativo? Teria culpa a Cônsul nessa “rasteira” que Silvana e Silvia aplicaram nos demais conselheiros do Comites?

Não sei mais se, como diz Silvana, ela resolveu convidar somente Silvia como CGIE, sabendo de sua candidatura, teria sido no mínimo “imprudente”. É ótimo que se faça isso, essas atividades de divulgação do exercício do direito de voto, porém em época eleitoral todos deveriam ter a mesma oportunidade.

Se houvesse sido aprovado pelo Comites, pelo menos eu não veria tantos problemas. Mas não foi sequer comunicado. Silvana alega em um dos áudios que nem ela e Silvia se apresentaram como Comites ou CGIE, e diz que um dos membros cooptatos [conselheiro indicado pelos eleitos sem a cidadania italiana reconhecida ainda – NR] do Comites, o sr. Casarotto, seria testemunha de que não houve nada de irregular. Casarotto não se manifestou no nosso grupo do Whatsapp. É um sujeito muito correto. Eu não falei com o Casarotto. Posso até tentar. Vendo Silvana sendo ‘acusada’ injustamente por mim eu duvido que ele não sairia em defesa dela.

Em outro vídeo Silvana deixa claro que está em Poços de Caldas para Missão Consular. Ora, o consulado convida as pessoas, no caso Silvana e Silvia, na qualidade de pessoas físicas ou é lógico pensar que foram convidadas na qualidade de representantes Comites e CGIE? Nesse caso por qual razão elas não compartilham com ninguém o convite? Em época eleitoral, isso fica ruim para a imagem delas e do Consulado.

Por fim em outro vídeo, durante o evento, Silvana fala de Silvia como “nossa candidata”. Não se entende, no fim das, contas se foram como Comites e CGIE. Não se entende se foram como candidata e apoiadora. Em um dos áudios Silvana dá a entender que Silvia foi convidada pela Cônsul Aurora Russi para participar. A meu ver mais uma prova de que a Cônsul convida sempre Silvia e Silvana, excluindo os demais”.

O OUTRO LADO – A redação de Insieme entrou em contato com Alciati, Cica e, também, com a cônsul Aurora Russi. Apenas a candidata Alciati respondeu explicando que esteve, sim, em Poços de Caldas e que, de fato, participou inclusive de evento sobre o “significado do voto”, citando seu próprio nome como “possível candidata”, fato, entretanto, que somente tornou-se público em 31 de janeiro, em Curitiba.  Alciati informa que sua participação deu-se na qualidade de conselheira do CGIE. Na íntegra, eis sua explicação:

“Estive em Poços de Caldas no dia 25 de Janeiro. Nesta mesma data ocorreu a Missão do Passaporte itinerante na cidade.

Na qualidade de Conselheira Geral dos Italianos no Exterior compareci na cidade para zelar pela comunidade, como faço todas as vezes em que tenho esta oportunidade.

Promovi um encontro para conscientizar as pessoas sobre o significado do voto e a importância de exercer plenamente a cidadania por meio da participação à eleição.

Na ocasião não citei meu nome como possível candidata. Todos os poucos presentes poderão testemunhar. Mesmo porque naquela data as listas não estavam fechadas. Até então eu não poderia afirmar com toda a certeza que minha candidatura seria oficializada, o que ocorreu somente na semana seguinte em Roma, enquanto o lançamento público ocorreu apenas na data de 31 de janeiro em Curitiba. Estou a disposição e espero ter esclarecido os fatos.”