O subsecretário Benedetto Della Vedova no Comitê permanente dos Italianos no Mundo da Câmara dos Deputados. (Fotograma)

Enquanto o governo italiano diz que trabalha para cumprir a lei e realizar as eleições dos Comites – Comitati degli Italiani all’Estero, já marcadas para o dia 3 de dezembro próximo, o CGIE – Consiglio Generale degli Italiani all’Estero pede ao Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional e ao Parlamento, entre outras coisas, que tais eleições só ocorram depois da aprovação de nova lei que regulamenta a atividade das duas instâncias da representação dos italianos no mundo e isso significaria, na prática, pedir o adiamento do pleito.

Essa era a posição ainda no início da noite de hoje, depois que, na tarde do dia 23, o subsecretário Benedetto Della Vedova pronunciou-se perante o Comitê para os italianos no mundo da Câmara dos Deputados, para informar que o governo está trabalhando com a data já fixada, mas que o Parlamento, em sua soberania, poderá modificar o calendário, conforme os pedidos apresentados pelo CGIE.

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Della Vedova disse também que a forma de votação seguirá o quanto já foi divulgado: somente poderão votar os eleitores que, mesmo que inscritos no Aire, solicitarem o envelope eleitoral aos consulados até a data limite de 30 de setembro. Neste sentido, todos os consulados da Itália que operam no Brasil, inclusive a Embaixada, publicaram na página de rosto de seus sites o aviso sobre como fazer o pedido do material eleitoral, que pode ocorrer digitalmente através do portal dos serviços consulados “Fast it”, por e-mail ou entrega pessoal.

Tanto governo quanto o CGIE estão preocupados que as próximas eleições repitam o baixíssimo índice de participação ocorrida nas últimas eleições, ocorridas em 2015, quando nem 4,5% dos eleitores com direito a voto em todo o mundo compareceram às urnas. Naquela época também se discutia a necessidade de alteração da legislação, a introdução do voto eletrônico, e a chamada “inversão de opção” – esta última, apontada como o grande vilão da história. Dessa vez há, ainda, o argumento da pandemia do coronavirus que em muitas parte do mundo continua a produzir elevado número de vítimas.

Segundo comunicado do próprio CGIE em seu site, “Os presidentes das Comissões permanentes de Relações Exteriores do Senado da República e da Câmara dos Deputados, Vito Petrocelli e Piero Fassino, consideraram razoável o pedido de adiamento das eleições para a renovação dos Comites tendo em vista o variado quadro pandêmico que coloca em risco o correto desenvolvimento da consulta eleitoral em algumas áreas do planeta e demonstraram-se favoráveis à oportunidade, caso o Conselho Geral se exprimisse em tal sentido, de propor em iniciativa conjunta, a ser submetida à aprovação das Comissões por eles presididas, um pedido ao Governo para que a eleição fosse adiada para a primavera de 2020”.

Noutra parte do mesmo site, lê-se sobre as divergências que a matéria continua suscitando: “Particularmente o deputado Fassino enfatizou que tal eventualidade [o adiamento] deve estar ligada unicamente ao andamento da pandemia e não – embora necessário – ao trâmite parlamentar das reformas das leis que instituem os órgãos de representação, enquanto o senador Petrocelli (que reafirmou seu convencimento sobre a necessidade de se manter a inversão de opção) sugeriu ser necessário sensibilizar preliminarmente as Comissões Constitucionais permanentes da Câmara e do Senado, competentes sobre o assunto”.

Fonte consultada por Insieme na tarde de hoje ironizou a posição do CGIE que, conforme ficou evidente em suas últimas reuniões online, não conseguiu definir uma posição clara sobre assuntos importantes que dizem respeito às próprias eleições, que deverão acontecer de forma indireta, em decorrência da eleição dos Comites. “Estão pedindo o adiamento sem ter coragem de pedir isso claramente, então ficam atrás do biombo surrado de coisas como a reforma da lei, assunto já velho e que sabem não aconteceria em tão curto espaço de tempo”.

O tema tem ocupado também alguns parlamentares eleitos no exterior. Alguns deles, como os senadores Laura Garavini (PD – Alemanha), Raffaele Fantetti (Misto, Londres) e a deputada Angela Fucsia Nissoli (FI – Eua), segundo o mesmo CGIE, manifestam “perplexidade” com a proposta de adiamento das eleições. Enquanto isso, outros entendem que está na “opção reversa” a causa fundamental da baixa participação dos eleitores, ignorando solenemente a multiplicidade de outras causas que levaram os dois órgãos ao geral descrédito perante as comunidades italianas que neles deveriam sentir-se representadas.

O curioso é que, outra vez, os parlamentares da área geográfica com o maior número de itálicos do mundo, ou seja, a América do Sul, mantém-se em completo silêncio, nada dizendo nem contra, nem a favor, nem mesmo para defender um sistema que lhes entregou cargo, honras e, mesmo que temporária, boa remuneração. É como se nem existissem. Comportamento repetido também pelos três conselheiros do Brasil no CGIE e, de resto, os próprios presidentes de quase todos os Comites atuantes na América do Sul. Como das vezes anteriores, aguardam em silêncio a prorrogação de seus próprios mandatos obtidos por delegação dos eleitores com tempo certo e já esgotado.

Em função disso, outra fonte de Insieme entende que o adiamento vai acabar acontecendo (“até porque 3 de dezembro é quase véspera de Natal, e fim de ano em áreas domo a América do Sul não é tempo oportuno para mobilizações eleitorais”), mas é, também, cético quanto às reformas da legislação que dependam do Parlamento italiano, “daqui a pouco em pleno verão e ‘ferragosto’”.