Rosalina Zorzi e Claudia Antonini: polêmica sobre a impugnação de uma chapa eleitoral no Comites do Rio Grande do Sul. (Fotogramas/Insieme)

“Se o Comites que pretende se eleger não defende o cidadão no seu direito de ter os seus documentos feitos corretamente, o que podemos esperar?”, pergunta em desabafo a advogada Claudia Antonini, ao comentar a posição da presidência do ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de Porto Alegre perante a comissão eleitoral que eliminou a chapa ‘Italia per tutti’ das eleições em curso. O veto à chapa representada por Antonini decorreu, segundo ela, de interpretações “estreitas” por parte da comissão eleitoral instalada dentro do Consulado italiano, na reunião de ante-ontem (13/10).

Fazendo um trocadilho, Antonini diz que “houve ali a derrota do Comites que fica, pois não será uma eleição e, sim, uma ocupação”. A eliminação de todo o grupo, segundo ela, foi tomada com a concordância da presidência atual da entidade, Rosalina Zorzi, insensível aos argumentos de que algumas falhas apontadas poderiam ser sanáveis e que outras estavam equivocadas. Dos quatro argumentos impeditivos apontados, um deles se referiu a apoiadores regularmente inscritos no consulado mas cuja situação eleitoral, ou não foi comprovada a tempo, ou faltou a transcrição de documentos junto aos municípios italianos –  uma tarefa que compete às autoridades italianas.

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Outro argumento impeditivo diz respeito ao domicílio eleitoral de três candidatos. “Deram mais crédito a uma informação do Facebook do que a documentos que comprovam residência estável, matrícula de filhos em escola local, multas de trânsito, impostos pagos, e à própria inscrição consular”, conta Antonini, exemplificando com o caso do advogado Fabio Vicenzi, que foi candidato a deputado nas últimas eleições ao Parlamento italiano, e que, além de Porto Alegre, onde reside, tem escritórios em São Paulo, Brasília e na própria Itália.

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Até o final da manhã de hoje, Antonini aguardava a ata da reunião para uma equipe de advogados poder tocar adiante os recursos que a chapa pretende interpor junto às instâncias competentes, na esperança de ainda reverter o quadro. Se isso não ocorrer, o Comites de Porto Alegre passará a ser o único do Brasil onde a contenda eleitoral se resumirá a uma única chapa. Dentre pessoas eliminadas da disputa eleitoral estão cidadãos italianos inscritos desde 2013 e até mesmo um ex-funcionário do próprio Consulado da Itália em Porto Alegre.

Na vídeo-entrevista que concedeu ao editor de Insieme no começo da tarde de ontem, Antonini explica em detalhes como aconteceram os fatos, desde a formação da chapa ‘Italia per tutti’, que inicialmente derivou de uma chapa maior, quando se esperava que a circunscrição de Porto Alegre pudesse contar com mais de 100 mil eleitores (e portanto poder eleger 18 delegados em vez de 12). Ela explica também por quais motivos renunciou à vice-presidência do Comites há algum tempo e revela que num determinado momento da reunião da comissão eleitoral, que contava inclusive com a participação da autoridade consular, ela foi alijada do processo decisório.

Antonini fala também em ‘conflito de interesses’ por parte da atual direção do Comites, mas assegura que, independentemente de representação formal, continuará sua atuação “quando houver ofensa aos direitos do cidadão ou da comunidade representada”, como atualmente vem ocorrendo com o ressuscitamento da tese da Grande Naturalização brasileira por parte do Governo italiano junto aos tribunais, “em cuja luta os Comites têm a obrigação de entrar”. Confira a entrevista de Claudia Antonini.

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A presidente do Comites de Porto Alegre, Rosalina Zorzi, procurada por Insieme na tarde de ontem, gravou entrevista à noite, para rebater argumentos apresentados por Antonini, sua ex-vice-presidente. Em sua versão dos fatos, Zorzi explica que foi somente aplicada a norma nos seus estritos termos: “Eles tinham 99 assinaturas, e são necessárias 100 assinaturas”, explica ela, aduzindo que perante a Comissão Eleitoral ela atuou como representante de uma associação e não como presidente do Comites.

Rosalina explica que trabalhou ‘incansavelmente” para a formação da segunda lista e  que saiu frustrada da segunda reunião da comissão eleitoral: “Racionalmente tive que dizer não; mas emocionalmente eu dizia sim”,  explica ela na tele-entrevista concedida. Ela admite que, embora tenham existido problemas com a comprovação de residência de algumas candidaturas, como a do advogado Vicenzi, o que foi levado em consideração foi a falta dessa assinatura para completar os cem apoiadores exigidos pena norma eleitoral.

Para a presidente do Comites do RS “existem cadastros demais” (referência à duplicidade de cadastros – consular, dos municípios, e do Ministério do Interior – e consequente desencontro de dados que ocorrem em todas as eleições, sempre motivo de muitas discussões), e que o cadastro que deveria prevalecer é aquele do Consulado. “Há casos em que numa lista o cidadão é falecido, mas na outra o mesmo cidadão figura como eleitor”.

“Eles não se conversam” e essa “é minha luta de sempre” afirma Rosalina Zorzi, “por qual motivo eles não fazem um cadastro único?”. Ele chegou a admitir na entrevista que nenhuma das falhas encontradas entre os apoiadores decorre de culpa dos signatários mas, sim, da administração publica italiana, ou seja, de “alguém que não fez o seu trabalho”. Fora da entrevista, Zorzi  concordou    que o fato ocorrido em Porto Alegre pode vir a contribuir para intensificar o debate sobre o “eterno problema” da multiplicidade de cadastros a que são submetidos os italianos que vivem fora da Itália.