FLORIANÓPOLIS – SC – A comunidade ítalo-catarinense aguarda com ansiedade a nomeação de novo representante consular para a região da Grande Florianópolis, desde que o vice-cônsul honorário Ezio Giannino Librizzi renunciou ao cargo por motivos pessoais, em meados de março último. Também o Sul do Estado vive o mesmo problema com o afastamento compulsório, por motivo de idade, do agente consular antes lotado em Criciúma, Sérgio Luiz Bortoluzzi, ocorrido em meados de fevereiro. As nomeações dependem basicamente de decisão do Cônsul Geral em Curitiba, Riccardo Battisti, também se aproximando do final de seu período regulamentar.
Enquanto para a área de Criciúma, com pelo menos cinco candidatos no páreo, dá-se como certa a nomeação temporária do filho de Bortoluzzi (Guilherme Bortoluzzi), em Florianópolis três candidatos até agora conhecidos se batem pela nomeação: Mauro Beal, da Câmara de Comércio Italiana de Santa Catarina e funcionário público estadual; Alvaro Preiss, do Círculo Ítalo-Brasileiro de Florianópolis e funcionário da Casan; e Attilio Colitti, do ramo hoteleiro (Hotel Martea Mare, Norte da Ilha) e genro do governador Luiz Henrique da Silveira – este último tido em muitos círculos como o favorito.
Em ambas as áreas o tema é obrigatório em todas as rodas sociais que se ocupam da italianidade. Tanto na Grande Florianóolis quanto no Sul do Estado, a falta de agência consular obriga os interessados a se dirigirem diretamente a Curitiba, em alguns casos distante mais de 700 quilômetros, enquanto multiplica-se a especulação sobre nomes que poderiam assumir as funções que são desempenhadas de forma dativa, mas que encerram também uma grande carga em termos de projeção pessoal ou, mesmo, status social.
Há, naturalmente, críticas e até confronto velado entre grupos e associações, como ocorre no Sul de Santa Catarina, onde não é poupado sequer o colegiado que compõe o Comites (Comitê dos Italianos no Exterior), por não ter sido convocado a institucionalmente intervir no debate de forma aberta em nome da representação da coletividade, a não ser pelo seu presidente Gianluca Cantoni, que o faz em termos pessoais. Em ambas as áreas circulam recicladas velhas denúncias contraditórias sobre casos de favorecimentos que setores da comunidade aproveitam para reforçar como forma de evidenciar prós e contra candidatos em disputa. Neste contexto, até mesmo o argumento financeiro é motivo para qualificar pretendentes, em contraposição à natureza das atividades burocráticas e de representação desenvolvidas: um agente consular ou um vice-cônsul honorário precisaria ser alguém – segundo advoga uma corrente – com bons recursos para custear do próprio bolso despesas que o governo italiano não reembolsa nem remunera. Levaria, assim, vantagem quem possa oferecer gratuitamente uma sede burocrática, como ocorre em Criciúma, cuja agência consular está instalada dentro do shopping de propriedade do ex-agente consular Bortoluzzi. Aliás, é este um dos motivos em que se apegam as correntes contrárias à nomeação de Guilherme Bortoluzzi, que se dizem contrárias ao funcionamento da representação consular dentro de uma propriedade particular. “Nem se trata de reivindicar o cargo para alguém que tradicionalmente tem se dedicado às questões da italianidade, o que seria natural”, conforme declarou um dos candidatos ao cargo no Sul do Estado, mas de “procurar manter pelo menos na aparência a lisura e a imparcialidade no funcionamento da representação consular dativa que não ficaria bem também nas mãos de pessoas ligadas, seja ao governo do Estado, ao Legislativo ou mesmo de alguma prefeitura municipal, naturalmente influenciáveis por razões e pressões políticas ou partidárias”.
Sem um debate ou exposição pública a respeito das funções, deveres, obrigações e inclusive encargos financeiros de um agente consular honorário – fato que ocorre em quase todas as circunscrições consulares da Itália no Brasil -, não será fácil, sob todos os aspectos, uma decisão que contemple as diversas correntes existentes no seio de uma grande e ativa comunidade italiana como a do Sul de Santa Catarina, bastante dividida desde o seu nascimento por históricos desentendimentos. Se, de um lado, o empresário Domingos Colombo pode oferecer sede gratuita, estrutura de apoio e também remuneração de secretária para ver nomeado o ex-agente consular Newton Bortolotto, de cuja capacidade ninguém duvida, de outro, como rejeitar oferta de sede e funcionário burocrático já em uso pelo lado de Bortoluzzi, ou do empresário da área contábil, Cloir Da Soller, Secretário da Fazenda de Criciuma? Candidatos como Neide De Pellegrin, sem esses predicados mas com lastro popular testado nas eleições do Comites, com certeza teriam poucas chances. De qualquer forma, como não se trata de uma atividade remunerada e nem sempre mantida com recursos do tesouro italiano (e essa é uma constante em toda a enorme rede consular italiana esparramada pelo mundo), há que se verificar o lado funcional do quebra-cabeças: quem responderá pelos cerca de 700 processos mensais gerados (mesmo sob a limitação imposta por quotas) em Florianópolis, ou coisa semelhante em Criciúma, cuja tendência é aumentar cada vez mais em função do natural aumento das demandas geradas no seio da comunidade?
Normalmente, quem paga o jantar é também quem escolhe o vinho a ser servido. E, dentro desta lógica, nenhum reparo poderia ser colocado nas naturais tendências hoje criticadas segundo as quais por detrás da surda luta pela nomeação ao cargo honorífico estariam também alguns não confessados interesses, predileções e mesmo favorecimentos no campo do atendimento individual onde a regra, até aqui vivida pelos usuários, tem sido esperar longos tempos na fila. Entretanto, do ponto de vista da representação apenas, e para a louvação do nome da Itália fora da Itália, levariam vantagem aqueles candidatos mais próximos do poder local, como Colitti, em Florianópolis, que naturalmente tem as bênçãos do hoje governador do Estado que se diz grande amigo da Velha Bota.
Se a nomeação de um agente consular honorário tem bem menor importância que a designação de um Cônsul Geral, mesmo assim, e pela notória dependência destes ao trabalho daqueles, ela representa uma etapa importante na construção permanente do nome da Itália e da italianidade mundo a fora.
OPINIÕES
Conforme entende Mauro Beal, um dos candidatos ao cargo, “a condição de termos um vice-cônsul honorário da Itália em Florianópolis pode-se dizer é “imprescindível”, em duas assertivas: A primeira é no sentido de que, sendo Florianópolis a capital do Estado cuja etnia principal é a italiana, seja pelo numero de descendentes como pelas características por elas trazidas, principalmente aquelas culturais e a econômicas, além de ser o Estado que mais desenvolveu as relações institucionais com o governo italiano e suas regiões e provincias, é de fundamental importância, pois demonstra o apreço e respeito por estas realidades e a possibilidade de contato imediato e pessoal junto as instituições catarinenses, sejam aquelas atinentes aos três poderes, como aquelas privadas de representação de classes, que tem sua sede nela, como da imprensa e sociedade como um todo”. Beal prossegue dizendo que “no segundo caso temos os serviços prestados aos italianos que cada vez mais estão vindo habitar e visitar a capital de nosso Estado, sendo ponto obrigatório de passagem, como aos descendentes que aqui vivem e passam, que tem a necessidade de uma representação italiana desse porte, que lhes preste serviços necessários ao dia a dia, como de auxiliá-los perante os entes catarinenses”. Ainda segundo Beal, no Sul do Estado. “O agente consular também é “imprescindível”, que tem uma grande comunidade ítalo-catarinense, e se encaixa perfeitamente no segundo caso”.
Já para o conselheiro do Comites Itamar Benedet, de Criciuma, “o cargo vacante do Agente Consular para a região do Sul do estado de Santa Catarina torna a situação ainda mais complicada, uma vez que as pessoas tem que se deslocar até Curitiba tendo que fazer mais de 500 km, demandando às vezes 2 ou 3 dias para conseguir o seu objetivo. ” Segundo ele “é através da falta deste oficio consular que se mensura a importância do mesmo. Penso que o Consulado de Curitiba, não está medindo esforços para nomear o novo Agente Consular”. Itamar acrescenta que “tendo em vista ser um cargo de extrema confiança e ainda de disponibilidade tanto de tempo como financeira” a nomeação “é muito dificil”.
Por sua vez, o Conselheiro do C.G.I.E. Walter Petruzziello, consultado sobre o tema, declarou que não tem preferencias pessoais, mas que a nomeação, tanto para Florianópolis como para Criciuma é importante e deve ocorrer, pois estas regiões não podem ficar descobertas. Disse, ainda, que a decisão da escolha é do Governo Italiano, através indicação pessoal do Cônsul Geral e que mesmo não tendo preferencias pessoais espera que as escolhas recaiam sobre pessoas respeitadas por toda comunidade italiana e que não representem somente parte dela, além de preencher os requisitos previstos no manual do Ministério das Relações Exteriores. Segundo Petruzziello, “as pessoas não podem pensar somente no beneficio que o cargo poderia oferecer, pois devem dispender tempo e dinheiro, já que as despesas são altas e não são totalmente custeadas pelo Governo Italiano”. Para finalizar, Petruzziello deixa claro que, “embora o Cônsul Geral possa consultar representações da Comunidade Italiana, como o Comites e C.G.I.E., isso não é obrigatório e que a decisão é única e exclusiva dele”.