u CURITIBA – PR – O Brasil, que tem a maior comunidade de ítalo-descendentes do mundo, corre sério risco de ficar sem nenhum representante no Parlamento italiano nas próximas eleições, adverte o sociólogo e vice-presidente do Comites de São Paulo, Fabio Porta, para quem a queda do governo Prodi é “uma notícia ruim” às comunidades italianas da América do Sul.

O fracasso do governo Prodi acontece num momento em que está para ser iniciada a “força-tarefa” que deverá corrigir algumas injustiças historicamente cometidas contra a comunidade ítalo-brasileira, a maior delas representada pelas enormes “filas da cidadania”. Porta observa que enquanto Argentina, Uruguai e Venezuela resolveram praticamente seus problemas de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue, os consulados italianos no Brasil foram incapazes de atender à grande demanda apresentada. Mais de 500 mil eventuais novos eleitores estão nas filas aguardando um direito que a lei lhes confere. Sem isso, naturalmente, não poderão votar.

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Nas últimas (e primeiras para os italianos no mundo) eleições parlamentares, há menos de dois anos, o empresário Edoardo Pollastri, de São Paulo, foi declarado eleito senador com poucos votos sobre uma concorrente da Argentina, que já tinha formalmente comemorado sua eleição ao lado do hoje senador Luigi Pallaro e de outros dois candidatos a deputado, entre eles Ricardo Merlo, que obteve a maior votação em toda a circunscrição exterior. Entretanto, nenhum dos candidatos brasileiros inscritos em sua chapa, apesar do grande número de votos obtidos, logrou eleição.

Porta, que é o coordenador geral no Brasil da entidade sindical Uil (União Italiana do Trabalho), e também coordena a UIM (União dos Italianos no Mundo) em toda a América do Sul, analisa, nesta entrevista, diversos aspectos decorrentes da queda do governo de Romano Prodi e declara-se candidato a candidato – porque “ninguém é candidato de si mesmo”  – às próximas eleições parlamentares que deverão ser realizadas brevemente.

 

n Como analisa o episódio da queda do governo Prodi, o primeiro que teve a participação dos italianos no mundo?

 

Para os italianos no exterior é uma notícia ruim, exatamente no momento em que – graças aos recursos do último orçamento – pensávamos de obter respostas concretas no que diz respeito aos principais interesses. Infelizmente a queda de Prodi é conseqüência de uma lei eleitoral comandada, como todos sabem, por Berlusconi, que não permitia ao governo obter uma maioria estável no Senado, como ocorria na Câmara.

 

Pergli italiani all’estero é una brutta notizia, proprio nel momento in cui – grazie alle risorse dell’ultima finanziaria – pensavamo di avere risposte concrete nelle materie di principale interesse.  Purtroppo la caduta di Prodi é conseguenza di una legge elettorale voluta come tutti sanno da Berlusconi, che non consentiva al governo di avere una maggioranza stabile al Senato similmente a quello che succedeva alla Camera.

Rei morto, rei posto. Menos de dois anos depois de assumir, caiu o governo do presidente do Conselho de Ministros  Romano Prodi, imediatamente começaram as sondagens e ensaios para a escolha de um novo comandante da política italiana. E depois da experiência da última eleição, em que foi determinante o voto dos italianos no exterior, desta vez alargam-se os espaços também para o debate em torno das questões que envolvem a “outra Itália” e seus eleitores espalhados pelos cinco continentes. Velhas bandeiras são desenterradas, como a promessa de reinstalação do Ministério para os Italianos no Mundo, do ex-ministro Mirko Tremaglia, enquanto os que deixam o governo buscam novos aliados para fortalecer conceitos que, no permanente jogo de braço entre grupos muito equilibrados que consumiu muito tempo e energia, nem sequer chegaram a ser testados. A reestruturação consular e as soluções para o problema das “filas da cidadania” que afligem as comunidades italianas da América do Sul, principalmente a do Brasil, é uma delas.

O dado objetivo é que também os italianos no exterior – pelo menos aqueles que dispõe de passaporte e estão inscritos como eleitores regulares – serão chamados ao voto para escolher outros 12 deputados e 6 senadores que compõem a Circunscrição do Exterior. Naturalmente, quem já é hoje parlamentar não deixará de concorrer. Mas terá que enfrentar, também com certeza, concorrentes dispostos a não apenas tentar dividir votos, mas também criticar a fundo a experiência vivida por aqueles que foram os primeiros parlamentares representantes da comunidade italiana esparramada pelo mundo. Ao Brasil, juntamente com todos os países da América do Sul, caberá eleger dois senadores e três deputados, como em 2006, salvo alterações substanciais no quadro eleitoral ainda não contabilizadas.


n Que repercussões isso terá na comunidade italiana do exterior e, principalmente, na América Latina e no Brasil?

 

O Brasil e a América Latina sofrerão certamente prejuízos em função da queda do governo; sobretudo o Brasil e os ítalo-brasileiros, para quem, como sabemos e já escrevemos, seria destinada a maior parte dos recursos e dos esforços do governo para a solução do problema das “filas da cidadania” e da ampliação da assistência sanitária às pessoas mais humildes.

Il Brasile e l’America Latina subiranno certamente un danno dalla caduta del governo; soprattutto il Brasile e gli italo-brasiliani, verso i quali come sappiamo e abbiamo giá scritto si sarebbero concentrati la parte maggiore delle risorse e degli sforzi del governo in relazione alla soluzione del problema ‘fila della cittadinanza’ e dell’allargamento dell’assistenza sanitaria alle persone povere e indigenti.

n Teremos novas eleições, agora já com a experiência da primeira. Que lições precisa tirar desse primeiro período em que fomos representados no Parlamento?

 

Foi a primeira vez para os representantes dos italianos no exterior, e por isso nossa análise não pode ser exessivamente severa. Sabemos que esta presença encontrou tantas resistências na Itália e isto não ajudou estes dois primeiros anos; creio que algum resultado, entretanto, obtivemos e estou certo que sem esta presença a atenção sobre nós seria ainda menor e os recursos destinados a estas políticas seriam menores e não maiores, como, ao contrário, aconteceu.

 

Era la prima volta per i rappresentanti degli italiani all’estero, e per questo il nostri giudizio non puó essere eccessivamente severo.   Sappiamo che questa presenza ha incontrato tante resistenze in Italia e che questo non ha certo favorito questi primi due anni; credo che qualche risultato peró lo abbiamo ottenuto e sono certo che senza questa presenza l’attenzione verso di noi sarbbe ancora minore e le risorse destinate a queste politiche sarebbero diminuite e non aumentate, come é invece avvenuto.


n Nas eleições passadas, inúmeras falhas foram detectadas no sistema e nas normas aplicadas na circunscrição exterior. Que precisa ser revisto?

 

São muitas as sugestões e as possíveis melhorias a serem introduzidas no voto do exterior; a maior parte das quais já tinham sido indicadas também pelo Parlamento: inscrições nas listas eleitorais para evitar endereços errados e eleitores inexistentes; apurações junto aos consulados; maior espaço de tempo para as diversas operações… Agora a pressa de votar (exatamente de Fini e Berlusconi) traria também este risco: o de não permitir tempo para realizar estas importantes alterações. 

  

Sono diversi gli accorgimenti e le possibili miglioríe da apportare al voto all’estero; la maggior parte delle quali giá erano state individuate anche dal Parlamento: iscrizione a liste elettorali per evitare indirizzi sbagliati e votanti inesistenti; scrutini presso i consolati; maggiori tempi per le varie procedure… Adesso la fretta di andare a votare (propria di Fini e Berlusconi) porterebbe anche questo rischio: quello cioé di non dare il tempo per introdurre questi importanti cambiamenti.

n O Brasil reúne a maior comunidade italiana de todo o mundo. Entretanto, tem pouco peso eleitoral. Com a morosidade no atendimento de nossas enormes filas da cidadania, esse problema ficou ainda mais acentuado. Porque os outros podem “fabricar” eleitores e nós não?

 

É o que tenho denunciado diversas vezes nestes últimos meses: ao contrário da Argentina, Uruguai e Venezuela, a rede consular  italiana no Brasil não conseguiu recuperar, nestes dois anos, um “déficit” em matéria de duplas-cidadanias. Com o orçamento de 2008 e com a proposta da “força-tarefa”, aprovada também graças a este tipo de denúncias e pressões (lembro os 22 mil abaixo-assinados organizados pelo CGIE, Comites e Associações), pensávamos de inverter esta tendência; não sei se teremos tempo suficiente para isto seja feito antes das próximas eleições.

 

E’ quanto ho denunciato piú volte in questi mesi; a differenza di Argentina, Uruguay e Venezuela, la rete consolare italiana in Brasile non é riuscita a recuperare in questi due anni un ‘deficit’ in materia di doppie-cittadinanze.   Con la finanziaria del 2008 e con la proposta di ‘task force’, approvata anche grazie a questo tipo di denunce e pressioni (ricordo ola sottoscrizione di oltre 22 mila firme voluta da Cgie, Comites e Associzioni) pensavamo di invertire questa tendenza; non so se avremo il tempo sufficiente per farlo prima delle prossime elezioni…

 
n O governo que caiu prometeu, agora no final, a tão reivindicada “task-force”, mas sem dar o peso devido ao Brasil. Entende que o que foi anunciado deve prosseguir, ou imagina a possibilidade de uma revisão do projeto?

 

Acredito que os recursos foram já disponibilizados e que tudo deva continuar mesmo depois da queda do Governo; o verdadeiro problema, como dizia, são os tempos curtos. Se a centro-direita de Fini e Berlusconi aceitar a proposta de realização das eleições somente depois de uma nova lei eleitoral (que todos os italianos querem) e, portanto, num maior tempo que aquele anunciado, talvez teremos alguma chance de obter resultados ainda este ano. Caso contrário, quanto antes votarmos menores serão as chances da realização da “força-tarefa” Uma pena, e também disto Berlusconi e seus amigos deverão prestar conta aos italianos no exterior.

 

Credo che le risorse sono state giá stanziate e che tutto debba continuare anche con la caduta del Governo; il vero problema, come dicevo, sono i tempi corti.  Se il centro-destra di Fini e Berlusconi accetterá la proposta di realizzare le elezioni solo dopo una nuova legge elettorale (che tutti gli italiani vogliono) e quindi in tempi un pó piú lunghi che non quelli annunciati forse avremo qualche chance di ottenere ancora quest’anno dei risultati.   In caso contrario, quanto prima si voterá e quanto minori saranno le possibilitá di realizzazione della task force.  Un  vero peccato, e anche di questo Berlusconi e compagni dovranno rendere conto agli elettori italiani all’estero. 

n É candidato, a que e com quais propostas em linhas gerais?

 

Não acredito em candidaturas por conta própria. Faço parte de um grupo político e sei que estas decisões devem ser tomadas democraticamente e não por vontade pessoal. Claro, me agradaria repetir uma experiência que julgo positiva, em continuidade a um compromisso de trabalho em favor da maior comunidade italiana e de seus descendentes em todo o mundo, para o nosso bem, mas antes pelo bem da Itália que – como tenho escrito repetidamente – deveria olhar com outros olhos à sua grande comunidade no exterior, exatamente para a solução da profunda crise em que está mergulhada.

 

Non credo alle candidature “fai da te”; faccio parte di un gruppo politico e so che queste decisioni vanno prese democraticamente e non a titolo personale.   Certo, mi piacerebbe ripetere un’esperienza che ho giá ritenuto positiva, continuando un impegno a servizio della piú grande comunitá di italiani e di loro discedenti al mondo, per il bene nostro ma in primo luogo dell’Italia che – come ho scritto recentemente – dovrebbe guardare con altri occhi alla sua grande collettivitá all’estero proprio per rispondere alla profonda crisi che la attraversa.

n Defende a vinculação partidária dos candidatos, ou imagina que uma proposta “alla Pallaro” fortaleceria a representação brasileira e sul-americana?

 

Estou muito preocupado porque sei que nas próximas eleições o risco de o Brasil ficar sem representante no Parlamento é muito grande.  Neste sentido, propostas “alla Pallaro”, como se diz, seriam deletérias e não nos levariam a parte alguma. O Brasil tem menos da metade dos eleitores da Argentina e – ao contrário de Pallaro – não dispomos de milhões de euros para uma campanha eleitoral. As últimas eleições demonstraram que dentro das chapas da centro-esquerda os candidatos ítalo-brasileiros tinham reais possibilidades de eleição, enquanto em outras áreas (nossos candidatos) apenas ajudaram a outros candidatos que acabaram se elegendo… Em todo caso, a política italiana é fortemente enraizada em forças políticas e para ter um peso nas decisões que nos dizem respeito creio que seja importante estar ligado a uma das grandes correntes que atuam no Parlamento.

 

Sono molto preoccupato perché so che alle prossime elezioni é grande il rischio per il Brasile di non avere un rappresentante in Parlamento.  In questo senso le proposte “alla Pallaro”, come dice lei, sarebbero deleterie e non porterebbero ad alcun risultato.   Il Brasile ha meno della metá degli elettori dell’Argentina e – a differenza di Pallaro – non disponiamo di milioni di euro per una campagna elettorale.   Le ultime elezioni hanno dimostrato che dentro le liste del centro-sinistra i candidati italo-brasiliani avevano concrete possibilitá di elezione mentre altrove hanno soltanto ‘portato acqua’ ad altri candidati risultati poi eletti… In ogni caso la politica italiana é fortemente radicata intorno alle forze politiche e per avere un peso nelle decisioni che ci riguardano credo importante essere legati ad uno dei grandi schieramenti presenti in Parlamento.