Falando sobre associativismo, iniciativas no mundo cultural, universitário e na área empresarial, com uma abertura para as jovens gerações, o advogado tributarista Andrey José Taffner Fraga, de Rio dos Cedros-SC, explicou durante telentrevista concedida à revista Insieme, os objetivos de sua candidatura à função de Consultor da Província Autônoma de Trento.

Taffner sonha com um contato mais estreito entre as universidades do Brasil e a Universidade de Trento, que é “de ponta e com muitas linhas de atuação e de pesquisa”. “Então esse é um campo que eu gostaria de atuar com bastante força” diz o entrevistado, baseado em sua experiência exatamente neste setor.

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Ainda nesta primeira quinzena de maio as autoridades do governo da PAT – Província Autônoma do Trento deverão divulgar os novos consultores em todas os países em que há presença de trentinos ou descendentes de emigrantes trentinos. No Brasil, serão três: um para os Estados do Paraná e Santa Catarina, outro para o Estado do Rio Grande do Sul, e um terceiro para os demais Estados Brasileiros.

É na jurisdição consular de Curitiba que vive o maior número de “trentinos fora do Trento” de todo o mundo e Taffner é um dos dois candidatos que concorrem à função de consultor nessa área. Coincidentemente ambos são naturais do município de Rio dos Cedros (o outro é Oscar Lenzi, já entrevistado), município definido pelo candidato em recente livro que lançou como “o coração trentino do Brasil”. Confirma a entrevista de Taffner.

O que é ser consultor da Província Autônoma de Trento e por que você se candidatou esta função?

O consultor da Província de Trento é uma função prevista numa lei provincial específica (a Lei 12 de 2.000) que prevê várias iniciativas da Província de Trento em benefício da comunidade trentina no exterior dentro. Dessas previsões tem o cargo do consultor, que é alguém escolhido, alguém que tenha sido desenvolvido alguma vivência em uma atividade em meio ao associativismo, aos órgãos de representação, em meio a algum lugar de trabalho da indústria, da cultura e tudo o mais. Então uma pessoa que tenha sido essa vivência ela se candidata e pode ser escolhida para consultor e é alguém que vai basicamente fazer a ligação, fazer o contato entre a comunidade trentina da sua própria região e a Província de Trento, com o ‘ufficio immigrazione’ mas não só, com todos os demais órgãos que compõem o governo do Trento. O consultor precisa então manter essa interlocução. Essa é a principal função. Ele também vai avaliar projetos, vai trabalhar em conjunto para a implementação de projectos e aprimoramento de outros que já estão em andamento, e vai também periodicamente fazer relatórios, participar de reuniões para situar o governo de Trento em relação à sua área de atuação.

Então o consultor se difere, por exemplo, de outros cargos, como coordenadores de círculos e de outras associações, porque ele vai ter contato direto com os órgãos do governo de Trento

Minha principal motivação para apresentar candidatura para este cargo é a minha vivência, os meus muitos anos de experiência em meio ao associativismo e o voluntariado trentino aqui na minha região. Eu participo das associações, principalmente do Círculo Trentino de Rio dos Cetros, mas não só. E essa vivência das experiências em meio às associações me permite ter essa rede de contatos e isso me possibilita fazer bem o trabalho de consultoria. Então isso me motiva a apresentar a minha candidatura.

Você poderia dizer teus planos, como você pretende trabalhar caso seja indicado para a vaga?

O primeiro ponto já mencionei, o do associativismo trentino. A gente tem que ter em mente que Santa Catarina e Paraná são Estados marcados muito mais pela imigração histórica. Ou seja, tem muitos descendentes de imigrantes trentinos. E essas pessoas elas sentem um vínculo muito forte com as tradições, com aquilo que elas trouxeram das suas famílias, das suas comunidades, que vai desde as manifestações culturais do cotidiano até o dialeto e tudo o mais. Então eu acho muito importante, muito relevante na função de consultor, continuar mantendo esse intercâmbio entre essas associações, esses comunidade trentina organizada e os órgãos do governo de Trento. 

Mas é claro que a função do consultor não pára ali. Ela precisa ir muito além, e está aberta a todas as áreas de atuação possíveis na região. Então, por exemplo, na parte de Educação de universidades. Eu frequentei e me graduei na Universidade Regional de Blumenau, fiz pós graduação na Univali, e atualmente faço mestrado na UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. Todas essas universidades têm uma presença muito grande de descendentes trentinos tanto no corpo de acadêmicos quanto no corpo de professores e administradores. A Furb, aqui de Blumenau, e a Univali já realizaram intercâmbios fantásticos com uma Universidade de Trento. Eu acho que tem um campo de atuação muito bom nessas universidades e também na UFSC de aprimorar ainda mais, de fazer um contato muito maior entre pesquisadores. Como eu já tenho contato com as Universidades daqui, já sei quais são os interesses, dá para fazer uma ponte muito bacana com aquilo que a Universidade de Trento desenvolve, que é uma universidade de ponta, com muitas linhas de atuação e de pesquisa. Então esse é um campo que eu gostaria de atuar com bastante força, porque já estaria tudo à mão para fazer acontecer.

Na parte, vamos chamar assim, do mundo Empresarial, a minha vida inteira de atuação profissional foi como advogado no ramo empresarial e tributário. Isso me permitiu um leque de contatos muito grande no meio empresarial e também me fez perceber que o nosso meio Empresarial de Santa Catarina e Paraná tem uma presença trentina marcante na diretoria, nos cargos de direção e tudo o mas. Esse pessoal precisa manter contato também com a Província de Trento. Às vezes eles não enxergam a Província Autônoma de Trento como uma uma possível parceria nesse campo de atuação.

Há já alguns anos vem sendo comentada a possibilidade de se criar uma grande plataforma para a Província de Trento congregar toda a comunidade presente no exterior. Eu acho que daria para ter uma atuação muito boa para congregar esse pessoal, os vários profissionais de diversas áreas do empresariado, para esse meio de integração, para eles conhecerem tantas possibilidades em Trento, mas também no Brasil, porque tem muitos empresários de origem trentina espalhados pelo Brasil que nem sabem todas as possibilidades que eles teriam de intercâmbio, de conversa e progresso em comum. Então acho que isso seria também um fator muito interessante de atuação. 

Na parte – eu vou chamar – de administração pública. Eu acompanhei em Rio dos Cedros o projeto de ‘gemellaggio’ entre Rio dos Cedros e de Albiano e foi um projeto que até hoje só traz grandes frutos para as duas cidades. Agentes públicos que se especializaram lá e tá… são ideias relativamente simples de ser aplicadas e podem trazer benefícios muito grandes para as prefeituras. Então a gente poderia, mapeando aqui as cidades, ver quais são os melhores locais de origem desses descendentes, buscar o ‘gemellaggio’ com aquela cidade para que esse projeto que eu eu vivenciei e acompanhei, participei e que deu muito certo aqui, ele possa ser replicado em outras cidades.

Na parte de juventude trentina, a gente acompanha, eu participo de grupo jovens trentinos aqui no Brasil desde que eu comecei atuar junto aos círculos trentinos. Até em 2019 tive oportunidade de participar do grande congresso da Juventude italiana que foi realizado em Palermo… e a gente vê que tem uma integração muito grande. Os jovens são muito abertos para todos os tipos de ferramentas modernas existem para integração e para manter o contato no intercâmbio. Então, esse para mim também é um campo de atuação importantíssimo. A juventude trentina tem muito interesse em conhecer as possibilidades de intercâmbio com a Província, de bolsas de estudo, de manter contato com descendente trentinos que moram em outros países, que abrem portas nas mais variadas áreas. Então acho que também esse campo precisa da atuação do consultor, porque é uma área muito grande para ser explorada. 

E ainda na parte cultural: a gente vivenciou em Rio dos Cedros e em outras regiões e cidades de colonização trentina em nossa região, intercâmbio muito frutuosos entre grupos folclóricos. Com a vinda de grupos de corais para cá que realizam pequenas turnês e apresentações em cidades, e de corais que realizam pequenas turnês, depois, na Itália. Pretendo manter essa conta aberta, até porque a gente já tem contatos um grupo só códigos muito interessante da Província de Trento que já estavam manifestando interesse de vir para cá antes do início da pandemia e que provavelmente continuarão tendo interesse assim que for possível realizar essas atividades. Então também ali, para manter os grupos folclóricos em contato, é uma área em que eu pretendo atuar.

Acho que já acabei falando bastante coisa, mas são vários campos, várias áreas que eu visualizo, vislumbro atuação do consultor.

Você acaba de lançar um livro que coloca o Rio dos Cedros como o centro da trentinidade no Brasil. Coincidentemente, os dois candidatos para a região da circunscrição Consular do Paraná e Santa Catarina, são de Rio dos Cedros. O que você diz disso?

É muito interessante. O livro tem o subtítulo de “o coração trentino do Brasil” e justifico esse subtítulo dizendo justamente que em Rio dos Cedros a gente encontra sobrenomes e manifestações culturais que representam quase que a totalidade da Província de Trento. E é interessante e sintomático que os dois candidatos aqui da circunscrição Santa Catarina e Paraná sejam riocedrenses. Parece que confirma a nossa a nossa ideia de que Rio dos Cedros resume, de certa forma, a colonização trentina na nossa região.

Essa função é dativa, isto é, não têm remuneração. No entanto, Você precisará dedicar algum tempo para poder desenvolver suas ideias. Como é que você fará? 

Na função de consultor eu acho que o principal em termos de reuniões e de encontros, vai ocorrer aqui mesmo na circunscrição. Visitas às comunidades, visitas aos círculos, às associações, às Famílias Trentinas… Então acho que a principal disponibilidade é essa. Tem que ter um contato muito próximo com a comunidade trentina representada aqui em Santa Catarina e Paraná. Ter tempo, ter disponibilidade para esse tipo de atividade, é um pouco o resumo da minha vida. Eu já, há muitos anos, dedico grande parte do meu tempo a isso e sempre foi uma satisfação e continuará sendo, com certeza. A função de consultor não é remunerada. É previsto em lei algum reembolso para desenvolver as atividades, mas remuneração, não. É uma atividade do voluntariado mesmo.

Tafner, palavra está livre para suas considerações finais.

Agradeço. Aproveito, então essa palavra final para desejar forças para nossas associações, para a comunidade trentina organizada, círculos e suas famílias trentinas, grupos italianos, enfim, toda a comunidade presente. “Forza e coraggio”. É um momento muito complicado que a gente está vivendo, constantemente com as nossas atividades suspensas, eventos planejados que foram cancelados… Então é um momento difícil, muita gente sente um desânimo grande, uma preocupação em saber se as atividades vão ser retomados ou não… então a minha palavra seria assim dê força e coragem, que superando essa fase da pandemia as nossas associações que já têm muitos anos, muita estrada, a gente vai conseguir retomar, a gente vai ver essas atividades sendo colocados em prática novamente. 

Eu agradeço o espaço concedido pela revista Insieme para expor um pouquinho das ideias que a gente tem para o cargo consultor da Província de Trento.