O embaixador Raffaele Trombetta recebe a medalha "Oficial Garibaldino".(Foto Desiderio Peron / Insieme)

De homenagens a protestos, aconteceu um pouco de tudo na segunda visita oficial a Curitiba-PR do embaixador da Itália no Brasil, Raffaele Trombetta, nesta segunda-feira (07/03) que passou. O diplomata reuniu-se no Consulado Geral, esteve com o governador do Estado, em cuja sede participou da inauguração de mostra do artista italiano Giorgio Galli, entrevistou-se com o prefeito da cidade e passou boa parte da manhã com lideranças empresariais e representantes de associações italianas e suas entidades de representação.

Na sede da Sociedade “Giuseppe Garibaldi”, onde aconteceu o encontro com representantes da comunidade ítalo-brasileira do Paraná e Santa Catarina, o embaixador disse que os problemas temporários que atualmente o Brasil enfrenta não representam percalços nas parcerias e projetos comuns entre a Itália e o Brasil porque tudo está previsto para desenvolvimento a longo prazo. No tradicional “Palazzo Garibaldi”, o Embaixador foi homenageado com a entrega da medalha “Oficial Garibaldino” por parte da diretoria da entidade, presidida pelo também presidente do Comites – Comitato degli Italiani all’Estero para o Paraná e Santa Catarina, Walter Petruzzielo.

PATROCINANDO SUA LEITURA

Duas surpresas quebraram a agenda prevista para o encontro, que iniciou com café da manhã para cerca de 200 pessoas: a diretoria do Círculo Trentino de Curitiba quis entregar ao Embaixador um documento em que pede mais agilidade na apreciação dos processos de reconhecimento da cidadania italiana – maior parte entregue às autoridades italianas há cerca de dez anos; enquanto o conselheiro do Comites Elton Diego Stolf, já reunião encerrada oficialmente, insurgiu no plenário protestando contra as “filas da cidadania” portando um nariz de palhaço vermelho. Sem perder a calma, o embaixador Trombetta explicou (veja-se o vídeo) que não desconhece o problema, mas o pessoal que opera os consulados italianos no Brasil está dando o máximo que pode com o que tem de recursos.

 

A visita do Embaixador, na verdade, começou já no domingo, quando a vice-governadora do Estado e conselheira do Comites ofereceu um jantar ao diplomata, do qual participou número restrito de convidados. Pela manhã do dia seguinte, Trombetta esteve na sede do Consulado, onde reuniu-se com o cônsul Enrico Mora e funcionários, e, depois, com o prefeito Gustavo Fruet, na sede da Prefeitura Municipal de Curitiba. Com Fruet, Trombetta conversão sobre situação econômica e política no Brasil e na Itália, a questão dos migrantes e refugiados – uma novidade para Curitiba, porém uma realidade enfrentada há tempos pela comunidade europeia – segundo divulgou a assessoria do Prefeito. Mas eles conversaram principalmente sobre infraestrutura de cidades, incluindo o setor de mobilidade urbana, em cujo contexto foi abordada a intenção da atual administração na implantação do metrô e a possibilidade de futuros investimentos de empresas italianas no município.

No começo da tarde, o Embaixador, acompanhado do cônsul Enrico Mora e respectivas esposas, esteve no Palácio Iguaçu, para a inauguração da mostra “A prática da arte – futuro possível”, do artista italiano Giorgio Galli, também presente. Segundo divulgou a assessoria do governador,  “A exposição, instalada no hall de entrada do Iguaçu, é o marco inicial da Cooperação Cultural entre o Governo do Paraná, o Consulado-Geral da Itália em Curitiba e o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, que busca estreitar os laços culturais entre o Paraná e a Itália”.

Segundo também divulgou o governo do Paraná, “o protocolo de intenções para a cooperação foi assinado pouco antes da abertura da mostra. Com o acordo, espaços culturais de Curitiba e de outras cidades paranaenses irão receber uma série de trabalhos de artistas italianos”.

TRENTINOS – No documento entregue a Raffaele Trombetta (cópia do qual será enviada também para o presidente da Província Autônoma de Trento, entre outras autoridades italianas) pela diretoria do Círculo Trentino de Curitiba, os signatários tecem considerações sobre a “situação dos processos de cidadania italiana regidos pela Lei 379/2000”, que submete os interessados – segundo dizem – a “situação humilhante” :

“Os Circolos Trentinos espalhados pelo Brasil – ao todo 64 – trabalharam com afinco nos processos de cidadania da citada Lei 379/2000 estendendo aos descendentes pertencentes ao Império Austro-húngaro (com o consentimento desta embaixada e do ministério em questão), em reuniões com ambos e o consulado Italiano desta circunscrição desde o ano de 2002. Na ocasião ficaram demonstradas as dificuldades enfrentadas pelos consulados italianos no Brasil com filas de 30 a 50 mil solicitações. Naquela oportunidade colocamo-nos à disposição para a execução dos trabalhos de recolhimento das assinaturas e processamento de toda a documentação necessária, tendo executado na totalidade mais de 30 mil processos em todo o Brasil, os quais foram devidamente encaminhados a Roma”.

“Passados 16 anos – diz o documento que é assinado pela presidente Silvana Maines Gomes -, o retorno para inserção na “anagrafe” (registro – nr) consular, último dos passos burocráticos, acontece em passos lentos, tendo retornado menos de  um terço do total, em nossa circunscrição PR/SC. Enviamos 17 mil no total e o retorno não chega a 5 mil; porem o mais agravante hoje é que enfrentamos outro represamento de mais 3 anos por falta de funcionários para execução dos trabalhos finais junto ao consulado em Curitiba”.

“Frente ao descaso e burocracia das autoridades Romanas – continua o documento -, enfrentamos problemas de descrédito junto a toda a comunidade, tendo que diariamente responder a solicitações e respostas frente aos associados que compreensivelmente não compreendem nem aceitam atrasos de tal magnitude. Pensemos, Senhores, reflitamos: estamos falando de pessoas. Cidadãos protegidos em Lei e que têm o direito inalienável de vê-los (seus direitos) respeitados. Não é concebível – eu diria que beira o vergonhoso –  obrigá-los a ver suas vidas passarem, seus sonhos se esvaecerem por conta da inépcia, quiçá descaso. A Lei prevê prazos para a conclusão de processos e que sabemos estão sendo extrapolados”.

O documento ressalta o “relacionamento caloroso, respeitoso e pleno de boa vontade” que existe entre o Círculo e o Consulado Geral da Itália em Curitiba, “o qual não poupa esforços para bem atender aos interesses dos mais de 5.000 associados” da entidade. “No entanto – diz ainda o documento entregue a Trombetta -, cabe observar que o Setor (consular – nr) para conclusão dos processos conta com apenas uma pessoa! A qual, no presente momento, encontra-se em licença-maternidade. O setor ficará, portanto, descoberto durante seis meses, o que – por maior que seja o empenho, é inadmissível! “

No final, o documento pede ao Embaixador e “demais autoridades” “olhar atento à causa e humilhação pelo qual passamos como entidade associativa”; “avaliar a situação” apresentada; “envidar esforços no sentido de sanar as brechas que impedem o bom desenvolvimento dos trabalhos; encerrar finalmente este capítulo de descaso com a aplicação da Lei 379/2000 junto a quem de direito bem como proteger a imagem das instituições que representam o governo italiano fora da Itália”.

Sobre o episódio envolvendo o conselheiro do Comites Elton Stolf, na condição de presidente da Sociedade Garibaldi, Walter Petruzziello (ele é também presidente do Comites PR/SC) divulgou a seguinte “nota de esclarecimento”, no final da tarde de hoje: “

Em relação à publicação do Sr. Elton Stolf, gostaria de esclarecer o seguinte:
1- a visita do senhor embaixador ao Estado do Paraná, tinha caráter oficial  e com encontros institucionais.  Como presidente da Soc. Garibaldi e, aproveitando um espaço na agenda, propusemos um “café da manhã”, com empresários, autoridades e membros da comunidade italiana, incluindo os Conselheiros do Comites. Fiz centenas de convites, inclusive para Associações, Presidentes Comites de outra circunscrições e conselheiros CGIE.
2- Embora solicitado, não consegui organizar um encontro privado entre o Comites e o Embaixador.
3-O Círculo Trentino me solicitou, com educação, de ver a possibilidade de entregar uma carta ao Sr. Embaixador. Julguei que não poderia deixar de atender esse pedido e, perante todos os convidados,  anunciei em alto e bom tom que o Presidente do CT faria, naquele momento, a entrega de uma carta ao Sr. Embaixador. Tornando assim a coisa pública. A carta foi entregue com extremo respeito.  Naquele momento não concedi a palavra ao Presidente do CT por entender que se tratava de uma solenidade e que não gostaria de conceder a palavras a alguns e não a outros. O Presidente do CT em telefonema posterior manifestou seu agradecimento por ter permitido a entrega da carta em maneira pública e que entendia meu comportamento.
4-Ressalve-se que, até então, o Sr. Elton não se encontrava presente, tendo chegado quando a solenidade estava por se encerrar.
5- Em nenhum momento do evento, o Sr. Elton me solicitou a palavra, tendo se manifestado aos gritos somente quando encerrei a solenidade, ao se aproximar da mesa já com o “nariz de palhaço” em mãos. As pessoas que compunham a mesa já estavam em pé e retirando-se do local.
6- Na minha condição de Presidente da Sociedade Garibaldi  e anfitrião, me julguei no dever de não aceitar esse tipo de comportamento e, de fato, não lhe retirei a palavra pois não a havia concedido.
7- Sou absolutamente contra as filas e muito tenho feito para que algo de bom aconteça em favor das pessoas que nela estão. Reconheço minha limitação, pois nada de bom acontece em favor deles. Apesar disso não me utilizo de meios midiáticos com outros objetivos, e quando utilizei a revista o fiz como fonte de informação para chamar a atenção para o problema, que de fato existe, mas que apesar disso continua como antes.
8- O sr. Elton se orgulha do fato de ter recebido os parabéns de um deputado e de um senador, mas se esqueceu de perguntar à eles o que fizeram nesses três anos para modificar o “status quo”.
9- Esclareço ao Sr. Elton, que não sou “aspirante” ao Senado, mas o primeiro suplente e se tivesse a honra de assumir usaria o cargo para lutar contra essa situação. Os “enfileirados” teriam um
aliado e o TAR muito trabalho.
10- e para encerrar esclareço que nada tenho contra as legítimas manifestações pessoais de quem quer que seja , mas entendo que ela deva se dar dentro do contexto e na sede apropriada.
Se você é convidado para jantar em minha casa , deve respeitar os demais convidados.
Walter A. Petruzziello
Presidente da Soc. Garibaldi.
A nlota de Petruzziello foi em resposta ao que o conselheiro Elton Stolf havia postado nas redes sociais pouco antes, sob o título “Eu, o palhaço?”:
Prezados ítalo-brasileiros (com e sem cidadania italiana reconhecida),
Ontem de manhã (07/03) ocorreu um encontro com o Embaixador da Itália no Brasil, na sociedade Garibaldi, em Curitiba/PR.
No começo do encontro foi entregue pela diretoria do Circolo Trentino di Curitiba uma carta de protesto ao Embaixador, pela situação humilhante e pelo descaso com que são tratados pelo longo tempo de espera até a conclusão final do processo de reconhecimento da nacionalidade italiana. No entanto, não foi dada a palavra à presidente ou diretores da entidade para explicar o conteúdo da carta, e em gesto silencioso, sem aplausos, o documento de protesto foi entregue ao Embaixador.
Logo após, louvores foram ditos ao ilustre visitante e, em seguida, apresentado vídeo institucional da Sociedade Giuseppe Garibaldi, que rendeu louvores também ao trabalho dos antepassados que aqui construíram uma entidade em prol aos emigrantes e seus descendentes, casa aberta a todos os italianos e à humanidade. Nada mais do que justo!
Ao final, depois da apresentação do vídeo, eu pedi a palavra ao sr. presidente da mesa.
Em alto e bom tom falei que de fato temos que render glórias aos nossos antepassados, mas que necessário se faz olhar para os mais de 500 mil descendentes daqueles antepassados que atualmente padecem na fila de espera da cidadania italiana há mais de 10 ou 15 anos, que o governo italiano trata esses italianos como palhaços, pois essa fila nada mais é do que uma vergonha, uma verdadeira palhaçada.
Em tom de protesto, me identifiquei como representante eleito como conselheiro no comitê dos italianos residentes no PR e SC (comites) e que naquele momento eu estava representando legitimamente a comunidade ítalo-brasileira daqui, com e sem cidadania italiana.
Detalhe, eu estava vestido com um nariz de palhaço!!!
Em seguida, lembrei do movimento que iniciei em novembro de 2012 “Enfileirados mostram a face e se perguntam: “Nós, os palhaços?”, pelo qual convidei pessoas comuns que estavam na fila de espera para protestarem contra o sistema de agendamentos para o reconhecimento da nacionalidade italiana. http://www.insieme.com.br/cittadina…
Sim, fui OUSADO, tive CORAGEM e fui o único conselheiro do Comites a defender quem é italiano desde o nascimento e infelizmente deve aguardar por longos anos o reconhecimento ius sanguinis da nacionalidade italiana.
O presidente da mesa Walter Petruzziello, atual aspirante ao senado italiano, falou no microfone (e abafou o meu protesto) que o palhaço era eu, que eu não deveria fazer aquilo. Mas gostaria de lembrar que foi o próprio que se aproveitou a oportunidade e distribuiu a revista de 2012 com o nariz de palhaço em janeiro 2013 na reunião do CGIE em Roma:
Detalhe, TODOS que ali estavam já tem a nacionalidade italiana reconhecida. Quem se importa pelas filas, né?
Fui palhaço? Então vou continuar sendo enquanto existir fila de espera de cidadania italiana, para defender o direito de quem está na fila e deve ser simplesmente RESPEITADO. Aliás, não esqueço dos meus atos passados, nem para agradar ilustres visitantes.
Temos que defender nossos direitos e se ninguém for ousado e corajoso o bastante pra gritar por direitos e deveres no meio dos passivos, seremos eternos marionetes.
Quem sabe num próximo encontro com o Embaixador estaremos com mais representantes desse manifesto, pois eu não sou palhaço e acho que quem está na fila também não é.
E você, de que lado está? Vestiria o nariz vermelho comigo?
Abraços,
Elton Diego Stolf, em defesa de quem não deve esperar mais de 10 anos pra ter um DIREITO reconhecido. Em defesa por RESPEITO! Obs: convido você a compartilhar esse post, se estiver na fila ou achar justo o manifesto!