Cultura italiana lamenta a perda do Professor Cicuto

CURITIBA – PR – Morreu terça-feira, e foi cremado na manhã desta quarta (22.08.2012) Antônio Luiz Cicuto Mateus D’Ambrosio, o Professor Cicuto, diretor e fundador do Instituto D’Ambrosio – Língua e Cultura Italiana, de Curitiba-PR. Ele desaparece aos 63 anos de idade. O fato foi comunicado nesta terça pelo consulado geral da Itália em nota em que “o cônsul geral Salvatore di Venezia comunica, com grande pesar, o falecimento do prof. A. Cicuto D’Ambrosio”, diretor e fundador de “um dos principais centros de ensino de qualidade da língua italiana e difusão da cultura italiana”.

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O Professor Cicuto foi um incansável batalhador pela difusão da língua italiana e, bastante combativo, teve destacada atuação nos movimentos relacionados ao aparecimento de subsídios oficiais para o ensino da língua italiana, no início da década de 90. Chegou a participar das primeiras eleições para o Comites – Comitê dos Italianos no Exterior e foi apoiador de primeira hora, tendo sido colaborador e anunciante, da Revista Insieme.

O Instituto D’Ambrosio foi por ele fundado em 1985 com o objetivo de ensinar a língua e difundir a cultura italiana. Desde o início – conforme se lê no site da instituição – os trabalhos sempre foram centralizados no binômio competência – excelência, o que levou dirigentes e professores a desenvolver ações didático-pedagógicas e culturais de qualidade. Sediado em Curitiba, o Instituto D’Ambrosio ocupa hoje posição de destaque entre os principais centros de ensino da língua italiana no Brasil.
O site da entidade completa: “Amplamente reconhecido pela seriedade e eficiência de suas ações, o Instituto é sede, desde 1999, do prestigioso exame oficial CILS (Certificazione di Italiano come Lingua Straniera) da Università per Stranieri di Siena. A sede do Instituto, muito bem localizada no bairro Champagnat, é equipada com os melhores recursos de aprendizado. Venha nos conhecer mais de perto na Rua Bruno Filgueira, 1481, quase esquina com a Saldanha Marinho”.

O professor Cicuto formou-se engenheiro pela Universidade Federal mas foi no magistério que realizou seu projeto de vida. Em seu blog na Internet, mantido desde 2008, estão algumas confissões em forma de “desabafo”, onde critica o atual sistema de ensino, exprime suas preferências políticas, expõe sua visão crítica sobre a reforma ortográfica da língua portuguesa (“Por aqui, já modificaram muito a língua (…) nós fomos, nós falamos, etc, já dançou faz tempo. Agora é ‘fomo’, ‘falamo’, etc”). Numa sua postagem de outubro de 2008, Cicuto sentenciava: “Está tudo errado no ensino médio”. No “Desabafo-2” ele fala um pouco de sua carreira:

“Eu fiz vestibular de Engenharia em 1.968 na Universidade Federal do Paraná. O vestibular valia para as modalidades “civil”, “mecânica” e “elétrica”, pois só a partir do 3º ano fazia-se a escolha. Fui aprovado entre os melhores, afinal eu era ótimo aluno principalmente de Matemática e Física.
Porém, ensinar sempre me fascinou. Depois do prazer maior que é aprender, vem aquele de ensinar!
Mas quanto ganhava um professor? Muito pouco para quem, como eu, que pretendia casar, constituir família, educar os filhos e, consequentemente, ter uma vida digna como qualquer cidadão honrado conseguiria fazê-lo.
Contudo fui bafejado pela sorte! Os chamados “cursinhos pré vestibulares” pagavam bem e pude trabalhar em três dessas grandes organizações. Consegui casar, constituir família, educar minhas filhas, ser reconhecido por muitos e rejeitado por poucos. Mas o que é mais importante: eu lecionei e ainda leciono, isto é, faço o que gosto e sou recompensado – mais antigamente que atualmente – do ponto de vista econômico e muitíssimo bem recompensado do ponto de vista de realização. Sou, e me orgulho disso, um educador!
Uma vez um médico me disse que Medicina e Magistério não são profissões e sim sacerdócios. Concordo com ele e digo que há ainda outras formas de sacerdócio: enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e todos aqueles que se dedicam ao serviço voluntariado são até mais que sacerdotes!
Só que nem todos têm esta vocação! Há os que querem ter um outro tipo de vida, como a que eu tive e tenho, onde o fator econômico é importante. E isto não é nenhum crime! E isto não significa que eu me abstenha de fazer o bem por não ser sacerdote!
Da mesma forma que eu troquei a Engenharia pelo Magistério, houve outros, inclusive médicos que optaram por ensinar Biologia em cursinho. E foram ótimos profissionais pois conheciam muito bem a matéria e eram bem pagos para bem executarem os seus serviços. Creio que não haja nenhum mistério nisso tudo!
O que causa espanto é a cara do surpreso jornalista que anuncia: “Apenas 9% dos professores de Física são formados em Física!”
Por que, então, não vai ele e principalmente e realizador da pesquisa, ensinar física numa escola que só tem “tocos” de giz (nenhum equipamento para ilustrar a aula) recebendo a extraordinária cifra de R$4,00 pela aula ministrada?
É mais rentável fazer uma dúzia de filhos, receber bolsa família de todos, uma cesta básica da igreja, outra da prefeitura e mais alguma coisa dessas ONGs que populam neste país, vale gás, vale transporte, redução da tarifa elétrica e, quem sabe, mais adiante, virar pedagogo de plantão e encomendar estatisticas sobre o baixo desempenho de nossos estudantes…”