Daniel Taddone: “A era analógica de representação e de comunidade italiana acabou”. Novos atores estão na arena das redes sociais

Depois de ter liderado o primeiro movimento de protesto contra as “filas da cidadania” diante do consulado geral da Itália em São Paulo, ocorrido em 12 de outubro último, o sociólogo Daniel Taddone retomou sua atividade preferida: dar palestras sobre o sempre atual tema da cidadania italiana por direito de sangue. Dessa vez, entretanto, o presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Recife tem um objetivo claro: desenvolver as bases para uma provável candidatura ao Parlamento Italiano nas próximas eleições, já marcadas para o início de março do ano que vem.

Neste primeiro vídeo de uma série que a Revista Insieme publica em seu portal, a exemplo de outros prováveis pretendentes, Taddone admite ser candidato a deputado no Parlamento italiano, embora ainda faça segredo sobre a legenda partidária que abraçará, ele que é coordenador para o Nordeste do Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’, capitaneado pelo ítalo argentino Ricardo Merlo, que deverá sair candidato a senador.

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Além de conhecer “de cor e salteado” o tema da cidadania italiana por direito de sangue, Taddone conhece também “o outro lado do balcão”, isto é, sabe como as coisas acontecem dentro dos consulados, pois foi, durante algum tempo, funcionário do Consulado Geral da Itália em São Paulo e, depois, daquele do Recife. Existe sim, segundo ele, “aquela parte da burocracia italiana que detesta lidar com cidadania italiana por direito de sangue”.

“Encontrei na minha vida de trabalho, seja no Consulado de São Paulo, seja no do Recife – diz o sociólogo – pessoas que trabalham de forma contrariada para o reconhecimento da cidadania. Em geral, e pelas opiniões que expressam, eles não levam isso com muita comodidade, é algo que os incomoda”, embora tenha também encontrado pessoas maravilhosas que pensam o contrário.

Conforme raciocina Taddone, “é natural que um italiano nascido e crescido na Itália às vezes se incomode que uma pessoa tente buscar o reconhecimento da cidadania e não fale nada de italiano ou também não conheça nada da realidade ou da história da Itália. É uma preocupação e um incômodo legítimo”.

Por isso – prossegue – “eu digo a todos: a cidadania não é apenas um pedaço de papel ou um passaporte; ela é muito mais que isso e eu convido a todos os que têm direito a estudar e a se interessar… as pessoas se interessam por tantas coisas; não custa nada ter mais um pouco de consciência de suas origens”.

Taddone admite que “é muito triste você ver alguém que é cidadão italiano, tem o passaporte italiano, e muitas vezes não sabe nem de onde veio o bisavô; não sabe nem se é do norte ou do Sul. Isso traz um certo incômodo mas, todavia, a lei é a lei e ela deveria ser cumprida independentemente das opiniões pessoais de funcionários consulares ou dos cônsules em geral”.

Daniel Taddone – segundo ele próprio se define – é um “cara apaixonado pela Itália” que há muitos anos convive com a comunidade italiana e aprendeu, na biblioteca do Círculo Italiano de São Paulo, onde esperava a chegada dos jornais italianos com atraso, a amar e a conhecer a Itália e a cultura italiana. Mas, de forma “intensiva”, dedica-se a “esse mundo” da Itália no Brasil há pelo menos 20 anos.

Paulistano do bairro da Mooca de nascimento com “muito orgulho de suas origens”, Taddone domina perfeitamente a língua italiana. Tem seus ancestrais italianos na Sicília e na Calábria. Entende o siciliano, dialeto “nada fácil”, com o qual consegue “falar alguma coisa”. É pai de uma menina, sua paixão.

Nesse primeiro vídeo sobre suas propostas e ideias, Daniel Taddone repete o que muitas vezes já escreveu nas redes sociais: não interessa os motivos que levam ítalo descendentes a buscarem o reconhecimento de sua cidadania italiana; é a lei que assim dispõe e a lei tem que ser cumprida. Para ele, tanto o interesse afetivo ou emocional com a Itália, ou o “interesse utilitário” (trabalhar ou estudar fora, buscar novas oportunidades, mobilidade) constituem “motivações legítimas”. O ideal seria que as duas vertentes se entrelaçassem e, principalmente, que as pessoas procurassem estudar língua e cultura italianas.

Segundo explica Taddone, na busca das origens, de sua história, as pessoas se defrontam com “regras pouco claras” sobre como proceder para obter o reconhecimento da cidadania. Cada consulado age a seu modo, assim como também age cada um dos quase oito mil municípios italianos. “Cada um aplica a regra a seu gosto”, diz Taddone, e “essas regras pouco claras sempre trazem muitas dúvidas às pessoas”.

Sobre o movimento de protesto contra as filas da cidadania e mau atendimento dos consulados italianos no Brasil, Taddone diz que não recebeu nenhuma reação de crítica ou de ‘reprimenda’ por parte dos consulados e outras autoridades italianas. Entretanto, elas vieram exatamente de políticos ou de pessoas a eles ligados, a parlamentares eleitos no exterior que, de maneira direta ou indireta, pelas redes sociais criticaram o movimento – “o primeiro movimento que de alguma forma balançou o ‘status quo’ da comunidade italiana, desse mundo da representação política, em que as pessoas passaram a perceber que existem outros atores, novos atores e isso obviamente acaba incomodando aquelas pessoas que estão muito bem acomodadas e assentadas na sua posição tradicional dentro da comunidade”.

“Como eu já disse – prossegue Taddone -, essa era anterior, mais analógica, de comunidade italiana e de participação acabou. Agora nós temos um novo momento, de redes sociais, de participação, de envolvimento, que traz a comunidade um pouco mais coesa, mais comunicativa, além daquela mesma panelinha de sempre que sempre existiu (…) o mundo virtual, as redes sociais, traz atores novos para essa arena e vai ser muito interessante ver como as próximas eleições vão digerir essa nova participação, como vão integrar esse novo corpo de pessoas nessa nova comunidade italiana que vem surgindo”.