O deputado estadual Daniel Netto Cândido (podemos) está criticando a direção da Assembleia Legislativa de Santa Catarina por ter realizado, dia 26/02, uma sessão especial para comemorar os 150 anos da imigração italiana no Brasil. “ O constrangimento foi enorme”, disse Daniel que, por duas vezes, foi prefeito do município de São João Batista. “Mas o constrangimento maior foi da nossa história”, aduziu.

O parlamentar manifestou sua crítica ao falar por último na VII Assembleia Geral Ordinária da Adenpib – Associação dos Descendentes e Amigos do Núcleo Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil, realizada sábado último (09/03) nas dependências da Câmara Municipal de São João Batista (a sessão foi integralmente transmitida pela revista Insieme). “A nossa história foi ofendida; A nossa história não está sendo defendida por quem deveria defender”, acrescentou.

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Durante a assembleia, além de outros atos ordinários da Adenpib, houve alusão, com minuto de silêncio e oração especial, aos 188 anos de chegada, em março de 1836 ao Porto de Nossa Senhora do Desterro (Florianópolis), do navio “Correio”, trazendo a bordo 186 imigrantes procedentes da península itálica. Em seguida, 132 desses imigrantes fundaram a Colônia Nova Itália no alto vale do rio Tijucas-Grande, território da então Freguesia e Município de São Miguel da Terra Firme, no atual município de São João Batista.

A Adenpib já iniciou a organização dos festejos relativos aos 190 anos do início da imigração italiana no Brasil, que ocorrerá em 2026 (1836 – 2026). Um livro sobre os fatos históricos está sendo organizado. Também falou na assembleia de sábado, presidida pelo historiador Paulo Vendelino Kons, que coordena o movimento “SC Requer a Correção do Erro Histórico”,  o Coordenador dos Círculos Trentinos de Santa Catarina e Paraná da Associazione Trentini nel Mondo, Andrey José  Taffner Fraga que,  igualmente, endossou a tese da Adenpib.

O “Movimento Santa Catarina Requer a Correção do Erro Histórico” busca a correção do erro que está contido na lei federal nº. 13.617/2018, sancionada pelo presidente da República em 11 de janeiro de 2018 e publicada no Diário Oficial da União de 12 de janeiro do mesmo ano, que atribui, equivocadamente, ao município de Santa Teresa, no Espírito Santo, o título de “Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil”, que de fato pertence à Colônia Nova Itália, no município de São João Batista, em Santa Catarina.

Com o lema “Non si può negare la storia, la vera storia!” (Não se pode negar a história, a verdadeira história), o Movimento teve seu início em 12 de janeiro de 2018, data em que o Diário Oficial da União (DOU) publicou a lei federal nº. 13.617/2018, sancionada pelo então presidente Michel Temer, no dia anterior.  A colonização italiana no Espírito Santo ocorreu 37 anos e 11 meses após, a partir de 17 de fevereiro de 1874.

Segundo comentários à margem da assembleia da Adenpib, a estranheza do ato solene do Legislativo catarinense (retransmitimos toda a sessão ao vivo e produzimos imagens precedentes à abertura do ato solene e, também, vídeo com os bastidores do ato) está no fato de existir uma lei estadual  (n 17.536, de 19 de junho de 2018) que “reconhece a Colônia Nova Itália, no Município de São João Batista, como pioneira da imigração italiana”. A lei, aprovada pela propria Alesc, foi sancionada pelo então governador Eduardo Pinho Moreira.

CONSTRANGIMENTO – O parlamentar catarinense iniciou por dizer que teve “a oportunidade de estar nesse movimento desde o início, lá atrás, como prefeito dessa cidade, sempre apoiando, sempre lutando por essa causa”. Depois de eu ter assumido na Assembleia, fui constrangido e constrangi a Assembleia, mas quem foi constrangido de fato foi a nossa história”.

Daniel continuou: “Eu fui constrangido porque, um dia antes, eu usei a tribuna para falar e fazer um convite para todos conhecer a história do pioneirismo da imigração italiana no Brasil, que é na Colônia Nova Itália, a nossa história, para convidar todos a assistir o programa Globo Repórter e contei lá a história… A história é muito bem contada, sempre com muito fundamento e repassada pelo historiador Paulinho Kons”.

Prosseguiu o parlamentar: “E quando eu termino a minha fala, a equipe da Assembleia chega perto de mim e diz. ‘deputado, vai ter um evento semana que vem que vai comemorar os 150 anos da imigração italiana no Brasil’. Então eu fui constrangido na minha fala e constrangi Assembleia porque, naquele evento que aconteceu, a Assembleia está Estado de Santa Catarina comemorou um título erroneamente dado ao Estado do Espírito Santo.

E aí o constrangimento foi enorme. Mas o constrangimento maior  foi da nossa história. A nossa história foi ofendida. A nossa história não está sendo defendida por quem deveria defender. Se a gente estivesse fazendo uma aventura histórica, ou estivéssemos sonhando com algo, daria para entender. Mas nós estamos com a história do nosso lado. Nós estamos com a verdade do nosso lado.

E como é que pode que o nosso Estado, as autoridades, os responsáveis, ainda não entenderem que nós devemos nos unir para defender a nossa história? Por quê aceitar aquilo que nos contam? E por que aquela história que nos contam lá de longe vale mais do que a nossa verdadeira história?  Então é uma luta árdua, uma luta difícil, mas a cada dia que passa – e esse evento de hoje, pelo pouco que eu consegui assistir e presenciar – é um passo que nós estamos dando sempre que nos reunimos e que a existência de toda essa associação, ela se mantém para que de uma vez por todas e em breve nós possamos acabar com essa – não é nem dúvida, porque não existe dúvida – mas com essa diferença histórica . Não temos nada contra o estado do Espírito Santo, muito menos com município de Santa Teresa. Mas nós temos, sim, a nossa história, e nós vamos defendê-la.

Então, para não me alongar, quero aqui reiterar o meu compromisso com essa causa. Sou filho dessa terra. Se não sou de sobrenome, de geração, sou pela minha esposa, e sou de coração. E lutarei e defenderei sempre essa causa. Contem comigo sempre. Acredito que estamos sim avançando, mas precisamos muito que o Estado – os órgãos do Estado, da Assembleia Legislativa, do governo do Estado – encampem essa luta, para que nós possamos, lá no Congresso,  de fato, unificar esse entendimento e não termos mais dúvida e nunca mais sermos constrangidos com eventos no nosso Estado, comemorando algo que não é verdadeiro. Então fica aqui o meu abraço, a minha, a minha solidariedade a essa causa e o meu comprometimento de estar sempre junto com vocês. Muito obrigado!”