Renata Bueno fala sobre plantação de alecrins ao lado de uma rodovia na Sardegna. (Fotograma perfil Instagram)

Dizendo que “a princípio a chapa de centro-esquerda, que uniria os candidatos do Brasil, fracassou”, a ex-deputada Renata Bueno confirmou nesta manhã a Insieme seu sonho de voltar ao Parlamento italiano. “Sim, sou candidata”, assegurou ela, embora fazendo mistério sob que bandeira ou partido concorrerá nestas próximas eleições, marcadas para 25 de setembro. “Recebi propostas de vários partidos, inclusive os de centro-direita”, disse ela ao responder perguntas por escrito, através de sua assessoria, esquivando-se de uma tele-entrevista que lhe havia sido proposta.

As eleições fora da Itália ocorrerão antes daquela data, pois serão desenvolvidas através do voto por correspondência. Na América do Sul, com 1,5 milhão de eleitores, segundo os dados do último referendo, serão eleitos dois deputados e um senador. Enquanto no Brasil vivem cerca de 28% desses eleitores, a Argentina sozinha responde por mais de 51% do total de cidadãos italianos com direito a voto.

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A ex-parlamentar não sabe ainda se concorrerá para o Senado ou para a Câmara, pois está em Roma contatando “várias frentes” e “analisando “diversos convites recebidos”. “Já tive e continuo tendo conversas muito produtivas, que serão fundamentais para a nossa decisão”, disse Renata. Para ela, a estratégia correta para garantir pelo menos uma cadeira para o Brasil no novo Parlamento italiano “teria sido ter mais união entre os brasileiros”. “Sempre temos muitos candidatos no Brasil e isso acaba distribuindo demais os votos, dando mais oportunidade aos outros países”, ponderou.

Renata Bueno, que recentemente filiou-se ao partido do ex-premiê Matteo Renzi (Italia Viva), ao ser perguntada sobre suas intenções anteriormente externadas de concorrer ao lado do ex-embaixador do Brasil em Roma, Andrea Matarazzo (que se filiou ao PSI e concorreria para senador ao lado de Fabio Porta, deputado), desconversou e disse que “ainda não foi nada decidido” e que “está todo mundo conversando e as chapas serão fechadas ainda nos próximos dias”.

Ao comentar sobre problemas ligados à transmissão da cidadania ‘iure sanguinis’, em especial a tese da Grande Naturalização brasileira, a ex-parlamentar disse que “somos os únicos grandes defensores dessa bandeira, até porque eu sou uma ítalo-descendente que voltou para Itália depois de algumas gerações, o que me fez aumentar ainda mais meu amor pela Itália e isso é o que conta para nós e é isso que iremos defender, junto a qualquer governo que esteja presente”. Renata fala também sobre suas propostas de campanha. Confira a entrevista.

É candidata nas próximas eleições? Para a Câmara ou para o Senado?
Sim, sou candidata, mas estamos ainda fechando as alianças aqui em Roma e definindo se serei candidata à Câmara ou ao Senado. Estamos em contato com várias frentes, recebemos diversos convites, que estamos analisando. Já tive e continuo tendo conversas muito produtivas, que serão fundamentais para a nossa decisão.

Correm informações que teve contato com alguns partidos, inclusive de centro-direita, em especial com Fratelli d’Italia, e teria recebido retorno favorável de Giorgia Meloni. Confirma?
Recebi propostas de vários partidos, inclusive os de centro-direita, sim.

Segundo consta, filiou-se recente ao partido Italia Viva, de Renzi. Sairá pela bandeira dele?
Sou sim, Itália Viva, e estamos caminhando juntos, tenho carta branca para fazer a melhor escolha para nós e as conversas já estão bastante avançadas. Estou em Roma reunida com lideranças para decidirmos, juntos, o melhor caminho a seguir. Não é apenas um desejo pessoal, mas uma grande união em prol dos italianos no exterior.

Outros partidos a procuraram para compor? O que mais pesou em sua decisão: ideologia, oportunidade ou pragmatismo?
Ainda não temos a decisão definitiva, mas obviamente optamos sempre pela ideologia e pelo pragmatismo, até porque eu tenho um histórico na política, não sou somente uma candidata pelo cargo, mas temos uma história de representação muito efetiva dos italianos na América do Sul. Até por isso recebemos convites de várias frentes, justamente pelo trabalho consistente que já foi feito. Fico muito feliz em saber que as chapas que me procuraram querem muito que eu volte ao Parlamento, significa que fizemos a diferença.

Fracassou o ensaio com Andrea Matarazzo? Quais serão seus companheiros de chapa?
Com relação ao André Matarazzo, como comentei anteriormente, ainda não foi nada decidido, está todo mundo conversando e as chapas serão fechadas ainda nos próximos dias. Mas a princípio a chapa de centro-esquerda, que uniria os candidatos do Brasil, fracassou. Eu continuo em Roma, conversando com lideranças importantes, para decidir o melhor caminho para os italianos da América do Sul, essa sempre foi e sempre será minha prioridade.

Com apenas três cadeiras (uma no Senado e duas na Câmara) para a América do Sul, como vê o quadro e quais as chances pessoais que vislumbra?
Quando se faz uma campanha eleitoral logicamente a gente sempre deseja eleição. Com relação a uma cadeira para o Senado e duas para a Câmera, claro que é muito pouco, para uma representação grande, de mais de um milhão de cidadãos italianos na América do Sul, a gente deseja a eleição, mas participar de uma campanha é também apresentar propostas, dialogar com o público, então, a gente também gosta muito disso. Para quem tem uma história política, é muito importante este momento eleitoral, justamente porque se tem um canal muito aberto de troca de ideias e propostas e é sempre muito construtivo.

Como avalia a atuação da representação da América do Sul depois que deixou o Parlamento?
Sobre a legislatura que passou, acho que foi pouco eficaz, até por conta da pandemia. O Parlamento não teve muita atividade e consequentemente o trabalho dos representantes do exterior foi bastante limitado. Mas olhamos sempre para o que a gente construiu e no meu mandato tivemos muitas pessoas nos apoiando, pessoas que nos acompanham até hoje, mesmo sem mandato, porque continuamos sempre trabalhando em prol da comunidade italiana na América do Sul. Não somente na política, mas em vários segmentos aqui em Roma, carregamos com orgulho essa representatividade e sempre sou procurada para ajudar em questões diversas. Em 2021, por exemplo, fui procurada pelo grupo de estudantes “Studiare è una necessità”, que corria o risco de perder bolsas de estudo em universidades italianas devido à proibição de ingresso de brasileiros por aqui. Em conversa com o Ministro da Saúde, Roberto Speranza, conseguimos que pessoas com comprovação de início de atividades de estudo na Itália pudessem entrar no país, mesmo durante a proibição de entrada de brasileiros. Continuamos carregando essa grande representatividade, independentemente do mandato, e isso é muito gratificante, porque é o reconhecimento do trabalho realizado.

Acredita que o Brasil terá oportunidade de eleger pelo menos um deputado? Qual seria a estratégia correta para atingir esse objetivo?
Sobre garantir pelo menos uma cadeira para o Brasil, a estratégia correta teria sido ter mais união entre os brasileiros. Sempre temos muitos candidatos no Brasil e isso acaba distribuindo demais os votos, dando mais oportunidade aos outros países.

Resumidamente, como avalia o momento político italiano?
O momento político italiano é bastante delicado. Saímos de uma crise muito grave com a pandemia, onde existe todo um apoio para por parte da União Europeia, são pontos de referência que precisamos ter como pilar no momento político. Precisamos primeiramente pensar na União Europeia como base, isso é fundamental. Segundo, é pensar realmente na agenda Draghi que traz todo plano de retomada do país, retomada da economia, retomada de assistência para as famílias, para as empresas. Tudo isso é fundamental no momento político da Itália, mas o cenário é bastante confuso. A direita tem uma vantagem, mas não é mais a Lega, o que era a Lega agora é Meloni e a esquerda está bastante fracionada, principalmente com a queda do Movimento 5 Estrelas, que foi realmente uma “bolha” que apareceu, cresceu e sumiu; em poucos anos, em menos de 10 anos, foi isso que aconteceu com o Movimento 5 Estrelas. É um cenário político de muita transformação. E uma campanha no período de férias aqui na Itália, ninguém imagina como vai ser esse resultado, inclusive com relação à participação do voto, não temos ideia de como vai ser.

Enquanto a Itália aposta em programas, como “Turismo delle radici” para mobilizar a atenção dos ítalo-descendentes de todo o mundo e alavancar sua economia, ao mesmo tempo seu governo (através da Avvocatura dello Stato e pela pálida estrutura consular) continua inventando dificuldades no reconhecimento da cidadania italiana para milhões. Como desatar o nó dessa contradição?
Sobre a origem dos ítalo-descendentes, essa sempre foi uma bandeira muito forte nossa. Sempre defendemos com unhas e dentes, inclusive com posicionamentos dentro do Parlamento, em momentos de discussão de voto, de propostas, onde eu colocava isso abertamente a todos os colegas, essa defesa dos ítalo-descendentes no mundo. Essa vai ser a nossa principal bandeira, a atenção que a Itália precisa nos dar. A questão de Avvocatura dello Stato, do reconhecimento da cidadania é uma guerra mais técnica, jurídica, muitas vezes colocados por alguns grupos políticos, exatamente para causar polêmica e instabilidade e colocar obstáculos no reconhecimento da cidadania. Mas somos os únicos grandes defensores dessa bandeira, até porque eu sou uma ítalo-descendente que voltou para Itália depois de algumas gerações, o que me fez aumentar ainda mais meu amor pela Itália e isso é o que conta para nós e é isso que iremos defender, junto a qualquer governo que esteja presente.

Quais suas propostas de campanha e principais objetivos se eleita?
Minhas propostas são sempre a defesa do cidadão italiano que vive na América do Sul. Precisamos de respeito, atenção, mais verbas para os consulados, para que possamos melhorar e agilizar o atendimento às pessoas. Programas de incentivo à aprendizagem da língua italiana, principalmente para as crianças, programas de valorização à nossa cultura, incentivo às Associações e, principalmente, continuar com um canal aberto de informação e assistência à comunidade.

Outras considerações?
Gostaria agradecer a oportunidade e aproveitar para chamar as pessoas para que venham conhecer o nosso trabalho, assistam os nossos pronunciamentos na Câmara, que estão publicados no site renatabueno.com.br. Acompanhem as nossas redes, temos um trabalho muito transparente, de tudo que a gente fez. Acho que essa bagagem conta muito, para o que os ítalo-descendentes almejam hoje.