“NÓS SOMOS OS ÚNICOS A FALAR QUE A ITÁLIA ESTÁ VIVENCIANDO O PIOR MOMENTO DA SUA HISTORIA ECONÔMICA RECENTE DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL”
CURITIBA – PR – Formado em Ciências Políticas pela Università di Perugia, na Itália, cidade onde nasceu há 35 anos, Francesco Tripodi vive hoje em Belo Horizonte, onde trabalha numa empresa de engenharia. É, portanto, um típico imigrante italiano da atualidade, que aqui veio acompanhando a esposa Zara, professora, que é brasileira. Além de sua língua nativa – o italiano – fala inglês e português e entende bem o espanhol e o francês.
Desde que chegou ao Brasil, em 2007, assaltou-lhe “o desejo quase incontrolável de fazer alguma coisa para reverter a situação e a imagem do nosso país”. Daí para a participação política foi um pulo. Candidatou-se, assim, a deputado nas próximas eleições italianas, e, “ficha limpa” como se auto-define, escolheu como partido o M5S – Movimento Cinque Stelle, liderado pelo cômico Beppe Grillo.
Ele, que na Itália trabalhou como assessor de imprensa para uma empresa de comunicação e como assistente judicial no Tribunale di Perugia, “mas sempre na forma de “precário”, diz que adaptou-se “com facilidade” no Brasil, onde “começou a gostar muito dessa nação”, primeiro, na condição de professor de idioma italiano e, em seguida, como professor de Economia e Direito na escola média italiana Fondazione Torino, de Belo Horizonte.
Pós-graduado em Relações Internacionais, Tripodi não poupa críticas à política e aos políticos italianos e, entre outras coisas, acha um “absurdo que na campanha dessa repartição (da América do Sul – NR) nenhum candidato tenha minimamente discutido o papel da União Europeia e os vínculos, para o bem e para o mal, que a sua existência comporta para a Itália”.
Ele, para quem o discurso do associacionismo “mostrou-se uma total fraude”, diz-se “bastante incomodado” também com “o total silêncio sobre as empresas italianas que vêm se instalando no Brasil e que “não têm recebido ajuda, a não ser meramente simbólica, das estruturas italianas aqui presentes, como dos Comites (Comitati degli Italiani all’Estero – NR) e Câmaras de Comércio”. Confira a entrevista que ele concedeu ao editor da revista Insieme:
O candidato a deputado pelo M5S, Francesco Tripodi, de Belo Horizonte-MG (Foto Divulgação) |
Francesco Tripodi define Francesco Tripodi:
Sou um cidadão italiano de recente imigração, ficha limpa, trabalhador e cansado de ver o meu país nas mãos de políticos incompetentes e corruptos.
Que motivações o levaram candidatar-se?
Uma vez morando no Brasil, aconteceu uma coisa estranha para mim, mas comum a muitos italianos que são imigrantes recentes como eu, naquele momento: o desejo quase incontrolável de fazer alguma coisa para reverter a situação e a imagem do nosso país. Paradoxalmente, viver no exterior faz você se sentir mais italiano e assim, não sendo capaz de agir pessoalmente, a frustração torna-se insustentável. Uma frustração que surge, também, assistindo à indecência e desonestidade da nossa política, e o estado desastroso da estrutura socioeconômica da Itália. Isto se mostra especialmente verdadeiro para mim, na medida em que moro em um país onde as coisas parecem melhorar um pouco a cada dia. Paralelamente a tudo isso, cresce, então, o desejo de agir e de dar uma contribuição para mudar uma situação inaceitável.
Por qual razão escolheu o M5S?
Muitas. Primeiro, por conta dos princípios do Movimento que renuncia a qualquer forma de financiamento público, que prega a participação ativa do cidadão ao invés de delegar a representatividade a políticos de profissão; segundo, devido ao conceito de democracia líquida (ou seja, a possibilidade de criar, escolher os candidatos os programas e tomar as decisões coletivamente através da internet, segundo o princípio do ¨um que vale um¨ (uno vale uno); a escolha da honestidade como conditio sine qua non, pela participação e muito mais. O M5S é uma forma de se entender a política, até então nunca existente na historia e fazer parte disso e representá-lo nessa parte do mundo constitui um privilégio.
Como analisa o desempenho dos parlamentares eleitos pela circunscrição exterior até aqui?
Péssimo. Os deputados eleitos, muitos dos quais se recandidatam hoje, foram entre os mais absenteístas de todos os eleitos no exterior (com a exceção de um), continuam explorando as legítimas aspirações dos ítalo-descendentes para fazer “il proprio comodo” e até hoje não conseguiram sequer cumprir uma das mil promessas feitas. E quero acrescentar que esse discurso de “associazionismo” mostrou-se uma total fraude para o povo italiano, já que esses grupos representam somente o interesse de uma elite e nada fazem para o povo ítalo-descendente como insistem em dizer.
Que problemas entende específicos da comunidade ítalo-brasileira?
Os problemas dos italianos que vivem no Brasil são do conhecimento de todos os candidatos, independente do partido, e nesse aspecto, as propostas de todas as forças políticas são parecidas. Porém, nós somos os únicos a falar que
a Itália está vivenciando o pior momento da sua historia econômica recente depois da segunda guerra mundial. Os serviços sociais estão sendo cortados e a idade mínima para se aposentar foi aumentada para todas as categorias sociais. Portanto, prometer neste momento investimentos e verbas para atuar políticas para os Italianos residentes no exterior significa mentir descaradamente e atuar de uma forma irresponsável. Nós, do Movimento Cinque Stelle, sabemos que se não for pensada uma política baseada em uma revolução ética e, do ponto de vista econômico, pautada pelos cortes dos privilégios na politica e na economia de despesas inúteis como missões militares, obras desnecessárias, entre outras, nada poderá ser feito para os italianos residentes no exterior.
Como imagina sua atuação no Parlamento Italiano?
Muito simples. Aplicando os princípios do Movimento, iria cortar 80% do meu salário, assim como os eleitos do Movimento estão fazendo na Sicília e nas prefeituras, devolvendo-o aos cofres públicos. Seria um cidadão emprestado à politica e, como tal, garantiria uma presença assídua nas sessões, e, sobretudo, executando as decisões que os cidadãos, em conjunto, tomariam, votando no portal que todo eleito do Movimento tem para ser cobrado e responder à própria ação politica.
Outras considerações que queira fazer
Acho absurdo que na campanha dessa repartição nenhum candidato tenha minimamente discutido o papel da União Europeia e os vínculos, para o bem e para o mal, que a sua existência comporta para a Itália. Outro aspecto que me incomodou bastante foi o total silêncio sobre as empresas italianas que vêm se instalando no Brasil e que não têm recebido nenhuma ajuda, a não ser meramente simbólica, das estruturas italianas aqui presentes, como dos Comitês e Câmara de Comercio.