u SÃO PAULO- SP – Considerado o primeiro case de parceria realizado na Nanotec 2006, a fabricante de plásticos Mueller deu início ao processo com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para o desenvolvimento de matérias primas com aplicações  nanotecnológicas na fabricação de produtos como cabos, pára-choques, painéis, entre outros.

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Para o presidente da Muller, Ricardo Max Jacob, a indústria de um modo geral está  perdendo muito tempo. “Em meus 45 anos no setor, nunca vi tanta oportunidade de agregar inovação tecnológica em produtos, com resultados tão eficientes mostrados na Nanotec”, comenta. 

Os trabalhos devem começar na próxima segunda-feira, dia 13 de novembro, quando pesquisadores da UFMG visitarão os dois centros de pesquisa da empresa  nas cidades de Contagem e Matozinhos, em Minas Gerais. “ A idéia é expor os nossos produtos na próxima Nanotec”, explica Jacob.

Empolgado, ele lembra que, no último mês de setembro, organizou um seminário sobre nanotecnologia para seus principais executivos. As palestras foram ministradas pelo professor e pesquisador, Henrique Eisi Toma, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, e pelo consultor de Marketing e presidente da RJR Eventos, Ronaldo Marchese.

Após ter participado do mesmo seminário na sede da Abiplast, da qual é  presidente do Conselho, Max Jacob, decidiu replicar o evento na empresa, com o objetivo de divulgar junto aos funcionários os mais recentes avanços nanotecnológicos e seus potenciais impactos nos mercados, nos produtos e nas empresas, especialmente no setor de plástico.

Déficit em recursos humanos dificulta o desenvolvimento em Nanotecnologia no Brasil

Segundo o professor Titular do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José D`Albuquerque, com a primeira rede de nanociência  e nanotecnologia,  criada em 2001  pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), houve uma resposta muito forte nos últimos cinco anos em relação ao número de projetos aprestados, o que explica o crescimento na área de nanotecnologia.

Embora a comunidade científica brasileira desenvolva pesquisas na área no mesmo ritmo que a comunidade estrangeira, o professor aponta como um dos principais obstáculos para um maior desenvolvimento da nanotecnologia no Brasil: o grande déficit de recursos humanos.  

O Brasil tem hoje 6 mil engenheiros para cada 1 milhão de trabalhadores; a França, 18 mil; os EUA e o Japão, 25 mil. “Formamos 10 mil doutores por ano, sendo que uma boa parte vai para a área de ciências humanas”, explica Albuquerque.

Quanto à lei de inovação, o professor diz que não percebeu resultado algum dentro do esperado, uma vez que a cultura de inovação no País está em fase de debates e por isso o processo está bastante lento. Por outro lado, ele destaca que as mais de mil propostas recebidas pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) revelam um bom sinal de que os empresários estão visualizando estas novas possibilidades.

Projeção mundial do setor quimico é de U$ 10 bilhões até 2015

Durante a Nanotec, o professor do Departamento de Química e de Ciência de Materiais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Petrus Santa Cruz, apresentou um panorama de infinitas possibilidades de embarcar a nanotecnologia em produtos químicos. Falou das inovações incrementais, ou seja, os processos químicos já existentes, que se tornam mais eficientes após o uso da nano, e das inovações revolucionárias – as novas aplicações que surgem continuadamente pós-nano.

Segundo o professor, a projeção mundial do setor químico é de US$ 100 bilhões. Além disso, há outros setores que envolvem a química, como o de novos materiais (US$ 340 bilhões), o eletrônico (US$ 300 bilhões), o de medicamentos (US$ 180 bilhões), o aeroespacial (US$ 70 bilhões), e o de instrumentação (US$ 20 bilhões).

Cruz destacou também que apesar do cenário estar mudando, com a publicação de matérias em veículos como a revista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e na mídia em geral, há um desconhecimento do setor privado em relação às vantagens da nanotecnologia. “A comunidade científica tem desenvolvido muitas pesquisas, mas isso não é o suficiente. É preciso que o empresário crie interesse pelo tema. Logo ele vai perceber que essa inovação tecnológica vai gerar competitividade para seu produto”, explica.

Outro ponto que precisa mudar, segundo Cruz, é a relação entre o setor privado e o acadêmico do País. No Brasil, 90% dos pesquisadores estão nas universidades e institutos de pesquisas, e 10% no setor industrial. Na Coréia do Sul, mais de 50% estão no setor industrial, e nos EUA, cerca de 80%.

Apoio do governo

Uma boa sinalização do governo, que poderá incentivar o desenvolvimento da nanotecnologia, são as medidas que prevêem mudanças na lei de incentivo à inovação tecnológica para autorizar empresas privadas a colocar recursos em pesquisas feitas nas instituições. Em troca, poderão ter abatimento no Imposto de Renda e na Contribuição Sobre o Lucro Líquido (CSLL).