“Estou me sentindo enrolada”, desabafa a empresária Cintia Gurgel, de Curitiba, ao relatar sua história em busca da cidadania italiana “iure sanguinis” pelo lado materno, via judicial. Sua epopeia já se arrasta por mais de dois anos nas mãos de uma “empresa de cidadania” que chegou a perder alguns documentos e aparentemente está sem solução. O processo deveria ter sido encaminhado a Roma há muito tempo, mas até agora em vão ela cobra pelo número do protocolo perante a Justiça italiana.

Ao celebrar o contrato, assinado em meados de julho de 2019. Cintia Gurgel vislumbrava um prazo de dois anos para ela, mais dois parentes adultos e três menores estarem com a sentença em mãos. Essa era a promessa. A maior parte dos valores exigidos foram pagos ainda no curso de 2019 – algo acima dos 40 mil reais. “Pelo que sei, meus papéis sequer estão na Itália”, conta ela na tele-entrevista gravada na manhã de hoje.

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Cintia Gurgel procurou Insieme depois de ter postado em “alguns grupos de cidadania” do Facebook o relato resumido de seu caso, envolvendo o Instituto Cidadania Italiana, de Curitiba, de propriedade da ex-deputada no Parlamento italiano, Renata Bueno. Enquanto outros que entraram na justiça após a data de assinatura de seu contrato já tiveram realizada a audiência e aguardam a sentença, a empresária sequer consegue conversar com a ex-parlamentar que, na semana que passou. “A ex-deputada me bloqueou no whatsapp” e, por mais que insista  também não responde mensagens ou e-mail, diz Cintia.

Por ora, “em nenhum momento tenho pedido ressarcimento, pois o que eu quero é minha ação protocolada”, argumenta Cintia, ainda com esperança de ver o contrato cumprido, acrescenta ela. Ao longo desse tempo, Cintia conta que teve seus documentos perdidos pelo próprio Instituto Cidadania Italiana. Hoje, os menores de idade à época do contrato já são maiores.

Procurada por Insieme em seu whatsapp na tarde de hoje, a ex-deputada Renata Bueno, até o fechamento desta matéria, não deu retorno.

Em e-mail enviado anteriormente à redação de Insieme, Cintia Gurgel (nesses dias ela está no Canadá, conforme explica no vídeo) fez o seguinte relato: “Preciso da ajuda dessa conceituada revista com uma situação extremamente desagradável. Gostaria de relatar o ocorrido com uma empresa de consultoria em cidadania italiana em Curitiba. A empresa é o Instituto Cidadania Italiana, que tem como proprietária a Sra. Renata Bueno. Após receber indicação de uma amiga, cheguei ao escritório do Instituto Cidadania Italiana em Curitiba em junho de 2019, obtive informações sobre o reconhecimento da cidadania italiana via materna e o que mais me motivou a dar andamento e contratar a empresa citada acima foi uma palestra realizada pela Sra. Renata Bueno dia 11 de junho de 2019 no hotel Centro Europeu; após essa, mantive inúmeros contatos e informações através de e-mails com a empresa.

No dia 12 de julho assinamos o contrato de serviço para o reconhecimento da cidadania italiana via materna para três requerentes: Cintia (1 filho menor), Arthur, Patricia (2 filhos menores). Dentro deste contrato consta e já efetuamos os pagamentos para os serviços de atualização de oito certidões no Brasil, tradução juramentada e apostilamento, pagamento para a advogada na Itália. Os pagamentos já de início foram realizados, totalizando abaixo:

– 2500 euros 12/07/2019 entrada e assinatura do contrato
– 1300 reias 12/07/2019 serviço de busca de 8 certidões
– 6300 reais 12/08/2019 tradução juramentada e apostilamento
– 3000 euros 05/11/2019 propositura da ação

A certidão de nascimento do antepassado eu mesma providenciei diretamente na Itália e entreguei diretamente ao escritório em outubro de 2019. Por conta própria efetuamos o envio da documentação ao consulado italiano em Curitiba nessa época e já estamos na fila com número. Assim dávamos início ao um sonho de família, já que a informação em reunião e colocada no contrato pela empresa teria duração de dois anos para o reconhecimento.

Lidando com uma empresa que tem como proprietária a Sra. Renata Bueno, pessoa pública, imaginei que não teria problemas no percurso. Ledo engano. Mantive contato com a empresa através de diversos e-mails cobrando informações e principalmente o número do protocolo do nosso processo e a mesma sempre com a desculpa que com a pandemia as coisas estavam paradas. Até que, neste ano, em maio, obtive informações que pessoas conhecidas a mim já estavam em posse do número do protocolo que entraram com processo após o nosso, me alertei e fui diretamente à Sra. Renata Bueno obter mais informações e justificativas do porque meu caso não tinha número de protocolo ainda.

A mesma teve que se situar em meu caso pois seu escritório é extremamente desorganizado, e para nossa decepção descobriu que documentos haviam se perdido lá dentro, e que, de fato, nosso caso estava parado, “perdido” – estas informações tenho por funcionário da empresa e pela própria Renata Bueno por mensagens via WhatsApp.

Fiz pressão até que pudessem me colocar a par do que realmente havia acontecido e quanto tempo levaria para que pudesse ter o protocolo do meu processo. Venho, então, desde maio aguardando pois acharam alguns documentos do meu processo perdidos no próprio escritório e com minha ajuda a buscar o restante das certidões que não tinham realizado na época, permaneci cobrando, pois as certidões eram em outras cidades e tendo mais paciência que já tive, chegou neste ponto que não posso mais ficar calada, preciso saber meus diretos. Isso mexeu com minha família, nossos sonhos, nossa parte financeira.

Nada de número de protocolo, nada de fato concreto, somente enrolação e enganação, questiono semanalmente sobre meu caso a empresa e a mesma sempre com desculpas. Tenho provas de tudo que relatei, posso enviar contrato, recibos, prints de e-mail, conversa de WhatsApp, áudios com o Instituto Cidadania Italiana e a Sra Renata Bueno. Preciso que isso seja denunciado. Agradeço a atenção e aguardo um retorno”.