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Uma imagem dos imigrantes Natale e Odila Cavezzale.

CURITIBA – PR – OS descendentes de Angelo e Carolina Cavezzale têm encontro marcado no grande jardim da Fazenda Brilhante, na cidade de Ipaussu, a 315 quilômetros de São Paulo, nos dias 22 e 23 de novembro próximo.
Será o primeiro encontro da grande família desde 1896, ano em que, provenientes da região de Milão – Itália, chegaram no Brasil os imigrantes, cujos descendentes, hoje espalhados por diversas regiões do Brasil, têm uma longa história para contar.
Segundo informa Rogério Manenti, integrante da família que reside em Curitiba-PR, mais de 200 pessoas, entre netos, bisnetos e trinetos dos filhos de Angelo e Carolina já confirmaram presença. “Ali estará reunida, pela primeira vez, uma grande parte de toda nossa família”, diz Manenti.
“Nossa grande festa”, como dizem os Cavezzale, “unindo os dois países que nossos ancestrais tanto amaram – a Itália e o Brasil”, vai acontecer no lugar onde a família plantou suas raízes em terra brasileira, transmitindo, assim, além do forte sentimento familiar, a história, a cultura, e os valores dos imigrantes e seus descendentes até os dias atuais de prosperidade. O primeiro encontro acontece logo após as comemorações do centenário de Genésio Cavezzale (a primeira criança nascida na casa da Fazenda Bilhante), ocorridas este ano, que reuniu uma parte da família numa homenagem mais íntima.
Abaixo publicamos texto que recebemos de Rogerio Manenti, contando um pouco da história dos Cavezzale.

FAMÍLIA CAVEZZALE – O nome Cavezzale origina-se do dialeto milanês, Cavedano, peixe de água doce com carne delicada e digerível, encontrada na Itália e em toda Europa.
Ao pesquisar a origem da Família Cavezzale, começamos por Paolo Cavezzale e Christina Cavezzale, pais de Angelo Cavezzale. Este casou-se com Carolina (Massarotti) Cavezzale. Todos italianos, da região de Milão.
Angelo e Carolina tiveram os filhos: Natale Stefano Cavezzale, Giuseppe Cavezzale, Christina Cavezzale Betti, Joana Cavezzale Rodrigues, Giovanni Cavezzale, Maria Cavezzale Mella e Luiza Cavezzale.
Todos casaram, com exceção de Giovanni e Luiza, sendo que esta faleceu aos sete anos.

Natale, o filho mais velho, liderou a vinda da família para o Brasil. Aqui os Cavezzale chegaram em 25 de março de 1896. A família veio por conta própria. Sem ajuda do governo. Não vieram para substituir a mão de obra escrava e, sim, para trabalhar e ter um melhor meio de sobrevivência. Pois a Itália, nesta época, estava passando por grande crise econômica e falta de emprego.
No Brasil, a família fixou residência na cidade de Tietê, onde já estavam alguns amigos que também tinham vindo da Itália. Natale era construtor. Tinha vinte e três anos e já trabalhara em Milão nesta profissão. Ajudou na construção da Igreja em Tietê, e montou, junto com seu irmão Giuseppe e seu pai, uma serraria. Casou-se, também em Tietê, com Odilia (Putinati) Cavezzale em 06/ 07/ 1892. Aí nasceram seus cinco primeiros filhos: Adalgisa, Ermínia, Ida, Adelina e Rogério.

 

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A casa de Fazenda Brilhante, na cidade de Ipaussu (imagem de 2001)

Por volta de 1908, Natale comprou terras na cidade de Ipaussu, antes denominada Ilha Grande. Eram terras virgens. O povo não tinha confiança nestas terras, pois achavam que eram improdutivas e que, portanto, não seria bom negócio. Mesmo assim Natale começou a desbravar as matas. Convidou várias pessoas de Tietê para trabalhar com ele, prometendo trabalho fixo posteriormente, pois o objetivo era construir uma fazenda de café.
Natale e sua esposa Odília trabalharam muito para transformar um sonho em realidade. Sua persistência deu certo. Construiu com suas próprias mãos , sendo também seu o projeto, uma bela casa que até hoje existe, desafiando o tempo numa persistente teimosia – característica semelhante ao seu construtor. Desfiando a todos que diziam que as terras não eram férteis, plantou mais de trinta mil pés de cafés, entrando no mercado da época para exportar para a Europa. Concluiu a construção da casa por volta de 1912.

Em Ipaussu nasceram seus três últimos filhos: Olga Maria, que nasceu numa casa alugada, na antiga rua Paraná, pois houve um surto de varíola, e sua esposa Odília teve a doença, o que atrasou o andamento da construção; Em 1914 nasceu Gernésio – a primeira criança vinda à luz na casa já concluída, um nascimento muito comemorado pois, além de ser o primeiro a nascer na casa da fazenda, era um menino, um orgulho para o pai que só tinha até aquele momento um filho homem; Em 1918 nasceu a filha caçula, Iria.

Em Ipaussu, além de ser fazendeiro, teve uma serraria e uma olaria. Era um homem com grande espírito empreendedor. Amou muito a terra que o acolheu e lhe deu oportunidades. Não admitia que falasse mal do Brasil. Ficava inconformado com os estrangeiros que vinham para o Brasil, arrumavam emprego e, depois, desfaziam da pátria que os havia acolhido. Era um grande brasileiro de coração. Participou tanto da vida social da cidade, como da política. Foi presidente da Câmara e Prefeito da cidade.

Já com uma posição econômica estabilizada, voltou para a Itália a passeio, levando a esposa e três de suas filhas – a caçula, com sete anos. Queria rever a pátria e apresentar às filhas a terra onde nascera, mas quis o destino que não voltasse para o Brasil. Sua morte prematura e repentina, dia 5 de agosto de 1926, foi uma triste surpresa e chocou o povo Ipaussuense. Seus restos mortais foram sepultados no cemitério de Gênova, o mesmo que anos antes havia ajudado a construir.

Para prestar uma justa homenagem pelo muito que fez pelo progresso da Ipaussu, foi dado o seu nome a uma das ruas da cidade.

Com o passar do tempo, outras perdas foram se verificando. Odília, com ajuda de seus filhos Rogério e Genésio, por vários anos administrou a Fazenda Brilhante. Com muita garra enfrentou inclusive a crise de 1929. Com o tempo, já cansada e doente, foi morar em São Paulo e, num acordo entre os familiares, a fazenda recebeu um novo dono com a mesma marca da família – o empreendedorismo. Seu filho Genésio, casado com Maria Luiza Campos Cavezzale, comprou as partes dos irmãos e iniciou uma nova administração na década de 1940.

 

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Giovanni, Joana, Maria, Natale, Carolina Ângelo, Christina, Luiza, Giuseppe Cavezzale.

Sob novo dono, a fazenda continuou prosperando e e, com o tempo, a modernidade também foi chegando incluindo o surgimento de novas leis trabalhistas. Até meados de 1950, os trabalhadores moravam na própria fazenda. Havia um conjunto de casinhas, muito bem montadas, com pedaços de terra para os colonos fazerem suas hortas, criarem galinhas e engordar porcos para sua própria subsistência. Eram também assalariados. Viviam felizes na fazenda Brilhante. Mas com as mudanças das leis, os encargos empregatícios não foram bem recebidos pelos colonos na fazenda. E a situação ficou difícil também para os fazendeiros. Com a mudança do perfil do trabalhador, muitos tomaram o rumo das cidades grandes.

Genésio, com o sangue inovador, construiu uma grande pocilga e chegou criar porcos de raça. Tudo com muita higiene e cuidados especiais. Mas o café continuava sendo a economia mais forte, já com maquinários mais modernos. A produção foi crescendo. A casa também passou por algumas mudanças internas, tendo-se o cuidado de preservar sua bela arquitetura.
O tempo passou, a idade e a capacidade para o difícil e trabalho na lavoura fez com que Genésio paulatinamente deixasse o comando que, por algum tempo, ficou por conta da esposa e do filho Paulo Sérgio Campos Cavezzale, que estudava Direito em São Paulo.

Assim como o pai, Genésio Cavezzale também deixou sua marca na cidade de Ipaussu. Foi o primeiro provedor da Santa Casa de Misericórdia, onde trabalhou muito para ver esta obra concluída. Foi eleito Prefeito e hoje, também em sua homenagem, existe uma rua com seu nome. Embora tenha falecido em São Paulo, Genésio como era de sua vontade, quis ser enterrado na terra em que nasceu. Com o falecimento de Genésio e, depois, de sua esposa, da mesma forma com que a fazenda fora passada para o comando de Genésio, agora foi passada para seu filho o Dr. Paulo Sérgio C. Cavezzale. Com a partilha feita, a Fazenda do Brilhante tem novamente um novo dono, mas sempre conservando o elo familiar do patriarca Natale Cavezzale.

No presente momento, a fazenda está sob os cuidados de Paulo Sérgio e sua esposa Irene Dias Cavezzale. Inseriram na fazenda o café orgânico. Porém, pela proximidade com a cidade e a necessidade desta crescer, a fazenda teve que ser loteada. Um novo bairro se forma na cidade de Ipaussu o Bairro do Brilhante. Mas a fazenda mantém ainda um grande espaço, onde se encontra a suntuosa casa projetada e feita por Natale, com enormes tijolos de sua olaria e o belo parque todo jardinado. Com muitas árvores e muito verde que mantém ainda a nostalgia dos velhos tempos.

Já completando seus cento e dois anos, a casa acaba de passar por uma grande reforma. Foi totalmente restaurada com as mesmas características. Um belo trabalho do casal Paulo e Irene, que, com muita dedicação, conservam um pedaço do passado, que é e será por muitas gerações considerada uma relíquia de toda a família e seus descendentes.

Para comemorar esta restauração, está sendo preparada para o mês de novembro uma grande festa, onde estarão presentes todos descendentes desta família, filhos de Angelo Cavezzale e Carolina Massarotti Cavezzale, que deram origem a esta grande família.

Este ano foi também comemorado o centenário de Genésio Cavezzale. Foi um encontro mais íntimo que reuniu apenas familiares ligados direto ao homenageado – uma pequena amostra do que será o que todos consideram a nossa Grande Festa.