“O que ele tem com a Itália? Gosta da Itália? – tem muita gente que gosta, ótimo! Mas o que ele tem com a política da Itália?” O candidato a deputado ao Parlamento italiano Walter Fanganiello Maierovitch está se referindo ao presidente da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, que apoia o atual senador Fausto Longo, em dobradinha com o deputado Fabio Porta, já objeto de suas críticas anteriores.
Em sua entrevista à revista Insieme, o candidato afirma que sua campanha é propositiva, “mas tem algumas coisas que me engasgam”, como essa, pois “tem alí por trás o PMDB, como atrás de outras campanhas tem outros partidos”. Ele recrimina “essa intromissão de partidos políticos brasileiros” que chegaram a levar para o Parlamento italiano um senador que sequer fala italiano.
Em outro trecho da entrevista ele diz que é importante que os parlamentares eleitos no exterior tenham controle também sobre os representantes do governo italiano no Brasil – embaixadores e cônsules que, em passado recente, organizaram recepções com a presença até de mulatas semi nuas, fazendo eco a um Brasil inadequado e irreal.
Fanganiello admite ter dificuldades em pedir o voto aos eleitores: “Esse pedir voto é uma coisa que está muito marcada pelo clientelismo e pela corrupução”, diz ele, assegurando também que ele quer ter contato “com esse pessoal da fila [da cidadania], mas para ter resultados”. Imagina transformar a questão do reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue numa questão de “política de Estado”, e promete informar seus representados sobre o que, de fato está acontecendo, sem falsas promessas.
O que não pode, diz ele, é “usar esse pessoal, em véspera de eleição, como massa de manobra”, lembrando “gente que esqueceu desse pessoal por quatro anos, ou que fez promessa falsa”. Depois falou sobre as resistências que existiriam na Europa e na própria Itália à aplicação da lei que considera italianos todos os descendentes de italianos. “Não estou enganando ninguém, é uma questão de política de Estado” que precisa ser fixada claramente e claramente informada aos cidadãos.
“Uma andorinha não faz verão”, lembra ele, para dizer que esse da cidadania é um problema mais amplo e que não depende de um candidato ou de suas promessas. “Evidentemente vou lutar, tem o pacto de sangue, é uma indignidade ficar na fila”, mas também não dá mais para se iludir e “eu quero ser sincero”. É preciso, segundo ele, informar os cidadãos da resistência que existe na Itália pois muitos imaginam que “os de fora vão eleger os de dentro”.
Por fim Faganiello fala sobre os 80% que se abstém de votar que precisam ser conscientizados da importância do voto e condena o sistema clientelista de Patronatos, de garantia de feudos, ironizando, também, algumas ações de parlamentares como a luta pela reciprocidade da carteira de motorista (“isso é de um elitismo canalha!”), enquanto “tem gente na fila” que acaba ainda sendo vítima de populismo barato.
“Não é [protestando] na porta do consulado que se muda; é na escolha do candidato que vai começar a mudança”, afirma Fanganiello, que imagina uma ligação direta entre representados e representantes, que não venham ao Brasil só quando aqui chega alguma autoridade, um ministro, “e aí viram sabujos, querem aparecer na foto, ao lado da autoridade”. Isso tem que mudar, advoga ele, e “ainda que eu perca, isso pode representar uma grande contribuição para a mudança”.