Fausto Longo, ao contrário do que dizia, é de novo candidato. Só que agora à Câmara. (Foto Desiderio Peron / Arquivo Revista Insieme)

“Precisamos convencer nossos ítalo-descendentes que nosso território é aqui, onde nossos antepassados decidiram construir o nosso futuro comum” afirma o ex-senador Fausto Longo (PSI – Partido Socialista Italiano), na entrevista exclusiva a Insieme sobre sua recandidatura nestas eleições em andamento para a renovação do Parlamento italiano. Quando Longo concedeu a entrevista, ele provavelmente não cogitava sair candidato à Câmara, conforme foi noticiado no começo da noite de hoje e, sim, ao Senado.

Longo, que se notabilizou no início de seu mantado com a ideia de construção de um Hospital Italiano em São Paulo, entende que “torna-se imprescindível ganharmos força e coesão para que os investimentos em cultura e educação que poderão vir da Itália sejam realmente utilizados para a construção desse futuro que todos almejamos”. Na campanha passada, Longo tinha como mote a campanha pela conscientização dos direitos dos ítalo brasileiros. 

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As eleições em curso mobilizam os consulados italianos em todo o mundo, pois o voto é realizada por correspondência. Atualmente os candidatos estão na fase de obtenção de apoio mínimo (assinaturas) às suas candidaturas. Já em meados de fevereiro, os eleitores deverão receber em casa os envelopes contendo o material eleitoral com detalhadas instruções para o exercício do voto. As cédulas, depois de assinaladas, devem ser devolvidas (por correio ou manualmente) aos consulados em tempo hábil.

Longo concorre à Câmara, juntamente com Fabio Vicenzi e Pasquale Matafora, ao lado de Fabio Porta (PD – Partido Democrático) ao Senado, invertendo a dobradinha de 2013. Nessa longa entrevista exclusiva a Insieme, Longo faz um balanço de suas atividades, justifica a “taxa da cidadania”, rebate críticas sobre o apoio da Fiesp – Federação das Indústrias de São Paulo, lança propostas novas, explica porque mudou de ideia e se re candidatou e muito mais. O candidato que, como Senador, já defendeu a instituição de um “imposto sobre a cidadania” , acredita que a devolução de parte da “taxa da cidadania” aos consulados deva estar gerando os resultados esperados

Ainda falando em cultura e língua italiana, Longo assegura que luta “para que cada cidade possa oferecer, nas escolas públicas ou privadas, o ensino da língua italiana, como segunda alternativa de idiomas, para os filhos de italianos se essa for a vontade expressa por seus pais e/ou responsáveis”. Veja o que diz e pensa o candidato Fausto Longo:

Ao ser eleito senador, em 2013, e depois quando do referendum que abolia o Senado, dizia que não se recandidataria. Que o fez mudar de ideia?

As circunstâncias, o comprometimento com batalhas já iniciadas, a possibilidade de  poder contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Particularmente, algumas dessas batalhas tornaram-se desafios que me encantam pela expectativa de poder gerar resultados efetivos, tal como o acordo de cooperação na área médico-hospitalar entre a Úmbria e o estado de São Paulo e que poderá resultar num futuro complexo ítalo-brasileiro de saúde no Campus da UNICAMP ou ainda em um hospital na rua Jaibarás, 251, no bairro da Mooca em São Paulo, assim como a aproximação entre setores e segmentos produtivos industriais proporcionando intercâmbio de conhecimento e uma inserção mais competitiva da Itália no contexto territorial da América do Sul e vice-versa, gerando riqueza e renda para todos. Neste caso a mudança de ideia foi extremamente positiva, percebo, claramente, que adquiri mais experiência, mais conteúdo, mais conhecimento, me apropriei de mecanismos mais eficazes para produzir resultados, ou seja, creio que poderei servir mais e melhor nossa comunidade italiana, onde quer que ela esteja.

E o hospital italiano de São Paulo, projeto seu. Que fim levou?

O projeto do hospital continua firme. O que ocorre é que ele precisa seguir um percurso para ser viabilizado, já que é um projeto de alto custo de implantação e alto custeio, mas já temos um terreno garantido pela municipalidade de São Paulo, contamos com a disponibilidade da Unicamp e ainda há o Hospital Regional de Piracicaba que está pronto para ser equipado e entrar em operação. Importante reafirmar que o projeto do hospital ultrapassa as questões político-partidárias-eleitorais. É uma meta que independe de questões eleitorais.

Como pretende desenvolver a campanha e que novos compromissos assume  com os eleitores?

Nossa intenção é mostrar o trabalho realizado nesses cinco anos, mas, também, o quanto ainda temos a fazer, justamente por conhecer melhor o contexto parlamentar italiano. Um dos nossos mais sérios compromissos será aquele de lutar contra as tentativas de se limitar os direitos já conquistados. Nossos compromissos, não só com os eleitores, mas com toda a sociedade passam por insistir na luta para garantir  que o direito à cidadania italiana seja, indiscutivelmente, mantido; vencemos algumas batalhas, mas sabemos que ainda há muito pela frente. Também lutamos e vamos continuar atuando na promoção e difusão da língua italiana como instrumento de inserção para que as pessoas se sintam pertencentes à Itália; para tanto, já conquistamos, junto  com outros senadores,  5 milhões de euros para atividades de facilitação e preservação da cultura italiana no exterior, através da  Emenda  Omnibus. E vamos continuar a luta pela transmissão de cidadania pelas mulheres, pela  lei que garante a transmissão de cidadania para  trentinos  e  pela ampliação e eficiência da Rede Consular.

Candidatos concorrentes como o  Fanganiello  atacam o Senador Fausto Longo por seu envolvimento com a Fiesp e por não falar fluentemente o italiano. Isso o incomoda?

Creio que incomoda mais a ele do que a mim. Aliás, nosso mandato e as conquistas que tivemos demonstram nossa atuação.  Hoje fazemos parte da Secretaria Nacional do PSI, somos o responsável pelos Socialistas Italianos no mundo e único candidato do partido no exterior indicado por unanimidade pela direção do partido para compor a aliança com o PD, com o Partido Verde e com o Área Cívica.

Foram  mais de 900 sessões plenárias, 300 sessões nas comissões permanentes da Indústria, Comércio e Turismo, da Defesa e de Questões dos Italianos no Exterior; mais de 19  mil  votações,  94% de presença em sessões e/ou missões parlamentares, mais de 1.500 emendas apresentadas e mais de 600 aprovadas no contexto do Grupo Parlamentar e/ou individuais, mais de 400 localidades visitadas em missões na Itália, no Brasil e nos países da América do Sul, mais de 200 encontros com 80 entidades diferentes para a construção do Complexo Ítalo-brasileiro de Saúde, que resultaram em várias possibilidades, entre elas o  Protocolo de Cooperação técnica, tecnológica, cultural e comercial entre o Governo da Umbria e de São Paulo,  assinado no dia 29 de janeiro  deste ano. Sem contar os  13 projetos de Lei apresentados,  a grande maioria focando melhoria nos serviços disponíveis para a comunidade italiana no exterior ou visando desburocratizar o processo de reconhecimento da cidadania, enfim, temos procurado desenvolver um trabalho justo, sempre focado nas demandas recebidas durante o mandato. Penso que ao decidirmos participar de um processo democrático, estamos oferecendo nosso empenho, conhecimentos e experiência para bem representar, defender os interesses, compreender os anseios e buscar soluções para a superação dos obstáculos que a vida em sociedade nos apresenta, caberá aos eleitores  o julgamento e a escolha dos que deverão representá-los. Aprendi com alguns grandes nomes da política que o bom candidato é aquele que não perde seu tempo atacando os seus concorrentes, mas que se dedicam a apresentar suas propostas para avaliação do eleitor, conquistando assim apoio e votos para as causas que defende e não para alimentar o próprio ego.

Há muitas críticas contra a bancada parlamentar no exterior. Como vê a atuação dos parlamentares italianos eleitos no exterior até aqui, principalmente os do Brasil?

As críticas sempre são e serão bem-vindas, porém, penso que devam apontar alternativas para que se possa aperfeiçoar e superar os defeitos, erros ou enganos, mesmo que involuntários e que, como seres humanos, todos podemos cometer. Creio que todos os parlamentares eleitos no exterior enfrentam uma realidade bastante complexa, somos seis senadores num conjunto de 315 (além dos senadores vitalícios ou de direito) e 12 deputados num conjunto de 630. Claro que fazer prevalecer qualquer ponto de vista ou tese pressupõe um trabalho hercúleo de articulação e conquista de apoios, principalmente os partidos e movimentos menores que não existem na Itália, apenas no exterior, alguns até com caráter regional, que contam com um número muito pequeno de parlamentares para fazer avançar suas teses ou para se contrapor às grandes causas defendidas por partidos mais densos e estruturados. Creio que existe muita boa vontade e empenho por parte de todos, convivi com os senadores eleitos no exterior, na maior parte das causas caminhamos juntos, com muito sacrifício, algumas teses nos dividiam, mas, na maioria comungávamos os mesmos pensamentos.

A seu ver, quais os principais problemas da comunidade italiana no exterior, notadamente na América do Sul e no Brasil? Como enfrentá-los?

  Existem reivindicações de toda ordem.  Entre as principais, contudo,  destacam-se aquelas relativas à necessidade de um atendimento mais eficiente por parte da rede consular, maior agilidade na questão dos processos de reconhecimento do direito à cidadania, superar a questão dos Trentinos e das mulheres nascidas antes de 1948, mais eficácia na emissão de passaportes, validação de diplomas para o exercício profissional, apoio cultural, promoção e difusão da língua italiana. Há ainda questões relacionadas aos pensionistas, além da demanda por um atendimento mais humanizado para todos. Outra solicitação recorrente, principalmente pelos italianos natos que vivem nos países sul-americanos, é que sejam estudadas alternativas mais justas nos temas que pertencem a tratados bilaterais, como aquele que garante reciprocidade na questão da saúde, por exemplo, que expõe a grande diferença de qualidade dos serviços ofertados nos diversos países em comparação com sistema da Itália.  Para enfrentar cada uma dessas reivindicações não basta apenas apresentar emendas ou projetos de lei, foi por isso que desde o início do mandato me  dediquei  a uma verdadeira imersão no estudo do conjunto de leis, normas e regulamentos contidos na carta magna italiana – a Constituição de 1948 – que dá vida à República. Também realizei  um cuidadoso estudo da União Europeia e do Parlamento Europeu, uma vez que a Itália deve respeitar as decisões daquela instância, e cada parlamentar, antes de propor qualquer projeto de lei, deve ter plena consciência de não interferir em nenhuma norma pré-estabelecida no Parlamento Europeu.  E, enfim, propor emendas, promover acordos e realizar articulações para que estas questões sejam resolvidas pontualmente e passo a  passo, como foi o caso da taxa da cidadania, que foi parcialmente destinada aos Consulados para melhorar a qualidade dos serviços prestados. Na questão da Saúde, conseguimos promover o acordo de cooperação entre a Úmbria e o estado de São Paulo, que vai permitir a troca de tecnologia na área da Saúde, enfim, parcerias que podem se tornar exemplos e se estender também para outros estados. Muito foi feito nesse mandato para avançar nessas questões, já que cada problema é resolvido com análise da situação, ação e foco no bem comum. Creio que uma mudança essencial no modo como a Itália percebe os países sul-americanos e nossa comunidade seria a compreensão de que podemos nos caracterizar como parceiros importantes no acirrado cenário mercadológico internacional, a capacidade e a competência tecnológica italiana devidamente aliada às próprias competências regionais dos países sul-americanos podem resultar numa inserção extremamente favorável para a Itália e, ao mesmo, tempo, para nosso continente. Tivemos a oportunidade de construir uma espécie de cooperação consorciada no setor vitivinícola, segmento altamente desenvolvido na Itália e que já está produzindo efeitos positivos no estado de São Paulo, seguindo os conselhos e a orientação de Associações de Produtores de cinco regiões italianas e também do Consórcio dos Produtores do Vinho Nóbile de Montepulciano, foi criada, nesse período, a Frente Parlamentar da Uva e Vinho na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e a Rede Paulista de Cidades Vitícolas. Um setor onde a comunidade italiana representa a quase totalidade neste estado.

Depois de um mandato cumprido, que pensa sobre a nossa estrutura consular, incapaz de responder às maiores demandas da comunidade ítalo brasileira, como cidadania e passaportes?

A Itália, como muitos países, atravessa um momento delicado, enfrenta algumas realidades que a obrigam a priorizar projetos e políticas públicas focados na superação dos obstáculos desse período. É um país com uma inserção geopolítica complexa – a fronteira entre o norte da África e a Europa, o limite físico entre o mundo muçulmano e ocidental, entre o leste europeu e a Europa Ocidental -, suporta o peso de integrar a União Europeia como fator garantidor de mais 70 anos de paz, enfrenta a realidade do Euro como moeda única, que impõe regras iguais a realidades sociais, econômicas e culturais totalmente diversas, além de ser uma das portas mais acessíveis de ingresso de imigrantes em fuga de guerras e misérias ou em busca de nova esperança. Enfrenta ainda aos reflexos da crise econômica mundial desencadeada pela decantada “bolha” norte-americana, a invasão desproporcional de produtos chineses, a ausência de oportunidades de emprego que ocorre devido à crise de mercado e à profunda reforma no sistema de produção em função da automação industrial, ocasionando a fuga de mais de 90 mil jovens formados anualmente para outras capitais europeias ou para o oriente. É um contexto complexo. Claro que do ponto de vista estratégico os governos italianos poderiam ter um olhar diferente para essa imensa comunidade italiana que vive fora da Itália: 86 milhões de pessoas (no mundo todo) que poderiam significar, se tratados de forma inclusiva, um grande recurso de consumidores orgulhosos de consumir produtos oriundos do “Made  in  Italy”. Por outro lado, também não seria justo impor aos trabalhadores italianos, por meio de impostos e taxas descontados de seus suados salários, que esses recursos fossem investidos fora da Itália e sem uma previsão efetiva de retorno. Por exemplo, não foram poucas as vezes em que nos defrontamos com argumentos que evidenciam que os “italianos de fora” querem contar com o direito de serem cidadãos, mas não se dispõem a assumir também os deveres inerentes. Tudo isso é levado em consideração pelo governo. Portanto, a solução existe, depende da priorização  dos investimentos, que ocorre no contexto e momento em que vive o país. Em nosso mandato,  procuramos  evidenciar a necessidade de se estabelecer essa nova forma de olhar a comunidade italiana no exterior, ou seja, como um efetivo recurso estratégico, e não como um peso. Poucos países têm essa característica que os torna realmente um país global. Basta adotar políticas públicas que considerem esse viés. E chamar todos, cada um com sua respectiva responsabilidade, para assumir sua parte, sejam italianos de dentro ou de “fora”!

Taxa da Cidadania: há os que advogam a sua extinção pura e simples, por ser inconstitucional; outros a  vêem  como um recurso capaz de resolver nossos problemas…  mas à base de 30% do que é arrecadado, resolveremos esses problemas, ou é preciso mais?

Em diversas ocasiões fomos confrontados com a pergunta sobre deveres e direitos de um cidadão. Todos sabemos que ser cidadão significa assumir um compromisso, um contrato social com o estado, ou seja, cidadania pressupõe que uma pessoa passe  a constituir um grupo que pertence  a  um conjunto formado por território, cultura, valores, bens e recursos, tornando-se beneficiário, mas, ao mesmo tempo, compromissado a contribuir para e com a construção e manutenção desse “condomínio” chamado Nação. Deveria ser uma  verdadeira “taxa da cidadania”,  ou seja, uma contribuição efetiva para viabilizar a estrutura de serviços disponíveis aos italianos. Essa taxa, na verdade, um pagamento para cobrir parte dos custos de um serviço burocrático prestado, apenas ameniza os gargalos  estruturais existentes na rede consular e serve como uma medida paliativa, não resolve definitivamente o problema. Lutamos muito para que essa taxa permanecesse no local onde foi gerada, ou seja,  em cada Consulado,  e acreditamos  que foi um avanço significativo conseguir que 30% retorne aos  locais de origem. No decorrer do próximo ano creio que essa prática já estará gerando  os resultados que esperamos, tais como, permitir que os próprios consulados, obedecendo os rigores da legislação, possam implantar melhorias no atendimento e, consequentemente, agilizar o processo de reconhecimento da cidadania, entre outros serviços, reduzindo  o longo tempo de espera e, portanto, a tão decantada e vergonhosa “fila da cidadania”.

Que diz do sistema “prenota  on  line” para passaportes? Já o qualificaram como um “monstro informático”, mas ninguém faz nada para mudá-lo. O que o candidato diz do problema real de milhares de cidadãos italianos que simplesmente não conseguem agendamento?

Creio que, uma vez solucionada a questão de recursos, penso que já neste início do ano os consulados deverão começar a receber as parcelas referentes ao pagamento dos 300 euros, e teremos a possibilidade de avançar tecnologicamente para superar esses obstáculos. Estamos em pleno século XXI, em plena era da tecnologia da informação, inacreditável que não se encontre uma solução técnica razoável. No contexto de nossas atividades parlamentares fomos responsáveis por inúmeras interrogações ao governo por conta das constantes reclamações de nossos cidadãos em relação à qualidade dos serviços da rede consular, jamais recebi uma resposta que me satisfizesse, sempre foram respostas evasivas, não conclusivas, boa parte dos organismos governamentais nos tratavam até com certa hostilidade por estarmos evidenciando suas falhas. Esperamos e vamos lutar para que, com os recursos obtidos do sacrifício de todos os cidadãos, o governo saiba fazer bom uso e aperfeiçoar o atendimento às suas demandas e necessidade, aliás com o devido respeito, que deve ser um pressuposto básico de qualquer organismo público.

A Itália volta a debater a ampliação do “ius  soli”. Como vê essa questão em confronto com o “ius  sanguinis” que, dizem, está sendo diminuído. Aceita, por exemplo, algum limite geracional?

Antes de tudo, não aceitamos qualquer limitação geracional ou de qualquer outra natureza, como forma de inibir o reconhecimento da nossa hereditariedade, e também não aceitamos qualquer outra forma de subtração de nossos direitos constitucionais. Para nós, Ius Soli e Ius Sanguinis são temas que não competem entre si, ambos devem ser tratados com a devida racionalidade. Creio que é sensato buscar uma solução para os nascidos de genitores estrangeiros e que só conviveram, em toda sua vida, no ambiente italiano, com educação, vivência cultural e afetiva na própria Itália, que não são patriotas nos países de origem de seus pais, porque, muitas vezes, esses países adotam regimes tipo “Ius Soli” e essas crianças não nasceram naquele território. Vivemos no século XXI, questões desse tipo não podem impedir a humanidade de evoluir para patamares mais justos e solidários.

Cultura, língua e  ‘Made  in  Italy’: sua visão e suas propostas sobre esses três temas?

Precisamos convencer nossos  ítalo-descendentes que nosso território é aqui, onde nossos antepassados decidiram construir o nosso futuro comum, portanto, torna-se imprescindível ganharmos força e coesão para que os investimentos em  cultura e  educação que poderão vir da Itália sejam realmente utilizados para a construção desse futuro que todos almejamos. Precisamos que os recursos sejam investidos na capacitação de mestres e professores de italiano que possam atuar no moderno ensino à distância, mas também nas escolas primárias, para que as crianças possam desenvolver mecanismos próprios e eficazes de acesso ao conhecimento para buscar a cultura de nossos antepassados e mantê-la viva, não como folclore ou tradição, mas como ferramenta que possa garantir novas oportunidades seja no Brasil ou na própria Itália.  Lutamos  para que cada cidade possa oferecer, nas escolas públicas ou privadas, o ensino da língua italiana, como segunda alternativa de idiomas, para os filhos de italianos se essa for  a  vontade expressa por seus pais e/ou responsáveis.

Em relação ao “Made in Italy”, como já dissemos, é preciso que a Itália compreenda as dimensões de nosso continente, 400 milhões de consumidores, sendo 60 milhões ítalo-descendentes, em sua grande maioria, pessoas bem estabelecidas, com um padrão adequado de vida e que podem se caracterizar com fortes promotores na formação da opinião pública em relação aos produtos, à cultura, ao turismo receptivo, entre outros tantos produtos e recursos que a Itália nos apresenta.

Também é necessário despertar para as novas demandas globais, o Brasil responde hoje pelo suprimento alimentar de aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas, segundo os dados da FAO, para conseguir atender a mesma proporção de pessoas com o crescimento da humanidade, o Brasil precisará produzir até 2050, 40% a mais de agroalimentos, além de diminuir grandes pastagens, substituí-las por sistemas de confinamento e ampliar as áreas agricultáveis sem novos desmatamentos, será importante investir no processamento e embalagem de produtos agrícolas, pois bem, a Itália é um dos grandes países tecnológicos do planeta, portanto, a associação consorciada neste segmento viabilizaria alternativas reais de desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo que contribuiria para resolver um grande problema para a humanidade, para isso é preciso que a Itália recupere a sua capacidade de planejamento estratégico, defina claramente onde quer chegar, que tipo de nação pretende ser e assuma um percurso que nos conduza até esse futuro que todos almejamos.