Roberto Innocente entre os integrantes do elenco de "Janaina não seja Boba", no teatro EnCena, Curitiba - PR. (Foto Desiderio Peron / Arquivo Revista Insieme)

Qual o sentido de fazer Arte? Esta pergunta, antes ou depois, aparece na cabeça de qualquer artista. Sem deixar do lado as definições oficiais, eu me arrisco a colocar em jogo esta definição, sem nenhuma pretensão de originalidade: “Fazer Arte é instrumento de transformação social”.

Esta definição sempre moveu minha dedicação, faz mais de trinta anos, para todas as práticas artísticas ao meu alcance. A prática que, mais que outras, transformou minha vida é a Arte do Teatro. Gosto de pintar, de esculpir, de escrever poesia, de tocar música, mas todas estas coisas ficaram como “paixões”; o Teatro e a dramaturgia viraram minha profissão.

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Chegado ao Brasil (em 2005) me encontrei num mundo diferente, em tudo, a partir do idioma, da gastronomia e, principalmente, da cultura e da arte. Pouco sabia deste grande país (do qual muito pouco se fala na Itália), e pouco a pouco fui descobrindo que este país pouco sabia da minha cultura. Pizza, espaguetes e bandolim (para não dizer Pausini ou Ramazzotti) todo mundo conhece, mas que trauma descobrir que poucos conheciam Pirandello, Goldoni, Pavese ou Ungaretti!

Que trauma descobrir que o “meu país” era identificado com estes elementos. Os meus instrumentos de relação artística “não serviam”. O que para mim era normal, estava impregnado em meu ser, aqui não servia.

A minha “cultura” não encontrava elementos de troca. Outra referência, outra história, outra vida. Meu fazer Arte sempre foi direcionado “para o povo” dando a esta palavra não uma conotação politica, que não me interessa, mas uma conotação social; “povo é a totalidade das pessoas que moram num lugar; que povoam um espaço geográfico”. 

Não me interessava (e não me interessa) expor “minha cultura” para os poucos que podiam ter os instrumentos de leitura da “cultura italiana”; me interessava muito mais “contaminar-me e contaminar”. Eu era o estrangeiro; o dever de aprender a Cultura Brasileira era meu, e assim eu fiz. Mergulhei por três anos num estudo contínuo da literatura, da música, do cinema, da fotografia, da tradição popular, da antropologia deste país, que se tornaria o meu país, o país onde prosseguir minha existência. 

Mas, minha “Cultura Italiana” está dentro de mim, é minha referência original, o que de maior deu para mim meu país (não falo “pátria”, pois não gosto deste conceito). E esta “cultura” eu coloquei em jogo nesta “contaminação” bidirecional. Assim nasceram meus espetáculos, todos com um pedacinho de Itália e um pedacinho de Brasil (ou muito mais de um e do outro). E esta é a coisa mais linda.

E isso, permito-me dizer, é o que os consulados italianos, os institutos de cultura e as muitas instituições e manifestações ligadas à Cultura Italiana deveriam procurar, difundir e promover.

“Contaminação com a Cultura Italiana”, não “Apresentação da Cultura Italiana”. Eu não encontro muito sentido em uma “resenha de títulos italianos” (que seja cinema, teatro, música, pouco importa), prefiro uma “resenha Ítalo-Brasileira”, não para criar uma dinâmica de confronto, mas para descobrir as “linhas paralelas” que fazem da existência dos dois povos, italiano e brasileiro, um povo só.

Eu sou um Artista e nas minhas produções artísticas no Brasil procurei fazer isso desde o começo (lembro, para quem conhece meu trabalho, minha última produção “Janaína não seja boba” que junta o teatro de revista brasileiro e a opereta italiana). E isso sem perder minha cultura, ao contrario, enriquecendo-me de outra cultura. Dois é mais que um.