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PATROCINANDO SUA LEITURA

PORTO ALEGRE – RS – Definida como “o maior encontro literário da América Latina a céu Aberto”, a 51ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre tem como patrono o escritor, pesquisador e religioso Frei Rovilio Costa. O evento acontecerá entre 28 de outubro a 15 de novembro na Praça da Alfândega e, segundo seus organizadores, deverá superar em público o ano que passou, quando registrou a participação de mais de 1 milhão e 800 mil pessoas. Convidados nacionais e internacionais de destaque prestigiarão a Feira.
Frei Rovílio, que é colaborador da Revista Insieme há pelo menos dez anos (“O Italiano que está em você”), foi escolhido, na segunda etapa, por 88 representantes da comunidade cultural gaúcha (diretores da Câmara do Livro, ex-patronos da Feira, titulares de universidades e entidades vinculadas ao livro e à Literatura). Com ele concorreram os autores Alcy Cheuiche, Carlos Urbim, Charles Kiefer, Cintia Moscovich, Fabrício Carpinejar, Juremir Machado da Silva, Luis Augusto Fischer, Luiz de Miranda e Martha Medeiros.

QUEM ÉFrei Rovilio Costa Nasceu em Veranópolis/RS, em 1934. Licenciado em Filosofia e Pedagogia, é mestre em Educação e livre docente em Antropologia Cultural. Foi professor da Faculdade de Educação da UFRGS, diretor e professor da Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes/Porto Alegre.

Também cidadão italiano, é fundador e diretor da EST Edições e membro do Instituto Histórico de São Leopoldo, da Academia Rio-Grandense de Letras e da Academia Brasileira de Jornalismo. Recebeu, entre outras, as seguintes distinções: Medalha Simões Lopes Neto, Amigo do Livro, Prêmio Literário Erico Verissimo e Comenda Negrinho do Pastoreio.

Foi patrono das Feiras do Livro de Novo Hamburgo, 2002; de Bom Jesus, 2002; de Veranópolis, 2003, e Personalidade da 49ª Feira do Livro de Porto Alegre, 2003. Autor de Psicologia da fraternidade religiosa, 1973; Personalidade e ciência social, 1974; Imigração Italiana no RS: vida, costumes e tradições, 1975; Antropologia visual da imigração italiana, 1976; Assim vivem os italianos, 3 v., 1982; Imigração Italiana no RS: fontes históricas, 1988; La presenza italiana nella Storia e nella cultura del Brasile, 1990; Os capuchinhos do Rio Grande do Sul, 1996. Articulista em publicações de Caxias do Sul, Veranópolis, Porto Alegre, Curitiba e Torino, na Itália.

É Padre Capuchinho e escreveu mais de 100 mil folhas de pesquisa, de documentos e de cartas sobre a cultura ítalo-brasileira. Doou sua obra para o arquivo histórico do Rio Grande do Sul, onde tem sala própria, com seu nome, para a pesquisa destes documentos. Tem mais de 2000 títulos publicados.

 

A Seguir, trechos de entrevistas concedidas por Frei Rovílio a órgãos diversos da imprensa riograndense:

 

Entrevista a Giancarla Brunetto, da Faced/UFRGS para a edição 35 de Extr@!

 

n O que modificou em sua rotina a partir do momento em que foi eleito Patrono?

Em termos de compromissos, todos os dias com média de três longas entrevistas, em rádios da capital e do interior, em TVS, em revistas e jornais. Inclusive uma Entrevista para Rádio de Rovigo, na Itália, e para um grupo de estudiosos de Imigração italiana de São Paulo.

A escolha para patrono foi para mim uma surpresa,  uma forma de aprovação do meu trabalho, que ainda considero incipiente. Isto me motiva a seguir trabalhando, sobretudo preparando pessoas que o continuem.

 

n Quais serão suas principais atividades durante a 51ª Feira do Livro?

A atividade de sempre será passar os balaios e escolher obras para acervos que faço em bibliotecas municipais. Como patrono, procurarei, com exceção de dois dias que devo me ausentar para serviço religioso, estar presente para trocar idéia com autores, visitantes, conferencistas, painelistas, forumnistas, oficinistas, artistas… 

 

n Qual é a sua avaliação, como pesquisador da cultura, sobre a escolha da  Itália  como país homenageado, e do Ceará como estado em destaque nesta edição da Feira?

A escolha da Itália, como da Alemanha em 2004, é uma escolha que contempla contingente significativo de nossa população, que foi se formando concomitante à polonesa e suíça valesana que também estão comemorando 130 anos.

O escolher um país por ano está dando à feira de Porto Alegre um olhar global e internacional, fazendo de Porto Alegre a cpaital mundial do livro.

A escolha do Ceará, aos 140 anos da publicação de Iracema, de José de Alencar, o Estado do Pe. Cícero, de costumes bem diferentes do Rio Grande do Sul torna a feira do livro de Porto Alegre a capital nacional do livro.

 

n O senhor fez questão de destacar a importância da literatura dos balaios. O senhor será um Patrono voltado para a defesa de livros com preços mais acessíveis, para  um acesso cada vez mais amplo à comunidade?

O livro é caro. Seu mercado é difícil, com distribuição, consignações… O livro didático tem mercado assegurado, mas o livro de cultura geral, e sobretudo o alternativo, como são a maioria de minhas edições, têm um mercado incógnito e indefinido. O poder público e os livreiros e editores precisam montar um sistema que viabilize a venda de livros que motivem a compra e promovam a leitura. Editores e livreiros deveriam levar o livro sobretudo aos municípios onde não há livrarias, com promoções para todas as idades, sobretudo para crianças, futuros e seguros leitores, se bem motivados. Os municípios deveriam arcar com os deslocamentos e manutenção dos livreiros durante sua estada no município com ofertas especiais de livros.

 

n O senhor dedica sua vida à pesquisa, à vida religiosa e ao trabalho editorial.  Quando o senhor descobriu essa vocação e como o senhor administra o tempo para dar conta dessas múltiplas atividades?

O dia tem 24 horas, que divido entra atividade religiosa, trabalho e descanso. Quando estava na Universidade tinha que cumprir horários de compromissos acadêmicos e religiosos, dividindo o restante do tempo entre descanso e atividades editoriais. Hoje, tenho que seguir os horários religiosos previsto e eventuais em primeiro lugar. O resto do tempo dedico a pesquisar, escrever e editar, que é algo pessoal, que ocupa todos os retalhos de tempo junto ao descanso.

 

n Como editor, o senhor avalia que há mercado promissor na edição de obras ficcionais?

Hoje, há mercado para toda categoria de livro. O problema maior é encontrar o nicho de cada categoria de publicações. A internet ajuda muito. O difícil é fazer chegar o livro de forma acessível aos leitores cativos e possíveis. Os livros ficcionais só deslancham quando seus autores se tornarem conhecidos, esta é a grande dificuldade, que deixa, por vezes, bons ficcionistas na penumbra. A ficção tem que ser quente, abordando a realidade, fazendo análises, tornando o leitor participante, não apenas expectador, acenando caminhos e propostas. Ninguém lê livros de fátua imaginação. Na poesia sobretudo prima a mensagem, a crítica e a criativa engenharia de idéias. O mero lirismo está vencido pela objetividade da cultura atual.

 

n O senhor acredita que o  mundo virtual  – cada vez mais intenso sobretudo entre os jovens – pode apresentar riscos  na formação de jovens leitores?

Não fosse a informática, net e internet não se editaria tanto. O mundo virtual facilita o acesso a textos e livros. Não se pode mais parar no livro de papel como antagônico ao virtual, mas ambos se promovem mutuamente. Com a generalização do mundo virtual ter-se-á a definição das funções do livro de papel e do virtual. Cada um vai ter seu lugar cativo, cabendo ao livro de papel a posição que sempre mais se aproxima do documento primário, pelas características de concretude e segurança.

Escritores e editores precisam dialogar de forma criativa com a imprensa. Meras resenhas servem parcialmente à promoção do livro. Transformar o lançamento de uma obra em uma entrevista bem feita, é caminho mais objetivo e menos ilusório que a resenha, em geral pouco objetiva e confiável.   

 

n Qual é o papel que a religião deve exercer na vida das pessoas?

A religião, enquanto enfoca o homem nas suas relações temporais e transcendentais, tem uma definida e crescente função na vida humana. Ela é base da harmonia da identidade e da inter-relação humana, à qual dá definido conteúdo. A religião enquanto promove a livre relação do homem com Deus e de Deus com o homem, é essencialmente libertadora e geradora de uma cidadania responsável, pois o reino de Deus se constrói neste mundo. Religião não deve ser confundida como manipulação de sentimentos, arsenal de promessas, interesses econômicos e políticos. Religião é a livre e espontânea relação do homem com Deus.

 

n.Que mensagem  o senhor deixa como Patrono aos leitores, escritores, editores e a todos os amigos dos livros?

Os escritores são chamados a se voltarem a temas que respeitam as comunidades onde atuam, fazendo com que a cultura seja um quotidiano como a respiração e o alimento. O escritor é um plantador. Tem que saber qual a estação do plantio, qual o terreno e qual a semente para uma boa semeadura. Escritor que não cria leitor, é um sonhador desvinculado da realidade, que jamais chegará a ela. Os leitores acontecem a partir de ofertas que devem ser feitas por escritores, editores e livreiros, procurando envolver seu círculo de amizades,  e área de conhecimento; por editores, procurando pôr a público temas de interesse popular, como se fora uma culinária cultural; por leitores que mostram a necessidade de obras faltantes, de interesses de grupos, facções, áreas…; por amigos do livro que motivam afetos ao livro, seu cuidado e tratamento, sua leitura e análise. O leitor é o indicador dos caminhos do livro.

Ler remete à interioridade, e lança bases da identidade e da autonomia pessoal. Pode-se parafrasear com o dito sancionado pelo pensar comum – Diga-me o que lês e dir-te-ei quem és.

 

Etrevista a Cláudia Oliveira, para a newsletter da Editora da Ulbra

 

n.Depois de tantos anos como freqüentador da feira, como o sr. recebeu a indicação para ser o patrono do maior evento literário da América Latina?

 

Recebi a indicação como um reconhecimento ao meu trabalho de resgate dos antecedentes das imigrações no Rio Grande do Sul, enriquecidas por numerosas obras e textos que confirmam a documentação através da informação oral, com pitorescos acréscimos. Sempre fui à feira à busca de obras que não chegaram debaixo dos meus olhos no tempo útil, por isto foram jogadas aos balaios.

 

n.Vivemos um momento de crise e de falta de credibilidade nos políticos. Qual a relação que o sr. faz desse contexto com outro problema que é a falta de leitura do país?

 

 A falta de credibilidade nos políticos é algo aparente e passageiro. Causa impacto, passa e tudo volta na mesma. Os mesmos partidos, as mesmas pessoas se intercambiando nos mesmos cargos e cometendo as mesmas delinqüências. Os brasileiros ainda seguem cegamente seus partidos, tanto assim que o prestígio de certos políticos não caiu como deveria ter caído. O povo cria seus ídolos para enaltecê-los e não para acusá-los e/ou condená-los.

A leitura é o grande diferencial à formação consciente da cidadania. A falta de leitura e de cultura tornam as pessoas ingenuamente fiéis aos desmandos de suas facções. Ler é pensar e pensar é se comprometer, afirmar ou mudar, conforme a necessidade.

 

n.Por que as pessoas lêem pouco no Brasil?

 

O nível de alfabetização de grande parte dos brasileiros não é tal de permitir às pessoas lerem obras, nem mesmo as mais simples. O registro de vendas de 1,8 livros por pessoa ano, incluindo livros didáticos, no Brasil, está longe do Japão, por exemplo, onde a venda sobe a 11 livros vendidos por pessoa ano.

Outro fator da falta de leitura é a falta de oferta de livros para todos os níveis e idades, em todos os recantos. A maioria dos municípios não tem livraria e se as tem, em geral se trata de uma papelaria com alguns eventuais livros.

Os livreiros e editores deveriam propor às prefeituras a promoção e exposição de livros nos municípios com bons descontos, cabendo às prefeituras propiciar-lhes, em contrapartida, hospedagem. Se ria despertar para a leitura através da oferta. “Quem não é visto, não é lembrado.”

 

n.As editoras universitárias, na maioria das vezes, têm suas tiragens limitadas as suas comunidades acadêmicas. O que falta ao livro universitário para que ele ultrapasse os limites demográficos das universidades e conquiste novos leitores?

 

Os autores universitários, em geral, querem publicar obras de cunho acadêmico, geralmente monografias ou teses, e as querem publicar como academicamente foram elaboradas e apresentadas. Ora, há uma diferença fundamental entre uma tese acadêmica e a mesma transformada em livro, com linguagem adequada. As teses devem ser reescritas na maioria das vezes, retirando-se o que não interessa ao geral dos autores. Tudo o que na tese faz parte do treinamento acadêmico para a pesquisa, a metodologia empregada, os anexos, as tabelas e quadros comprobatórios e as infindas e geralmente inúteis notas de rodapé, confundindo ulteriores explicações e bibliografias, devem ser eliminadas no caso de publicação para o grande público. Que bom que muitas publicações acadêmicas não façam caminho, porque não merecem mesmo. 

 

n.Hoje em dia, as pessoas se sentem cada vez mais carentes e sozinhas. Que importância as publicações religiosas podem ter diante dessa realidade?

 

A religião acompanha o homem em suas indagações existenciais, coloca-o diante do seu futuro e do destino e intencionalidades que ele dá à sua vida e ação. Remete à própria identidade e coloca o homem do provisório frente ao perene e eterno. O homem sem religião, ao menos na forma de fidelidade à coerência interior, demanda pela consciência de qualquer ser humano,  fugiria às suas próprias condições de finitude e incompletude, mas destinado existencialmente à plenitude e completude em Deus, razão da encarnação do Verbo de Deus na natureza humana, para os cristãos, e do Deus criador e salvador para todos os homens.

Religião que remete o homem  ao seu papel de construtor de seu destino, fazendo sua parte, desencadeando seus carismas, com certeza que Deus fará também o seu papel, é o desafio constante que acompanha o verdadeiro progresso da vida humana. Religião fechada em si mesma, é mais opinião de verdade que verdade propriamente dita. O futuro se delinea como o mundo religioso e o mundo não religioso, entendendo por este o que segue os princípios de sua consciência e o que não se importa com eles. Em realidade se trata do homem que segue normas internas e o que não se importa com elas.  Com princípios religiosos facilmente se chega a acordos que fazem a vida avançar e se evitam equívocos antagônicos aos direitos humanos.

 

n.A superficialidade é característica em boa parte dos relacionamentos mantidos no cotidiano. Ao mesmo tempo em que o homem prioriza essa instantaneidade, ele deixa transparecer a sua falta de interesse em tentar descobrir o sentido das coisas. Poderíamos, então, afirmar que a filosofia está sendo esquecida pela sociedade contemporânea?

Todo o viver, hoje, demanda uma filosofia de vida concreta, que põe ao pé de igualdade princípios filosóficos e religiosos. A filosofia precisa se encarnar na realidade, como o centenário Jean Paul Sartre, com sua intempestividade e angústia tentou fazer. A filosofia precisa passar da discussão do sexo dos anjos, à discussão do sexo dos homens. O mundo meramente teórico é uma alma sem corpo. E a alma sem corpo perde a visibilidade necessária ao convívio e agir humano. Quanto maior o avanço científico da humanidade mais se desvela a importância do pensar e do crer, ou seja da filosofia e da religião.

 

n.O sr. sempre acalentou o desejo de escrever um livro de contos. No entanto, vários autores já tiveram seus sonhos realizados pela sua editora. Essa renúncia que o sr. fez a si mesmo pode ser explicada pela sua escolha de dedicar-se à religião?

 

Como franciscano sou desafiado a me colocar a serviço da comunidade como integrante de uma fraternidade e como pessoa. A fraternidade propõe o carisma da Ordem, que se aplica em cada situação através e com a embalagem específica do carisma pessoal de cada um. Eu não fiz propriamente renúncia a escrever contos, mas descobri que eu sou um conto-pessoa, que se satisfaz em relatar os contos dos outros. Os outros são nossos contos pessoa e experiência. Contar o que os outros contaram é também viver a vida que eles viveram, é sair de si mesmo e voltar para casa com os outros, dialogar e não monologar.

n.A sua formação religiosa pode trazer uma nova perspectiva a esta edição da Feira do Livro?

Não tenho a menor dúvida de que a feira terá uma tonalidade diferente, pois estou consciente do momento religioso ecumênico que vivemos, às vésperas do Conselho Mundial das Igrejas que se reúne em fevereiro com já 350 denominações escritas, em Porto Alegre. Como patrono, recebo felicitações e mensagens, praticamente todas com acento religioso. Isto me remte a privilegiar o diálogo religioso, que sempre é um diálogo feliz, livre e prazeroso. A religião é o pleno e livre prazer de viver.

 

n.Qual seria a(s) sua(s) dica(s) de leitura(s) aos visitantes da 51ª Feira do Livro?

 

A melhor maneira de ouvir a si mesmo é ouvir os outros. Então cada pessoa, olhe, ame, conviva com o livro como o faria com um amigo. A feira não é para compras definidas, mas primeiramente para um bom relacionamento com as diversidades de pensamento expressas nas diversidades de publicações. Ver, tocar, folhar livros de interesse mais imediato ou mais remoto faz parte do modo de festejar o livro e seus autores. O que se vê hoje, pode vir a mente para ser lido amanhã. Curtir a Avenida Sepúlveda, a Praça da Alfândega, o Cais do Porto, a Rua do Livro, a Bienal, as exposições, apresentações, fóruns, conferências… são diferentes maneiras pelas quais, no curso do ano, o livro poderá ser produto contemplado no orçamento familiar.

A Praça da Alfândega será a praça do livro, das culturas, etnias, crenças, onde somos chamados a nos comunicar com os irmãos como livros vivos, de páginas abertas para sermos lidos pelos irmãos, constituindo, assim, o mundo fraterno que desejamos.

O simples mostrar aos amigos os livros  comprados é atestar o próprio mundo desejado.

 

Entrevista a Ibanor Sartor, do Correio Riograndense:

 

n.Nascimento: (Data e local)

Nasci em Bento Gonçalves, no hospital, e fui registrado em Veranópolis onde fui amamentado e sempre vivi. Mas minha identidade é de Bento Gonçalves. E a indicação de patrono foi no dia 11.10.2005, quando Bento completava 115 anos de município autônomo.

 

n.Número de obras editadas até agora pela Est

Em Janeiro de 1973, com a publicação de Psicologia da Fraternidade Religiosa, de minha autoria, nascia a EST, com já publicados 2600 títulos entre edições e co-edições.

 

n.A maioria (ou a quase totalidade) resgata aspectos da história da imigração européia – costumes, idioma (Talian) etc… Esta é uma área aida com muito espaço para ser explorado culturalmente?

EST significa é, terceira pessoa do presente do verbo ser. Dedica-se à realidade como ela é, abdicando em geral de interpretações, mas não criar limites às diferentes percepções. Italianos, judeus, africanos, alemães, poloneses e portugueses de extração açoriana, em conjunto ou separado, são os temas étnico-culturais privilegiados pela EST. São temas sempre mais procurados com a entrada no campo da história, das co-irmãs antropologia, sociologia e teologia.

É uma literatura popularmente procurada, mas que está entrando com clareza e segurança no mundo acadêmico também.

 

n.Um frei como patrono de uma feira do livro da dimensão da de Porto Alegre tem algum significado especial?

 

Sempre fui percebido e tratado como frei, com ou sem batina, com ou sem barba, rezando uma missa, abençoando um matrimônio ou contando uma piada. Todo mundo gosta do Chico e dele conhece um pouco. Vou fazer da feira um encontro com a natureza entre os jacarandás da praça da alfândega e com as pessoas de todos os credos e culturas.

 

n.E o senhor, que tem demonstrado sempre bom  humor quando fala da Feira, como se sente agora?

Satisfeito em por em prática aquilo que aprendi em minha infância teológica  – de que temos duas fontes de revelação: a Bíblia e a tradição. A Bíblia é a palavra escrita e a tradição é o boca a boca das comunidades. Eu estou colocando no papel o boca a boca das comunidades, a maneira como no curso dos tempos o livro-Bíblia se tornou palavra viva na boca dos homens que buscam a verdade.

 

n.Quantas bibliotecas o senhor já criou?

Por ora instituo acervos de etnias em bibliotecas públicas. No futuro, serão acervos de religiões e etnias, pois a religiosidade é a força motora do povo. Em Porto Alegre, meus acervos estão estão no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, no Museu Antropológico do Rio Grande do Sul. Em São Paulo, no Seminário Maior Diocesano de Filosofia, na Fundação Lorenzatto de Pinhalzinho. No Rio grande do Sul, nos municípios de Nova Prata, São Marcos, Ibiraiaras, Caxias do Sul, Hotel Dall’Onder de Bento Gonçalves, Sociedade Italiana de Carazinhmo, Ibirubá, Sarandi, Três de Maio, Teutônia, Progresso, Novo Hamburgo,  e pequenos acervos em uma dezena de outras  municípios.

 

n.Quando pretende atingir o objetivo de criar 100, cada uma delas com 1.000 livros ?

Quando encontrar comunidades que aderirem à minha idéia de arregimentar pessoas comprometida com a vida, cultura e história de nossas comunidades em todos os aspectos. Há que se ensinar a pescar, e as pessoas têm dificuldade de aprender. 

 

n.Gostaria de uma posição sua sobre feiras do livro em geral – elas realmente facilitam o acesso da população à leitura; elas despertam interesse pelos livros; elas ajudam com os preços 20% mais baratos?

 

Desde a primeira feira do livro, de 16 de novembro de 1955, com descontos de 20 a 80%, as feiras foram atrativos para compras e vendas de livros. Os livreiros tinham que se munir de livros uns dos outros para aumentar o seu estoque e sua gama de ofertas. Criou nova relação entre livreiros e despertou no público um apetite cultural. Quem vai à feira, nem que seja um livro de um ou dois reais, nos balaios, vai comprar e, certamente, vai ler, porque foi atraído pela curiosidade cultural. A feira de Porto Alegre, hoje, é uma feira cultural com inúmeras atividades paralelas, preparativos que envolvem livreiros, editores e intelectuais durante todo o ano. Eu não tenho livro para autografas nesta feira, mas tenho dois em preparo para a feira do ano que vem. E assim às dezenas são os pesquisadores e escritores, sem contar os lançamentos diários durante o ano de ao menos um livro na cidade de Porto Alegre. Os que não são lançados, são resenhados em jornais e revistas.

 

  

n.Se o senhor estiver muito cansado, responda as que são mais fáceis de responder. Mas se estiver disposto e quiser ampliar o quadro de respostas, acrescentando as que eu não fiz, fique à vontade.

 

O Correio Riograndense foi por muito tempo o único veículo de leitura para muitas comunidades. Agora, ao seu lado estão os livros, outros jornais e revistas. Sem os veículos de comunicação, o mundo do livro nasce e morre em silêncio. A imprensa precisa descobrir o valor dos livros como material essencial de comunicação. Uma entrevista baseada num livro de publicação atual ou passada, remete a um pensamento já consolidado e pensado. A imprensa criativa retoma a literatura, trazendo a palco seu autor, levando-o a se auto-avaliar e auto-avaliar sua obra, acenando nos horizontes para a vida, história e cultura.

 E os jornais têm que valorizar a si mesmos. Dar perenidade a seriados, textos, notícias que sobrevivem ao tempo, através de obras impressas em papel ou eletronicamente. Deletar o preconceito que afirma – Nada mais antigo que o jornal de ontem.

 

O livro virtual também é livro. A informática leva o livro ao cliente, nunca se escreveu tanto como depois da generalização da informática. O livro de papel sempre vai ser importante, porque é o pensamento sob a forma de concretude, do antes e do depois, da página adiante e da página atrás, do capítulo, parágrafo determinados…

 

Os que dizem que puxar textos da intenet elimina a leitura e a pesquisa estão equivocados, porque encaminha à leitura e pesquisa. É seu início, cujo arranque poderia ser dado por um dicionário ou uma enciclopédia. Quem puxa da internet um texto para sua tese ou trabalho acadêmico, terá que lê-la ao menos duas vezes: a primeira, para saber se aquele conteúdo serve para seu trabalho; a segunda, para adaptá-la à sua finalidade. E uma terceira se impõe para a revisão final e posterior impressão do trabalho.

 

A leitura que faz o leitor é a que brota da curiosidade. A leitura imposta sem a devida motivação e aceitação pode ser a que põe em estado terminal um possível bom leitor. O bom texto não é o que está na cabeça do professor, do escritor, mas o que responde à compreensão, gosto, prazer do leitor.

 

A leitura modifica o pensar e o agir de forma imperceptível, mas segura.

O livro é o relicário da palavra, e a palavra tem poder de vida e de morte. Por palavras simples e concisas Deus fez cada umas das coisas, e a nós à sua imagem e semelhança e Cristo, a palavra viva do pai se fez natureza humana. Por palavras nós expressamos amor e ódio, condenação e salvação. Começamos uma guerra e decretamos a paz. A palavra é o grande poder do homem. Poder decisivo que liberta ou condena.

Obrigado por permitirem dizer a minha palavra também  -“Deus abençoe e proteja a todos!”