“Nós somos totalmente contrários ao ‘ius soli”. Para os imigrantes poderia ser aplicada também o ‘ius culturae’ no caso em que alguém que, indo à escola na Itália durante um tempo determinado, e depois escolhe se quer a cidadania ou não. Mas nós somos totalmente contrários ao ‘ius soli’. E esta é uma grande diferença entre o PD e o Maie. Quando um italiano que vive na América Latina vota PD ou vota Maie deve saber que esta é uma das grandes diferenças”.

O argumento é do senador Ricardo Merlo, provocado por Insieme no dia em que o assunto ‘ius soli’ volta ao debate na Itália, com a eleição de Enrico Letta para a secretaria geral do PD – Partido Democrático. Em seus pronunciamentos antes da votação, o ex-primeiro ministro italiano anunciou, além do diálogo com o “M5S de Conte”, o relançamento do debate sobre o ‘ius soli’ – um tema que causou muita polêmica no final da legislatura anterior. O assunto mereceu destaque nas páginas do jornal ‘Corriere della Sera’. Letta defende também o voto aos menores de 16 anos.

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“Creio que seria uma boa coisa se o governo Draghi, o governo do ‘todos juntos’, sem polêmicas, fosse aquele de uma normatização sobre o ‘ius soli’ para a cidadania. É uma norma de civilidade”, disse Letta, sendo prontamente respondido por Matteo Salvini, o líder da Lega que também integra o atual governo: “Letta e o PD querem relançar a cidadania fácil para os imigrantes?””

“Se o novo secretário – acrescentou Salvini – volta de Paris e começa assim, começa mal. Resolvamos os mil problemas que os italianos e os estrangeiros regulares têm nesse momento, e não percamos tempo com bobagens”.

Na mensagem a Insieme, Ricardo Merlo enfatizou que enquanto o Maie esteve no governo, garantiu que o ‘ius soli’ não passasse; se o Maie está no governo, isso não passa”.  O fundador do ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’ acha que o momento não comporta o debate proposto por Letta. “Não acredito que existam condições para isso agora, durante esta legislatura. Porém, é preciso entender que a posição do PD é esta. É legítima, mas, no debate que fazemos, nós estamos do outro lado: defendemos os italianos no exterior e o ‘ius sanguinis'”. Merlo desejou a Letta bom trabalho à frente do PD “pelo bem da Itália”.

Insieme também consultou o coordenador do PD na América do Sul, o ex-deputado Fabio Porta, que se encontra na Itália. Ele definiu Letta como uma “personalidade importante do PD, estimada na Itália e no mundo”, com o qual “o nosso partido se propõe à liderança da futura coalisão de centro esquerda que se apresentará nas próximas eleições para o governo da Itália – um projeto muito parecido com o ‘Ulivo’ de Romano Prodi”.

Segundo Porta, o ‘ius soli’, que na proposta do PD “seria melhor denominar de ‘ius culturae’, pois prevê a cidadania para os filhos de pais regularmente residentes na Itália ao completarem um ciclo de estudos em nosso país, não é uma novidade”. “Nós, do PD – aduziu Porta – sempre defendemos que o ‘ius soli’ não substitui, mas se acrescenta ao ‘ius sanguinis’, assim como ocorre em outros países europeus como a Alemanha e a Espanha, e que emigração e imigração constituem duas extraordinárias oportunidades para a Itália, país com a maior recessão demográfica na Europa”.

O ex-deputado assegura que “nossa diferença com a direita é a ênfase na inclusão: para nós, os fluxos migratórios constituem fator de crescimento e desenvolvimento das nações (como nos ensina a história da emigração italiana no mundo), enquanto a direita responde a esses fenômenos construindo muros e multiplicando os preconceitos. Um exemplo foram os “decretos de segurança” da Lega de Salvini, que tornaram complicada a vida dos ítalo-brasileiros que iam à Itália para reconhecer a cidadania, tornaram mais difícil e demorada a cidadania por matrimônio e estendeu os prazos para a definição dos pedidos de cidadania. Estes são fatos que todos conhecemos”.

Por fim, Porta lembrou que Letta, há sete anos vivendo na França, “hoje dirigiu uma saudação emocionada e reconhecida aos italianos no exterior, dizendo que também ele é um deles”. Esta é a primeira vez – concluiu Porta – “que um líder de um grande partido se dirige dessa forma aos italianos no mundo num discurso de posse – um sinal muito bonito”.