Longa “Brava Gente Italiana” tem sessões especiais antes de entrar no circuito comercial

O documentário longa-metragem “Brava Gente Italiana”, dirigido e montado por Sergio Sbragia, tem sessão especial para convidados nesta sexta, a partir das 20h30min, no Espaço Itaú de Cinema, sala 3, do Shopping Crystal, em Curitiba. Produzido por Carlos Moleta, o filme tem por base o livro “Casal da Capelinha da Água Verde”, de Susete Moletta, e lança luzes sobre aspectos da imigração italiana, especialmente no Paraná.

O filme foi rodado  em 2012 em Curitiba, Colombo e São José dos Pinhais, no Paraná, e em diversas localidades da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, além de algumas localidades da Região do Vêneto, na Itália. Em Colombo, a sessão de lançamento acontece nesta quinta-feira, a partir das 19h30min., no anfiteatro da Paróquia Nossa Senhora do Rosário. Já lançado no Rio de Janeiro, o documentário deverá entrar brevemente no circuito comercial dos cinemas das regiões Sul e Sudeste do Brasil.

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Navegando com facilidade sobre o assunto, Sbragia lembra que é filho de italiano: “meu pai é um músico toscano, de Lucca, que imigrou em 1947, depois de passar dois anos como prisioneiro na II Guerra Mundial. Ele veio para o Rio de Janeiro e trabalhou 35 anos na Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde era o primeiro contrabaixista. Ele ainda está vivo, apesar de muito doente, com 97 anos. Renato Sbragia, é o nome dele, fundou aqui no Rio a Associazione Lucchesi nel Mondo”.

O diretor explica que, no total, foram três semanas de filmagens entre Paraná e Rio Grande do Sul, com uma equipe brasileira: André Luis da Cunha, o fotógrafo; Marcos Manna, o técnico de som direto; e Tanise Marchesan, assistente de câmera. Já na Itália, foram quatro dias de pré-produção e uma semana de filmagem e a equipe de dois romanos: Michele Cinque, o fotógrafo; Alessandro Lunardi, o técnico de som direto.

Antes de filmar – explica Sbragia –  “eu fiz uma viagem preliminar aos locais de filmagem, para escolha dos personagens do filme. Fizemos inicialmente uma semana de filmagem em Colombo, Curitiba e Pinhais, e outra semana em Garibaldi, Carlos Barbosa e Caxias do Sul. Passou um tempo, houve a filmagem na Itália, e meses depois, mais uma semana de filmagem no Paraná, para encerrar”.

A trilha sonora do filme, quase toda de canções vênetas, inclui, segundo o diretor, “uma belíssima canção (“Bisogna ricordarsi dei nostri bisnoni“), composta em dialeto vêneto pelo músico gaúcho Valmor Marasca, que também é personagem do filme. Ela foi gravada numa igreja rural da Serra Gaúcha com o acompanhamento dos Canarinhos de Carlos Barbosa. No Paraná, “tivemos a ajuda inestimável da Angela Mottin, de Colombo, como apoio de produção. Ela nos abriu as portas de muitos dos principais personagens do filme”.

Pelo filme passeiam pessoas simples, gente que vive no dia-a-adia a sua cultura italiana. Veja outras considerações sobre o filme que dirigiu:

• A Susete Moletta, autora do livro, é também personagem do filme e é mostrada em sua busca incessante – em arquivos laicos e paroquiais da região de Bassano – para conhecer a história de seus antepassados. É um trabalho que ela realiza como uma missão divina, guiada pelos tataravós.

• Em Colombo temos muitas histórias, como a de Pedrinho Strapasson, cujo bisavô trouxe as mudinhas de videira e plantou nas mesmas terras onde ele ainda hoje cultiva e produz vinho.

• Ou a família Lunardon, há várias gerações responsável por tocar os sinos da Torre da Igreja da Colônia Faria, uma família que mantém viva a fé católica de seus ancestrais. Um casal Lunardon de Marostica, na Itália, conta como era a realidade da região, na época em que alguns dos Lunardon emigraram para o Brasil.

• Outro entrevistado é o Ivanor Minatti, do Círculo Trentino de Curitiba. Gravamos com ele e com um grupo que estava em Pádova, e acompanhamos em especial um desses descendentes brasileiros em busca de suas origens italianas – o Orildo Mascarello. Ele foi a uma cidadezinha de origem dos Mascarello, e documentamos o encontro dele com um Mascarello italiano, em Mura di Molvena, próximo a Bassano del Grappa.

• Um outro ponto alto do filme é um almoço de domingo na casa das irmãs Alberti, uma família vêneta de grande descendência. O macarrão e a polenta cortada a fio. Toda a sabedoria e a infância dura das nonnas.

• Nós gravamos com o Marasca e com os Canarinhos de CB, na companhia da turma da “Sexta-feira Alegre”, uns quinze respeitáveis senhores de Garibaldi que se reúnem para magnífcas noitadas de boa comida, vinhos, música e alegria. Tem também uma música do “Vanti in Drio” grupo de teatro e música.

• A cultura italiana permanece muito viva nas regiões onde se cultiva a uva e se produz o vinho, tanto em Colombo, como em Garibaldi. Mais ainda no Rio Grande do Sul, onde o dialeto vêneto é uma língua viva, falada nas casas, nas ruas, onde há grupos musicais e teatrais com repertório na língua vêneta. O Marasca é um expoente desses artistas que produz cultura vêneta.

• Em Forqueta, RS, uma bela história com belos personagens: os irmãos Onzi. Sabrina com 14 anos foi ser modelo em Nova Iorque, ganhou dinheiro, teve muitas chances, mas largou tudo e gosta mesmo é de ficar perto dos pais, que tem uma bela empresa familiar de produção de vinho (produz quantidade considerável para uma empresa familiar). O irmão de Sabrina, um “bel raggazzo”, também trabalhou em temporadas da São Paulo “Fashion Week”, mas não aguentou mais de duas e hoje tudo o que quer é trabalhar com o pai, viver ali, e tocar a plantação de uva e a produção do vinho.

MERGULHO NAS RAIZES – Sbragia explica que a história do filme é contada, não por historiadores ou especialistas, mas pelos descendentes dos protagonistas dessa história. É um filme – diz ele – com personagens cativantes, muita música, risadas e lágrimas: “Eu fui convidado a dirigir o documentário “Brava Gente Italiana” pelo produtor do filme, Carlos Moletta. Tive uma boa experiência de trabalho com ele, anos atrás, quando montei um filme de ficção que ele havia produzido. Quando ele me chamou – o fato de ser filho de italiano e falar o idioma – também foi um fator que contribuiu para o convite – já havia iniciado o projeto, mas num outro formato, de docu-drama, com outro diretor, mas a coisa não foi adiante. Quando entrei para o projeto, resolvemos modificá-lo e fazer um documentário de personagens. Ele me deu liberdade total de criação e eu comecei a pesquisa do zero. Viajei sozinho de início, conhecendo os locais e pessoas que depois viemos a filmar. Todo esse processo, desde a pesquisa, passando pela filmagem e edição, foi pra mim uma viagem existencial, um mergulho nas minhas raízes, ainda que a história dos imigrantes vênetos não fosse exatamente igual à do meu pai toscano, que veio para o Brasil depois da Segunda Guerra Mundial”.

O diretor considera que o processo de finalização, como em geral qualquer documentário, é uma fase que requer meses de muito trabalho e dedicação. Assim, “apesar das limitações do orçamento – os recursos financeiros se esgotaram em meio à montagem – conseguimos chegar ao fim. Conseguimos parcerias para fazer a colorimetria e a mixagem do áudio, além da codificação nas várias mídias de exibição, incluindo o filme digital para salas de exibição comercial. “Quando eu entrei, acertamos um cachê (modesto) e eu comecei tudo do zero, sem nem tomar conhecimento das despesas totais. Na parte de finalização o dinheiro acabou e eu tive que investir recursos próprios e trabalho, tornando-me co-produtor do filme. Para a mixagem e codificação/copiagem o Moletta fez acordos e vamos pagar adiante”.

No fim, sentimento de dever cumprido!? O diretor responde: “O sentimento ao final do trabalho é o melhor possível. Temos som e imagem de ótima qualidade. Fizemos uma primeira sessão para convidados, e a reação da platéia, que se divertiu e se emocionou, nos deixou muito satisfeitos. Agora o filme segue para a exibição em salas comerciais de cinema. O objetivo é distribuir o filme em cinemas do sul e sudeste do Brasil, preferencialmente. E nosso público alvo é a população de descendentes de italianos no Brasil, um número nada desprezível de 30 milhões de pessoas. Mas o filme interessa também aos descendentes de imigrantes de qualquer outro país, o que no Brasil, é quase toda a população”.

E acrescenta: “Gostaria de dizer que o documentário tem dois ganchos importantes com a realidade. Primeiramente, a Imigração Italiana no Brasil está comemorando em 2015, 140 anos. Os processos migratórios, em todo o mundo, quase sempre tem a mesma causa: guerras, fome e miséria. Foi assim no século XIX na Itália, e ainda hoje, esse é um dos maiores problemas do nosso planeta”.