O senador Fausto Longo (Foto Desiderio Peron / Arquivo Revista Insieme)

Afirmando que, “em todos os continentes, os eleitores votaram conforme a tendência de seus representantes”, o senador Fausto Longo (PSI – Partido Socialista Italiano) classifica como “muito significativo” para os italianos  o exterior o resultado que garantiu a “permanência das respectivas representações parlamentares”, isto é, na Câmara e no Senado da República italiana, onde ele ocupa uma cadeira.

Longo, durante a campanha, advogava o voto pelo ‘Sim’ que, se vitorioso, teria colocado fim a seu próprio mandato. Entretanto, ele acha que Renzi não deveria ter renunciado. Mais: “O direito de voto para os italianos no exterior nunca esteve ameaçado nem pelo sim,  nem pelo não, assim como o direito à cidadania dos seus  descendentes”.

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Como democrata, ele diz que aceita pacificamente o resultado, até mesmo porque, segundo explica, durante os debates, sempre defendeu a representação dos italianos no exterior no Senado. Para a Itália, entretanto, ele tem uma visão um pouco diferente do resultado final do Referendum. Acha que foi “pior para a Itália”.

Quanto à possibilidade de participar como candidato nas próximas eleições, que imagina deverão acontecer dentro dos próximos seis meses, o senador Fausto Longo se coloca como um homem de partido: dependerá do que decidir sua agremiação partidária. Mas, ao contrário do que afirmava anteriormente, sem negar que seria candidato, assegura que “estaremos à disposição dessa decisão” do PSI. Confira a entrevista exclusiva que concedeu à redação da Revista Insieme.

Venceu o Não. Melhor, ou pior, para a Itália?

Creio que nem mesmo o tempo poderá nos dar essa resposta, até pela impossibilidade de comparação. Mas, em minha opinião, pior para a Itália. Nós acreditávamos que a reforma pudesse levar o país à superação de arestas burocráticas que, historicamente, afetam a performance de ambos os ramos do parlamento. Também acredito que perdemos uma bela oportunidade para garantir um processo de maior representação das respectivas regiões na defesa de seus interesses, afinal é ali que se produz e se arrecada para compor os recursos da nação. Claro que não existe um sistema perfeito, mas os italianos decidiram por deixar as coisas como estão e nós, como não existe meio-democrata, e sendo democrata por inteiro, democraticamente acatamos a soberana decisão e continuaremos tentando contribuir para uma Itália melhor.

Que significa para os italianos no exterior este resultado?

Primeiro que “jamais antes na história desse país” a comunidade italiana no exterior inspirou tantas preocupações como nessa ocasião. A mídia interna fez questão de ressaltar o “perigo” da influência do voto externo nos resultados do referendum, para o bem ou para mal, conforme a tendência de cada veículo. O fato é que o resultado garante a permanência das respectivas representações parlamentares eleitas no exterior, fato positivo e muito significativo para os italianos que vivem além-fronteiras territoriais. Cabe ressaltar que, em nossas emendas, no período em que se discutiam as reformas em plenário, lutamos pela manutenção dessa representação em vão, porém, posto que no contexto do novo formato do Senado não haveria lógica considerar a América Meridional ou outros continentes como regiões italianas, obviamente. O resultados demonstram, também, uma homogeneidade no pensamento do italiano que vive no exterior e um certo alinhamento com a linha adotada pelas respectivas representações parlamentares, afinal, em todos os continentes os eleitores votaram conforme a tendência de seus representantes.

Como interpreta a participação dos eleitores no exterior, especialmente os do Brasil?

Primeiro, como já afirmei, houve forte alinhamento com as tendências dos representantes eleitos, que, quer se aceite ou não, influenciam grande parte do colégio eleitoral, afinal são uma espécie de elo de ligação e formação da opinião. Em segundo , o resultado reflete que o exercício do voto mais livre, sem a pressão cotidiana de uma campanha que revelou paixões e ódios inaceitáveis de ambas as partes, o resultado pôde ser mais racional, menos passional. Embora a fragilidade quanto a compreensão da realidade política, penso que a grande maioria dos eleitores buscou informar-se via as diversas mídias, instituições e lideranças para avaliar e decidir sobre seu próprio voto. Particularmente, em relação ao Brasil, creio que o clima tenso e também passional que vivemos em relação ao comportamento da classe dirigente política, os últimos acontecimentos envolvendo praticamente todos os escalões e níveis do poder público local, influenciou sensivelmente a decisão do colégio eleitoral, ou seja, se a proposta envolve o encolhimento das estruturas políticas, do parlamento, do número de parlamentares, eliminação de instâncias burocráticas, é o tipo de discurso que agrada hoje o público brasileiro, portanto ter a oportunidade de votar por reformas que tenham esse contorno, certamente favoreceu a expressiva votação pelas reformas constitucionais.

Os defensores do Sim falavam que, prevalecendo o Não, viríamos a ter problemas no exterior, tipo fim do direito de voto, continuidade das filas e coisas do gênero. Acredita em castigo?

Creio, posso estar equivocado, mas, sempre defendi o “Sim”, sem citar os defeitos ou qualidades do “Não”. Aliás, em política, principalmente, as pessoas, candidatos e  líderes, perdem muito tempo tentando destruir os adversários quando, fariam melhor, gastar seu tempo defendendo suas próprias ideias, projetos e propostas. O direito de voto para os italianos no exterior nunca esteve ameaçado nem pelo sim,  nem pelo não, assim como o direito à cidadania dos seus  descendentes. Uma coisa é certa, a comunidade italiana do exterior teve a oportunidade de demonstrar sua importância, embora em números relativos o impacto nos resultados não tenham ameaçado a decisão dos italianos que vivem no território, a mídia e os adversários promoveram nossa comunidade no cenário político e institucional do país. Acho que todos devemos ter a maturidade para compreender o momento que o mundo atravessa, tanto no plano econômica como no plano ideológico, ou seja, onde estamos, para onde vamos, de forma a garantir estabilidade, desenvolvimento e dignidade para humanidade, penso que nenhum verdadeiro líder se colocaria nas vestes de carrasco para vingar-se ou castigar quem quer que seja. Seria uma tremenda ingenuidade analisar nossa realidade a partir desse tipo de ponto de vista.

A representação parlamentar na área da América do Sul/Brasil, toda ela vinculada ao Sim, passa agora à oposição?

Como já disse antes, não existe meia democracia, democracia se faz por inteiro e se respeita. O que estava em votação era um projeto de reforma constitucional e não um processo eleitoral. O resultado, democraticamente aceito, rejeitou a proposta e não a continuidade do governo. O chefe de estado tomou a decisão de demitir-se por considerar uma derrota pessoal, decisão que contesto politicamente, mas se o fez, está feito, o momento pede que nos concentremos no melhor para a Itália e não em pessoas ou tendências eleitorais.  Votamos rapidamente o conjunto de leis que garantem a aplicação orçamentária para 2017 e para o triênio 17/19, bem como o decreto do terremoto, a fim de permitir a governabilidade do país. Não é hora de falar em oposição ou não, mas de dizer, sem demagogia ou paixões exacerbadas, um grande sim ao futuro de nosso país.

Aposta na antecipação de eleições? Seria candidato e a quê?

Aposto no bom senso, ou seja, ir às urnas com as atuais regras não seria inteligente, penso que devemos realizar o aperfeiçoamento da lei eleitoral, dar homogeneidade ao processo de eleição seja no Senado como na Câmara, dar a devida tranquilidade para uma eleição verdadeiramente legítima que devolva ao povo italiano a possibilidade de acreditar e crer nas instituições republicanas e no fortalecimento de sua vocação democrática. Creio que, com vontade política e empenho, em seis meses se consiga dar o contorno legal para um novo processo eleitoral.

Sou membro de um partido político, PSI, Partido Socialista Italiano, sendo seu Coordenador para a América Meridional. Evidente que, enquanto partido iremos participar do processo eleitoral, seja antecipado ou não. Quanto à uma possível nova candidatura, devemos considerar o propósito e o entendimento da Secretaria Geral do PSI, assim como, o entendimento que percorre os acordos e alianças partidárias que ainda vigoram, tal como a Alleanza PD-PSI. Nesse contexto, logicamente, estaremos à disposição dessa decisão.