Enquanto trocam farpas nas redes sociais em decorrência de posições divergentes a respeito da abordagem do problema das “máfias da cidadania”, eles conseguem convergir numa proposta em busca da solução para o problema: o envolvimento das associações italianas – na Itália e no Brasil – num projeto de turismo de retorno, que levasse os pretendentes ao reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue à sua terra de origem, onde teriam a simpatia de províncias, regiões e municípios.

Tanto o deputado Luis Roberto Lorenzato (Lega) quanto o ex-deputado Fabio Porta, atualmente secretário do ‘Partito Democratico’ no Brasil, pensam assim. A convergência de ideias revelou-se casualmente, durante entrevistas concedidas ao editor de Insieme, semana que passou, na sequência de informações de novas prisões na Itália de pessoas envolvidas na chamada “máfia dos coiotes”, em cuja investigação também a Polícia Federal brasileira anunciou entrar.

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O problema se resume aos milhares de ítalo-descendentes que vão à Itália para obter o reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue, muitos deles envolvidos com “assessores” desonestos que, além de organizar endereços de aluguel, chegam a falsificar documentos. Mancomunados com funcionários italianos, algumas dezenas deles foram presos ultimamente.

“O que eu aconselho  – diz Luis Roberto Lorenzato – como parlamentar e como ítalo-brasileiro: você que se sente italiano quer a cidadania italiana, primeiro tem que ver na cidade de onde vieram seus avós,  seus parentes, sem intermediários”. Segundo ele, todos os municípios da Itália estão sob suspeitas. “Então, quando você chega aqui, você já é mal visto devido às más pessoas que cometem crimes aqui na Itália”.

“Minha sugestão – prossegue – é que os interessados devam contatar as associações que, por serem reconhecidas pelo governo italiano, possam realizar uma interlocução com a sede, na Itália, e com essa espécie de certificação de que você é um membro da comunidade italiana, você possa vir à Itália de forma não marginalizada, mas com o apoio das associações. Então minha sugestão é que façamos uma ‘task force’ envolvendo todas as associações para ajudar nossos concidadãos, para que eles não sejam marginalizados aqui na Itália”.

Também Fábio Porta tem proposta parecida: “É exatamente esta linha que nós temos que seguir – disse o dirigente partidário, que na semana passada esteve na Itália participando de seminários e encontros para estudar – , “não somente o turismo de retorno, o turismo das raízes, mas também as possibilidades de oferecer um intercâmbio contínuo entre jovens gerações de italianos no exterior e jovens da Itália que queiram passar algum tempo no exterior”.

“Penso – disse ainda Porta – que é possível, numa discussão séria sobre a cidadania, envolver as associações e pequenas municipalidades de todas as regiões da Itália para construir laços entre as famílias, entre os municípios, para a busca das origens e da cidadania, criando oportunidades de trabalho, de estudos, de conhecimento. É um potencial extraordinário que nós temos”.

Porta acrescentou: “Eu esperaria isso de nossas instituições, e não somente tratar do que acontece entre a Itália e o Brasil quando temos algum evento, de um lado ou de outro, ligado a questões negativas. Se fala das relações entre os dois países quando temos que prender o Cesare Battisti, de um lado, ou quando temos que acabar com a máfia dos coiotes de outro, e raramente vejo falar das relações Italia-Brasil em termos de valorização da nossa grande comunidade italiana”.

Embora com posições convergentes sobre esse tema, Porta e Lorenzato trocaram duras palavras nos últimos dias através das redes sociais. Tudo começou quando o debate derivado de suas posições acerca das prisões de integrantes da “máfia da cidadania”, publicadas por Insieme, alcançou as redes sociais. Porta, entendendo que é preciso combater o crime denunciado na área, manifestou-se contrariamente ao que ele chama de “processo de criminalização da cidadania” italiana por direito de sangue, e acusou o atual governo de não estar dando atenção à solução do problema em sua origem, isto é, à solução da “maldita fila da cidadania”, embora existam os recursos assegurados pela “taxa da cidadania”, antes combatida por adversários políticos como o atual subsecretário para os Italianos no Mundo, o senador Ricardo Merlo.

Segundo afirma Porta, as dificuldades para o reconhecimento da cidadania “iure sanguinis” estão sendo progressivamente aumentadas pelo governo atual, pois sua intenção real seria mudar a lei atual – “exatamente o contrário do que o senador Ricardo Merlo está dizendo”. Porta acusa o atual governo de estar fazendo nada para a solução, não apenas das filas da cidadania, mas também das filas dos passaportes.

O deputado Luiz Roberto Lorenzato contra-atacou: “A fila tem 12 anos em SP. Estamos há nove meses no governo e quem criou e centralizou a fila foi o PD com seu exército de esquerdistas burocratas que até hoje controlaram o Ministério das Relações Exteriores! O PD criou esse monstro!”. Respondendo a alguém que perguntou “o que está sendo feito com os milhões de euros que chegaram nos consulados no ano passado”, Lorenzato afirmou que “a lei feita pelo PD diz que os valores só podem ser utilizados em reformas dos prédios dos consulados! Um absurdo!”

O ex-deputado Fabio Porta entrou no debate para dizer que “podemos polemizar e até ter pontos de vistas diferentes mas temos que respeitar a verdade”. E explicou que “a lei – que é da autoria dele – estabelece que o dinheiro oriundo dos 300 euros seja revertido por um terço aos Consulados para contratação de pessoas e melhorias do atendimento com a única finalidade de acabar com a fila da cidadania”. Em seguida, Porta publicou o texto da lei. “Não gosto de “fake News” e não podemos alimentar falsidades e confusões”, escreveu.

Ante a réplica de Lorenzato, insistindo que “os processos de cidadania só podem ser verificados por funcionários de carreira”, Porta voltou à carga para pautar a ação do parlamentar da Lega: “com prazer vejo que o deputado admitiu que a lei não fala de reforma mas de contratação de funcionários. Então pediria para ele de agir no âmbito parlamentar e de governo para que: a) os novos funcionários “di ruolo” contratados (600 nas ultimas duas lei orçamentarias) sejam destinados principalmente ao Brasil e aos países de grande presença italiana; b) apresentar uma emenda que favoreça a utilização destes recursos para a contratação de pessoal “di ruolo” e não somente temporário; c) fiscalizar para que estes recursos não seja utilizado de forma impropria e contra o que está claramente escrito na lei”.

Como resposta, Lorenzato sugeriu a Porta pedir ao PD, “com seus senadores e deputados,  [para] denunciarem todos dos cônsules por descumprimento legal”. E desafiou: “Tem peito? Já que a sua Lei está tão clara, o não cumprimento é crime, Fábio Porta!” E mais: “Blá, blá blá é fácil! Por que não fez e não faz com seu partido de esquerda, o PD?” E ainda: “não esquece de processar o Ministro das Relações Exteriores ok!!! Blá blá blá”.

O debate prossegue e Porta intervém outra vez: “Estou tentando trocar ideias e propostas de forma pacata e educada. Lhe peço a mesma gentileza. Não é lugar nem momento de fazer propaganda politica. Temos que encontrar respostas para um problema de toda a comunidade italiana no Brasil”.

No meio de tantas opiniões e acusações, o internauta Caio Saverio faz mais uma: “A grande pergunta é por que os senhores políticos não representam contra os consulados e os cônsules no Ministério Público? Seja pelo descumprimento da lei da cidadania, seja pelo desvio de finalidade do dinheiro da taxa? Até quando o cônsul Festa, de Curitiba, vai usar o dinheiro para festa?”