“Eu estou aqui para escutar, mais do que que falar. Eu posso tentar responder as perguntas que seriam seguramente muito pontuais da nossa comunidade, mas, no geral, eu devo ver como estão as coisas nos vários Estados, sobretudo nos Estados onde temos grandes comunidades”. As palavras são de Francesco Azzarello, Embaixador da Itália no Brasil.

Desculpando-se pelos erros de português, Azzarelo, concedeu entrevista coletiva à imprensa em Curitiba-PR na manhã da última segunda-feira (24). Na entrevista ele falou exclusivamente em português e disse que está frequentando aulas para aprender a língua. Foi seu primeiro ato na primeira visita oficial ao Paraná – a segunda fora Brasília onde reside, desde que chegou ao Brasíl no início de 2020, pouco antes do início da pandemia da Covid. A visita foi encerrada na noite do dia seguinte.

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Na entrevista, Azzarello explicou os temas que iria tratar com as autoridades do terceiro maior parceiro comercial da Itália no Brasil – o Paraná -, entre eles assuntos ligados ao agro negócio, à metalurgia e ao ensino da língua e cultura italiana. Sem privilegiar o Italiano, o embaixador defende o plurilinguismo, como fazem, por exemplo, os franceses.

Acompanhado do cônsul geral Salvatore Di Venezia, o embaixador respondeu a algumas perguntas relacionadas a aspectos comerciais e também à rede consular e à grande demanda de milhares de ítalo-brasileiros pelo reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue. Ele visitou a futura nova sede do Consulado Geral da Itália em Curitiba.

O vídeo que acompanha esta matéria contém a parte introdutória da entrevista. Publicaremos os demais vídeos separados por assunto. Abaixo vai a transcrição do texto da fala inicial do diplomata, na íntegra:

“Eu sou Francesco Azzarello, embaixador. Vocês vão me desculpar, pois meu português não é o melhor, mas eu faço três vezes por semana aula de português, portanto estou empenhado no aprendizado da língua portuguesa.

Eu estou aqui em visita oficial, a primeira visita oficial no Estado do Paraná. Estou aqui com o presidente da Sociedade Italiana Leonardo, que está entre as dez maiores sociedades do mundo no setor civil e militar, é líder em helicóptero civil no mundo e também tem muitas outras coisas. Comigo também está o coronel Francesco Fallica, da Guarda de Finanças, para aumentar a cooperação entre as forças de segurança dos dois países.

Nós estivemos em Minas até ontem, na minha primeira visita fora de Brasília devido à pandemia. Da parte minha, agora tenho três doses de vacina, mais uma dose somente para gripe, o que espero seja suficiente. Eu devo viajar nos Estados onde nós temos grandes interesses locais e que podem conter também aspectos federais.

Nós temos grandes comunidades, vocês sabem muito bem que no Brasil temos mais ou menos 32 milhões de brasileiros de origem italiana, uma comunidade de italianos de passaporte que talvez tenham também a cidadania brasileira e que são 680 mil, mais ou menos e, agora, uma forte comunidade brasileira na Itália que é mais ou menos de 150 mil. Eu digo isso porque a comunidade brasileira na Itália dobrou nos últimos anos. É uma comunidade forte e grande que trabalha muito e muito bem, uma comunidade tranquila, obviamente.

Ao início, digo sempre que o Brasil e a Itália não têm uma forte amizade, uma grande cooperação como normalmente eu queria, como embaixador, para promover as relações bilaterais. Mas os dois países têm uma ligação de sangue forte. E as ligações de sangue – goste-se ou não se goste – estão sempre ali. É a nostra força bilateral. É isso.

O Paraná é um dos estados mais importantes do Brasil para a Itália. Na presença de mais ou menos 70 mil italianos, sociedades italianas e essa complementaridade… O estado do Paraná é a Itália. Para a Itália, o setor agropecuário tem uma escala mais reduzida do Brasil, que é maior e mais rico, mas tem mais ou menos a mesma força, o mesmo peso que no Brasil. E só vou dizer que nós temos muita complementaridade entre o sistema econômico e industrial do agropecuário, além dos outros, do Paraná, que é um Estado que tem um setor agropecuário forte e também industrial.

O intercâmbio comercial entre o Estado do Paraná e a Itália cresceu e continua a crescer. Mas creio que está ainda da potencialidade. Nós temos que trabalhar sempre mais… Nosso cônsul geral deve começar a trabalhar sempre mais para realizar ainda mais.

O Paraná é o terceiro Estado do Brasil no intercâmbio comercial com a Itália depois de São Paulo e Minas. Existe também interesse de cidades italianas em investir no Paraná. Naturalmente, ‘vinca il migliore’, como se diz em italiano – que vença o melhor, no sentido de que existem Estados que incentivam os investimentos, favorecem os investimentos. Eu vou falar disso com o governador (que eu vou ver se se recuperou; em Minas o governador ficou doente quando eu cheguei, aqui é o contrário) … nós vamos falar de potencialidades também no setor de investimentos

Naturalmente a indústria mecânica, você sabe muito bem, em vosso Estado é forte e tem também uma presença italiana.

Turismo. Turismo é uma dor para os dois países, para o Estado e para a Itália, porque os italianos gostam muito do Brasil e os brasileiros, da Itália. E a pandemia aqui no Brasil (em dezembro, no Natal, eu fui a Roma), os dados do Brasil eram verdadeiramente pequenos…. eu esperava que finalmente poderíamos abrir também para o turismo, porque outras possibilidades de entrada na Itália nós temos: para trabalhar, estudar, para questões familiares etc. Mas a ômicron foi um desastre. Na Europa aumentou com muita velocidade. Agora na Itália começa a diminuir. Parece – porque ninguém sabe bem sobre isso – que a ômicron está muito veloz, com grande número de casos mas desce velozmente também. Quando uma pessoa é vacinada (que é a coisa mais importante para a pessoa e para a família, os amigos, os colegas de trabalho, a doença e o vírus), embora o vírus seja sempre perigoso, nós temos uma defesa imunitária que é mais forte. Nós temos de começar a nos habituar como como a nossa vida normal como um vírus de ter cara de viver normalmente.

Temos um acordo entre o Estado do Paraná e a Região da Emília-Romagna que vai terminar no ano 2024, mas estamos trabalhando na Itália – e eu acho também aqui – para dar de novo um conteúdo concreto ao acordo, depois de dois anos de pandemia que tem efeitos sobre a vida normal, nas relações, e vamos também falar disso com o governador. E com o prefeito vamos falar de qualquer outra coisa.

E a língua… normalmente a Europa, os Estados Unidos e o mundo ocidental, são sempre favoráveis ao plurilinguismo. O Inglês é a segunda língua, não se discute. É preciso saber falar e escrever bem o inglês – a língua da internet. Todo mundo fala inglês. Mas, depois temos gente que vai aprender outra língua por preferência pessoal. Outras línguas são úteis para o cérebro, para a flexibilidade no mundo de hoje, e então a Itália é favorável ao plurilinguismo também no Brasil onde, a nível federal, o Inglês é a segunda língua e depois se pode escolher uma outra língua, que pode ser o Espanhol, perfeito, ou o Francês… não somos ciumentos, não temos ciúmes. Tudo bem.

Mas tem uma realidade importante que é a língua italiana. E a língua italiana – são os números que falam, não é o embaixador da Itália que vêm aqui dizer: a língua italiana, blá-blá-blá…. Os números de italianos no Brasil, que são também brasileiros, e os números de brasileiros puros, no sentido de que não têm origens italianas, mas que querem aprender o italiano. Eu vou dizer ao governador e ao prefeito – porque tem questões de nível estadual e também da prefeitura, da municipalidade – que eu gostaria de uma disponibilidade política, de política das línguas que favoreçam o plurilinguísmo. Não somente o italiano mas… os franceses têm uma política muito ativa da língua… Francês, Alemão, Italiano, Espanhol…. certo, porque nós somos um continente onde todo mundo, à exceção do Brasil, fala Espanhol, o que é importante, mas não existe só a América Latina no mundo. O Brasil deve ser protagonista a nível mundial porque o Brasil é um país grande e forte, muito, muito rico que nós gostamos muito.

A última coisa: neste ano, como disso o cônsul geral, temos o centésimo quinquagésimo aniversário da imigração italiana no Estado do Paraná. Salvatore vai organizar toda uma série de eventos durante todo o ano – ele me disse um por semana…. não é verdadeiro, isso não é fácil. Mas vamos celebrar o evento que é muito importante. Não sei se esqueci qualquer coisa…

(…) Uma das coisas mais importantes da minha visita, a prioridade, hoje é encontrar a comunidade italiana e ítalo brasileira. Brasileira vai bem também, não tenho problemas. Mas hoje eu vou encontrar os representantes da comunidade italiana, outra gente que é envolvida na vida da comunidade para saudar e também para escutar. Eu estou aqui para escutar, mais do que que falar. Eu posso tentar responder as perguntas que seriam seguramente muito pontuais da nossa comunidade, mas, no geral, eu devo ver como estão as coisas nos vários Estados, sobretudo nos Estados onde temos grandes comunidades. Basta “grazie”..