Inusitado: Sindicato do corpo diplomático organiza greve contra a política de restrições financeiras do governo italiano. Dinheiro das taxas consulares seria suficiente para cobrir todas as despesas administrativas.

CURITIBA – PR – De uma forma bastante singular e sem a participação de grande número de pessoas, os presidentes dos Comites – Comitês dos Italianos no Exterior entregaram hoje nas sedes dos Consulados Gerais da Itália que operam no Brasil uma cópia do documento final aprovado na Assembléia Continental do CGIE – Conselho Geral dos Italianos no Exterior, realizada recentemente em Buenos Aires. O documento, além de protestar contra o adiamento das eleições dos dois órgãos de representação das comunidades italianas no mundo, condena os cortes orçamentários impostos pelo governo italiano em decorrência de exigências da Comunidade Européia, que afetaram programas de difusão da cultura e da língua italiana em todo o mundo e de assistência social a emigrantes italianos menos favorecidos. A política de austeridade do governo italiano afetou também toda a rede consular e, particularmente no Brasil, deixou inacabados os trabalhos da “task force”- o mutirão da cidadania, idealizado para colocar fim às vergonhosas filas de requerentes da cidadania italiana por direito de sangue. O próprio corpo diplomático italiano está em “pé de guerra” contra a política de restrições orçamentárias.
O protesto, que se iniciou com a participação dos conselheiros do CGIE e presidentes de Comites da América do Sul numa passeata (ver v’ideo) diante do Consulado Geral da Itália em Buenos Aires, faz parte de um plano maior de mobilização permanente contra atos do governo italiano que, segundo os conselheiros do CGIE, prestam-se apenas a desmontar a organização até aqui obtida pelas comunidades italianas no exterior. A proposta de mobilização, entretanto, não está obtendo a adesão de grande número de participantes.
Em lugares como Curitiba, não houve a participação sequer dos conselheiros do Comites que, conforme o comunicado unitário, estariam todos convocados para comparecer nos consulados no mesmo horário das 11 horas. Apenas o presidente do Comites, Gianluca Cantoni, acompanhado do conselheiro do CGIE, Walter Petruzziello, entregaram o documento ao cônsul geral Salvatore Di Venezia, juntando-se a eles, pouco depois, o também conselheiro do Comites Luis Molossi, que à última hora tomou conhecimento do evento através de notícias veiculadas na Internet.
Em São Paulo, logo cedo, o deputado Fabio Porta anunciava que, na condição de vice-presidente do Comitê para os Italianos no  Exterior da Câmara dos Deputados da Itália, estaria presente ao ato realizado na “cidade onde resido” e onde exerce também a função de conselheiro do Comites local. “Quero me unir, como representante do Parlamento – disse Porta em comunicado à imprensa – a essa oportuna e importante manifestação, na esperança que nossas instituições, mas também a sociedade civil e todos os italianos na Itália e no mundo se unam antes que seja tarde demais para defender os direitos conquistados, ajudando, entre outras coisas, o nosso País e não perder definitivamente os laços históricos com a comunidade que não representa apenas um valoroso passado mas também uma extraordinária oportunidade para o crescimento futuro da Itália”.
Como em Curitiba explicou o cônsul Di Venezia, o comportamento dos Cônsules Gerais deverá ser o de encaminhar a documentação recebida às autoridades competentes. O próprio corpo diplomático italiano, liderado pelo Sindicato Nacional de Funcionários do Ministério das Relações Exterior, está programando ato contra os cortes previstos pela lei do orçamento do governo de Silvio Berlusconi. A política de austeridade acarreta “consequências muito pesadas e não só para a chancelaria”, advertiu o sindicato em uma carta enviada recentemente a Berlusconi, na qual se declarou “pronto para chegar à medida extrema – e rara em nosso caso – da greve, à qual os diplomatas, em Roma como no exterior, adeririam com grande convicção”. Segundo se apurou, a greve estaria convocada para esta sexta-feira. Na mesma carta, o sindicato do corpo diplomático italiano advertia que o orçamento atualmente em discussão (já passou no Senado e está na Câmara dos Deputados) representa mais um golpe contra um serviço no exterior “que já está muito reduzido em seus recursos, com uma relação entre estes e os objetivos fixados completamente irreal”.
Segundo algumas fontes, parte dos problemas financeiros que afetam a estrutura consular italiana poderia ser resolvida caso os recursos obtidos com as “taxas consulares” cobradas por alguns serviços, como emissão de passaportes e vistos, pudessem ser administrados pelos próprios consulados. Tais recursos cobririam folgadamente todas as exigências administrativas, incluindo o aluguel das sedes. O governo italiano, entretanto, não abre mão e tudo o que é arrecadado é remetido a Roma a cada exercício, para fazer parte do grande bolo orçamentário. Para se ter uma ideia, cada passaporte custa hoje R$ 189,00 e a cada ano é cobrado um selo cujo valor que equivale a R$ 92,00.

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O conselheiro do CGIE Walter Petruzzielo,o Cônsul Geral da Itália em Curitiba, Salvatore di Venezia, o presidente do Comites PR/SC, Gianluca Cantoni e o conselheiro do mesmo Comites, Luis Molossi. (Foto Desiderio Peron / Insieme)