Em 05/07/2016) o então presidente em exercício Michel Temer recebeu uma delegação de ítalo-brasileiros chegiada pela deputada Renata Bueno. (Foto de Beto Barata/PR)

Nossa manifestação do último dia 12 de outubro foi um absoluto sucesso! Foi maravilhoso dividir com tantos ítalo-brasileiros a busca de um objetivo: reivindicar melhores serviços consulares. Para nós italianos no exterior, o atendimento dos consulados é uma parte importantíssima da nossa vida civil. É justo que os funcionários consulares sejam bem pagos e que não estejam sobrecarregados por extenuantes cargas de trabalho causadas pela falta de pessoal. Já fui funcionário consular e sei como isso faz diferença no ambiente de trabalho.

Nosso protesto teve efeitos imediatos que se fizeram sentir antes mesmo de que ocorresse a manifestação. Nossa representante Renata Bueno demonstrou ter um “timing” perfeito. Segundo seu próprio relato, no mesmo dia da manifestação conseguiu arranjar uma audiência com o ministro das Relações Exteriores, Angelino Alfano, para levar o descontentamento dos italianos da América do Sul com o serviço prestado pelos consulados. Depois de quase cinco anos apoiando todas as políticas desastrosas do Partido Democrático, finalmente a deputada tomou essa iniciativa.

PATROCINANDO SUA LEITURA

Não podemos, todavia, deixar de indagar se o ânimo principal de tal visita ao ministro tenha sido realmente tratar dos nossos problemas ou se na verdade era um gesto de agradecimento pessoal da deputada pela mudança de última hora na proposta de lei eleitoral que diminuiu de dez a cinco anos o período de incompatibilidade de candidatos que tenham exercido no exterior cargos eletivos, que é justamente o caso de Renata Bueno.

Esse dispositivo é a única coisa que presta na nova eleitoral proposta pelo PD, pois visa a impedir justamente candidaturas como as de Renata Bueno, que no melhor estilo da velha política hereditária se aproveitam de estruturas partidárias brasileiras para se lançar na política da comunidade italiana sem ter a menor afinidade com nosso cotidiano e necessidades. Para quem não sabe ou não lembra, Renata Bueno teve uma apagada passagem como vereadora em Curitiba (2008-2012), e conseguiu em 2013 agarrar uma vaga no Parlamento italiano com o apoio decisivo do partido brasileiro PPS, do qual seu pai é o cacique no Paraná.

Durante cinco anos no Parlamento podemos dizer que Renata foi uma ótima surfista. Ela “surfa” em absolutamente todos os assuntos que lhe garantam holofotes, usando sua intimidade com as altas e carcomidas estruturas de poder em Brasília para aparecer em fotos e entrevistas como uma grande realizadora.

Citamos aqui algumas das melhores ondas surfadas por Renata: extradição de Henrique Pizzolato, assinatura da Convenção da Haia (as famosas apostilas), conversão da carteira de habilitação, a possível abertura de consulados no Espírito Santa e Santa Catarina, extradição de Cesare Battisti e até mesmo a canonização de santos brasileiros, à qual compareceu “a pedido do presidente Temer” segundo suas próprias palavras (a semelhança com o célebre “Truffaldino, servo di due padroni” será mera coincidência?). Em todas essas questões citadas a influência real de Renata foi zero, mas isso pouco importa quando o que interessa é “estar na mídia” catapultada por uma grande e cara máquina de propaganda.

O ambiente político da comunidade italiana na América do Sul mudou muito de 2013 para os dias atuais. Agora estamos de olhos bem atentos, tomem nota. Basta alla vecchia politica!