Falar de Luigi Bauducco, que nos deixou neste mês de setembro, aos 88 anos, significa para mim uma dupla imersão: a primeira tem a ver com minha infância e a segunda com italianidade. Nos tempos de criança, os Bauducco fizeram parte do meu imaginário durante vários Natais. E com certeza, a família Bauducco está presente em tantas histórias natalícias de inúmeros lares brasileiros.
No meu caso, a imagem ainda é viva e nítida na memória. Terminada a ceia, eu iniciava meu ritual seguindo os ensinamentos da mamma e do babbo: colocar uma toalha na mesa de centro da sala de visita; preparar um prato de fina porcelana europeia com nozes, castanhas e uma bela fatia de panettone Bauducco, o preferido da italianíssima família Trombetti Fiora, afinal, durante a madrugada do 25 de setembro, Papai Noel passaria na nossa casa para deixar presentes ao pé da árvore de Natal.
E como todo Noel que se preze, e o meu eu tinha certeza que era especial, não abre mão de um copo de vinho, o último detalhe, o toque final na mesinha da sala era deixar ali uma taça para que o Bom Velhinho pudesse saborear devidamente sua singela “ceia”.
Cumprido o ritual, eu ia dormir, sonhando com o amanhecer e com os presentes a serem desembrulhados. E assim, durante vários Natais, logo cedinho eu corria para a sala de vista e já encontrava a mesinha com os sinais da passagem de Noel: as cascas das nozes e castanhas, algumas passas do panettone Bauducco e a taça de vinho vazia. Na sala de jantar, a árvore piscante estava rodeada de pacotes. Babbo e mamma, então, separavam aqueles que Noel tinha deixado para mim. E o “bambino” Eduardo , pulando no colo dos pais, nem sabia o que fazer tamanha a alegria daquelas manhãs mágicas.
Deveria ter escrito essa memória muito tempo atrás, na década de 1980, quando tive a oportunidade de conhecer e entrevistar várias vezes “il signore” Luigi para matérias do jornal ítalo-brasileiro, Il Corriere. Sim, deveria ter escrito, entregando-lhe pessoalmente o exemplar do jornal, assinando uma dedicatória na coluna Brava Gente, que eu escrevia no Il Corriere.
Mas o tempo não volta. Apenas guarda lembranças e legados como os Bauducco. Carlo o imigrante “torinese”, fundador de uma marca que se enraizou e deu frutos no Brasil, e o seu filho Lugi, responsável pela consolidação da empresa, nos deixaram exemplo de italianidade e empreendedorismo. Essa história é narrada no site da Bauducco. Vale a pena ler esse legado de uma brava gente.
Um relato da história de Luigi Bauducco pode também ser vista aqui.