Walter Petruzziello, presidente do Intercomites Brasil (Foto Desiderio Peron / Arquivo Revista Insieme)

A baixa participação dos eleitores da Circunscrição Eleitoral do Exterior e a prevalência do ‘Sim” expressada através do Referendum Constitucional, que derrotou o governo do premier Matteo Renzi, podem “ motivar àqueles que são contra o voto no exterior a retomada do discurso pela extinção de nossa participação”. Esta é a preocupação e o temor do advogado Walter Petruzziello, presidente do Comites – Comitato degli Italiani all’Estero para o Paraná e Santa Catarina e presidente do Intercomites do Brasil.

O advogado, que por dois mandatos foi delegado do Brasil no CGIE – Consiglio Generale degli Italiani all’Estero, observa que “agora precisamos da união de todos os italianos no exterior para defender nossa representatividade e encontrar algum modo para incentivar a maior participação de nossos eleitores”. Na reforma, segundo ele, “existiam pontos positivos” mas o “grande erro foi colocar todos os itens em um único quesito”.

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Petruzziello, que foi candidato ao Senado nas últimas eleições de 2013,  acha que é cedo para se falar em candidaturas numa eventual dissolução do Parlamento italiano, já que Renzi anunciou sua demissão, mas de maneira bastante clara admite uma candidatura: “para quem foi candidato em todas as eleições, desde a introdução do voto no exterior, não é fácil desistir dessa participação”.

Ainda segundo Petruzziello, apesar do ‘Sim’ ter prevalecido entre nós, o fato de nossos parlamentares estarem todos alinhados com Renzi, que perdeu, leva a entender que eles “também tenham sido derrotados pelo povo italiano” e cabe uma “avaliação do que isso representa”, a começar pela repetição dos baixos percentuais de participação. Confirma a entrevista concedida com exclusividade à redação de Insieme:

O ‘Não’ se impôs no Referendum. Melhor para a Itália?

Eu não diria que o resultado é melhor ou pior para a Itália, mas temos que avaliar que a maioria absoluta da população não aceitou as reformas. Acredito que o grande perdedor foi o governo Renzi, mas não porque seu governo era bom ou ruim, mas porque decidiu colocar o referendum como uma coisa pessoal (se vencer o ‘Não’, vou embora, disse ele). Na reforma existiam pontos positivos mas, no meu entender, o grande erro foi colocar todos os itens em um único quesito.

Para os italianos no exterior, o que significa este resultado?

Podemos analisar por dois aspectos diferentes: primeiro significa a manutenção de nossos representantes eleitos no Senado; segundo, a baixa participação, 25,44% na América Meridional, e 28,58% no Brasil, aliado à vitória do ‘Sim’, podem motivar àqueles que são contra o voto no exterior a retomada do discurso pela extinção de nossa participação.

Como interpreta a participação dos eleitores no exterior, especialmente os do Brasil?

Infelizmente, a participação foi muito baixa e o voto é orientado pelos nossos representantes eleitos, tanto no Parlamento quanto nas Entidades representativas, como Comites e CGIE, pois a maioria das pessoas não sabe a razão de estar votando. Eu diria que a participação ao voto é mais motivada por um empenho destes representantes do que a manifestação voluntária do eleitor.

Durante a campanha falou-se que, prevalecendo o Não, teríamos problemas no exterior, tais como o fim do direito de voto, continuidade das filas e coisas do gênero. Acredita em castigos?

Como manifestei acima, isso pode ocorrer, mas precisamos ficar atentos. Precisamos também ver como será formado o novo governo e se teremos eleições antecipadas.

Como analisar a representação parlamentar na área da América do Sul e do Brasil, toda ela vinculada ao Sim? Falta de sintonia com o grande eleitorado italiano?

Eu não diria que foi falta de sintonia com o grande eleitorado italiano, mas um empenho de partido, pois nossos representantes estavam todos alinhados com o governo Renzi. Embora o ‘Sim’ tenha vencido em nossa Circusncrição eleitoral, acredito que nossos parlamentares, assim como Renzi, também tenham sido derrotados pelo povo italiano. Caberá a cada um fazer a avaliação do que isso representa.

Aposta na antecipação de eleições? Seria candidato e a quê?

Pelo que tenho ouvido e pela experiência acredito que tenhamos eleições antecipadas, porém, isso só deverá ocorrer após a aprovação de uma nova lei eleitoral, pois a reforma apresentada no referendum não contemplava eleições para o Senado. Ainda é cedo para manifestar candidatura, mas para quem foi candidato em todas as eleições, desde a introdução do voto no exterior, não é fácil desistir dessa participação.

Outras considerações que queira fazer.

Temos que respeitar o resultado, o que foi decidido democraticamente pelos italianos, e Renzi reconheceu isso. Agora precisamos da união de todos os italianos no exterior para defender nossa representatividade e encontrar algum modo para incentivar a maior participação de nossos eleitores. Só no Brasil temos 325. 555 eleitores e não conseguimos fazer com que um número consistente vote. Isso precisa mudar, talvez até mudando o modo de votação, mas a verdade é precisamos fazer algo diferentes, pois, em três eleições e dois referendos, a participação foi sempre aquém do que deveria ser. Até hoje tem gente recebendo os envelopes eleitorais e, com certeza, milhares de envelopes chegarão aos consulados após a data limite.