Enquanto continua aumentando o número de mortos e carros do exército italiano são requisitados para o transporte de caixões com vítimas da pandemia do coronavírus Covid-19 a serem cremadas em cidades vizinhas devido ao colapso do sistema funerário em seus locais de residência, a opinião pública peninsular começa a se irritar com duas questões: as medidas adotadas pelo governo e a possibilidade real de um surto bem maior de vítimas no sul da bota, para onde migrou recentemente, fugindo da peste, grande número de pessoas que trabalhavam no norte.

A análise é de Cláudio Piacentini que – como fez dias anteriores –, através de vídeo-entrevista, traça um relato sobre aspectos do dia vivido hoje na Itália, onde a curva de infectados e de vítimas fatais continua subindo: os dados oficiais do serviço de Proteção Civil desta quarta-feira (dia 19/03) falavam de 3.405 mortos até as 17 horas (horário italiano) – número maior que o total de mortos verificados na China – e 41.035 infectados.

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Neste quarto relato que intitulamos “Italia – tutto andrà bene”, o tradutor da Revista Insieme não demonstra a discreta vivacidade de dias anteriores e diz claramente que “após um dia como hoje, o lado emocional nosso é um pouco menos alegre e menos confiante que ontem, apesar de ontem ter sido um dia dramático”. Ele se refere às “centenas e centenas de mortos que temos que contar todos os dias” e “às imagens que chegaram de Bérgamo – onde as funerárias e os cemitérios não conseguem atender todos os falecimentos – que tocaram a Itália inteira”.

A Região da Lombardia, disse ele, secundada pelo Vêneto e Emília-Romagna, atualmente está pagando um “preço altíssimo” nessa pandemia. A situação, segundo ele, “é a de um túnel, uma galeria, através da qual estamos vendo a luz muito, muito longe”.

A irritação da opinião pública, segundo Piacentini, está centrada nas críticas contra o governo, que não está agindo com o rigor devido para impor o cumprimento das medidas de distanciamento social que demoraram por vir, deixando acontecer inclusive a migração de milhares de trabalhadores do Norte para o Sul, exatamente no momento em que as medidas mais duras vinham sendo tomadas.

No Sul, a estrutura médico-hospitalar é bem mais fraca que no Norte, e já existem evidências de contaminação crescente no Sul, que podem ser o prenúncio de uma catástrofe bem maior. O grande temor – segundo Piacentini – é que essa fuga de milhares de trabalhadores do Norte, no exato momento em que a área estava sendo atacada pela virose, pode ter contribuído para apressar ou intensificar a disseminação do coronavírus no Sul.

O governo “infelizmente está aguardando que os números no Sul aos poucos irão aumentar e este seria o próximo grande outro problema”, pois, além disso, “a máquina pública da saúde no Sul terá um pouco mais de dificuldades para enfrentar o problema”.

Segundo Piacentini, o fato de que parte da sociedade italiana ainda não tenha acatado a orientação de isolamento social (“somos uma democracia, o italiano é um povo indisciplinado e não é fácil impor isso a ele”), está fazendo surgir nos meios de comunicação a manifestação de fontes governamentais que indicam para, nos próximos dias, um novo aperto nas medidas.

Existem, segundo Piacentini, “altas chances de que o exército será colocado nas ruas para que a ordem de ficar em casa seja respeitada ainda mais”. Ele conclui observando que a única forma de conter essa pandemia é as pessoas ficarem em casa. “E se isso não acontecer, o problema poderá se alongar ainda mais no tempo, e isso não nos podemos permitir”.